Isolado em casa com a família em Nova Lima (MG), João Marcos Rosa publica diariamente nas redes sociais cliques feitos da vida selvagem no quintal.
A natureza sempre fez parte da vida do fotógrafo profissional João Marcos Rosa. As lembranças da infância são carregadas de verde e vida selvagem. E essa criação o levou na juventude a buscar uma profissão em que pudesse trabalhar com essa temática. Se formou em jornalismo e ainda no começo da carreira se lançou na fotografia voltada ao meio ambiente.
“No meu trabalho eu sempre tentei propor histórias e assuntos ligados ao meio ambiente. Eu fui criado no meio do mato sempre me senti em casa na natureza, me sentia fora de casa quando estava na parte urbana”, conta.
Há mais de 20 anos o fotógrafo se dedica em clicar a biodiversidade do nosso Planeta. Centenas de imagens feitas por ele já ilustraram revistas renomadas da vida selvagem no Brasil e também no exterior.
O mineiro já morou em grandes centros como São Paulo e Belo Horizonte, mas há seis anos ele vive com a família em Nova Lima (MG), onde cresceu. Mora em uma área coberta pela Mata Atlântica e é vizinho da Estação Ecológica de Fechos, área que é pressionada pela mineração.
Na mata de casa João encontrou uma oportunidade compartilhar a natureza com outras pessoas que estão confinadas nesse período de isolamento social. Com a chegada da pandemia no Brasil o fotógrafo teve a ideia de criar um diário virtual de quarentena para dividir diariamente o que encontra nos arredores do lar.
“A ideia surgiu de forma natural, eu estava com meu filho no quintal. Aqui tem muita avenca, estava bonita eu fiz uma foto e ele pegou uma e levou para minha esposa, eu logo pensei vou falar desse dia, foi tão legal, tão bom e agradável e então compartilhei o registro e fui escrever sobre isso”, comenta.
O diário também foi inspirado em um trabalho realizado pelo fotógrafo norte-americano Jim Brandenburg que se dedicou por 90 dias a registrar a natureza ao redor da casa em que morava em Minnesota.
“Eu sempre tive na minha cabeça que isso era uma coisa que eu queria fazer, registrar a natureza de casa, mas eu não tinha tempo, sempre viajei muito e vi nesse momento de isolamento social a oportunidade de realizar”, acrescenta.
Borboletas, aves e paisagens compõem o diário virtual do João, mas um dos protagonistas principais é o filho Benjamin Carvalhais Rosa, de seis anos, um pequeno aventureiro apaixonado pela natureza. O fiel companheiro ajuda o pai a encontrar os protagonistas na floresta, como um lagarto papa-vento.
“A gente tinha saído pra ir numa parte do Cerrado, pois eu queria registrar o pôr-do-sol e então o Benjamin avistou esse lagarto. Foi uma situação muito bonita e legal, pois eu nunca tinha visto e pensei: como ele viu aquilo? Ele me ajudou até na hora de fazer a foto, segurou o flash foi muito especial”, conta.
E o Benjamin não precisa nem posar na natureza, essa relação com a vida selvagem já faz parte da vida dele. “Apesar de novo ele aprecia a natureza. Como eu gosto, ele sempre me observou então acabou criando um certo gosto também, mas não é nada forçado, ele realmente gosta. Criança na natureza é igual bicho, ele aprende rápido, desenvolve uma parte motora e física que é bonito de ver. Eu considero um privilégio poder criá-lo como eu fui criado. Claro que a gente tem cautela e sempre está por perto”, explica.
Não existe nenhum planejamento para os cliques do diário virtual, mas o João sempre busca fotografar uma cena ou situação que passe uma mensagem representativa e comovente.
“A ideia é gerar uma reflexão e inspirar as pessoas a se conectarem e perceberem a importância do meio ambiente. Voltar às nossas origens, pois tem muita gente, principalmente as que vivem em centros urbanos, que se esquecem que nós fazemos parte da natureza”, comenta.
Mais do que sensibilidade e beleza, as fotografias feitas pelo João ainda que no quintal de casa são essenciais para despertar novos olhares de admiração e cuidado pelo mundo natural. Os registros mostram também a natureza que resiste mesmo próximo à área que é extremamente afetada pelo homem.
“As pessoas só preservam o que conhecem, então é importante divulgar essa natureza que temos aqui. Precisamos rever algumas posturas e repensar sobre o alto consumo e o que é realmente essencial para nossa vida”, finaliza.
Fonte: G1