O Reino Unido vai liderar uma missão espacial para fazer uma medida absoluta da luz refletida na superfície da Terra.
As informações serão usadas para calibrar as observações de outros satélites, permitindo que seus dados sejam comparados com mais facilidade.
Os planos para desenvolvimento da nova sonda, chamada de Truths, foram aprovados em novembro pelos países da Agência Espacial Europeia (Esa, na sigla em inglês).
O objetivo é que os dados ajudem a reduzir a incerteza nas projeções de futuras mudanças climáticas.
Cientistas e engenheiros se reuniram na terça-feira (22/01) para começar o processo. Representantes da indústria do Reino Unido, Suíça, Grécia, República Tcheca e Romênia se reuniram no centro técnico da Esa, na Inglaterra.
A fase inicial do projeto conta com financiamento de 32,4 milhões de euros (R$ 160 milhões). A liderança científica da missão ficará sob responsabilidade do Laboratório Nacional de Física do Reino Unido (NPL, na sigla em inglês).
O NPL é o guardião dos “padrões” no Reino Unido — tem as referências para o quilograma, o metro, o segundo e todas as outras unidades usadas no sistema internacional de medição.
É nesse laboratório que se mede com precisão, por exemplo, a intensidade de uma fonte de luz — algo que pode ser feito usando um dispositivo chamado radiômetro criogênico.
E o objetivo da missão Truths é colocar um instrumento desses em órbita.
Mapa da luz
Trabalhando em conjunto com uma câmera hiperespectral, o radiômetro fará um mapa detalhado da luz solar refletida na superfície da Terra — e de seus desertos, campos de neve, florestas e oceanos.
O mapa deve ter uma qualidade tão boa que é esperado que se torne a referência padrão para todas as outras missões espaciais de imagem, que poderão ajustar e corrigir suas próprias observações.
Isso pode simplificar a comparação das imagens de diferentes satélites, não apenas das missões que voam hoje, mas também daquelas que há muito foram aposentadas e cujos dados agora estão em arquivos.
Um dos grandes objetivos da missão Truths é, ao medir a luz refletida pela Terra com tanta precisão, estabelecer um tipo de “impressão digital climática” que uma versão futura do satélite, 10 a 15 anos depois, pode refazer.
“Ao fazer isso, seremos capazes de detectar mudanças muito antes do nosso sistema de observação atual”, explicou Nigel Fox, professor da NPL.
“Isso nos permitirá limitar e testar os modelos de previsão climática. Portanto, saberemos mais cedo se as temperaturas previstas que os modelos estão nos dando são consistentes ou não com as observações”.
Um grande plano de como implementar a missão Truths deve estar pronto até a próxima grande reunião de pesquisadores dos Estados-membros da Esa, em 2022.
O trabalho de viabilidade também precisará chegar a um custo total para o projeto, provavelmente por volta de 250 a 300 milhões de euros (R$ 1,2 a 1,4 bilhão).
Exceto por obstáculos técnicos, os ministros devem dar sinal verde à missão com um lançamento em 2026.
O Reino Unido deve arcar com a maior parte do custo da implementação da missão.
“O NPL é notável. Tem o ‘tempo padrão’ para o mundo, tem o padrão do metro. Gostamos de pensar em nós mesmos liderando na área de mudanças climáticas, por isso devemos fornecer a referência padrão para radiação da Terra”, disse Beth Greenaway, chefe de observações da Terra e clima da Agência Espacial do Reino Unido.
Truths é um acrônimo, em inglês, para “Radiometria Rastreável de Apoio aos Estudos Terrestres”. Será sensível à luz na parte visível e no infravermelho próximo do espectro eletromagnético.
A Esa concordou recentemente em implementar outra missão liderada pelo Reino Unido chamada Forum, que mapeará a radiação da Terra de forma mais precisa.
Fonte: BBC