Pesquisa publicada na Science cruzou informações de 815 mil propriedades rurais em que há produção de soja ou criação de gado
Um quinto das importações de soja brasileira realizadas pela União Europeia pode ser proveniente de terras desmatadas de forma ilegal, indicou um estudo divulgado nesta quinta-feira, que oferece informações detalhadas sobre a cadeia de suprimentos.
A pesquisa, publicada pela revista Science, também abre caminho para que tanto empresas internacionais quanto autoridades brasileiras identifiquem as áreas agrícolas que violam regras de desmatamento na Amazônia, segundo o coautor do estudo, Raoni Rajão, especialista em meio ambiente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“O Brasil tem os meios para desenvolver um grande sistema de monitoramento liderado pelo governo, capaz de livrar as cadeias de oferta do desmatamento”, disse Rajão. “Antes os meios técnicos não estavam disponíveis, mas agora desenvolvemos esses meios.”
O estudo afirma que um maior monitoramento é especialmente importante, uma vez que o país tem o objetivo de alimentar o mundo.
O Brasil, maior exportador de soja, que até recentemente disputava com os Estados Unidos o posto de maior produtor, está a caminho e deve liderar com folga este mercado até 2029, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira pela FAO e pela OCDE.
No trabalho, Rajão e outros pesquisadores analisaram o desmatamento na Amazônia e no cerrado a partir de 2008, quando entrou em vigor a atual lei florestal, antes da qual agricultores que respeitavam determinadas condições recebiam anistia pelo corte prévio de árvores.
A equipe também descobriu que 17% das exportações de carne bovina do Brasil para a Europa estão relacionadas ao desmatamento.
No entanto, há apenas algumas poucas “maçãs podres” nas cadeias de oferta de carnes e soja, com apenas 2% das fazendas causando 62% do desmatamento ilegal na área analisada.
O estudo não especificou as empresas ou fazendas implicadas nas atividades de desmatamento.
O trabalho considerou apenas as exportações brasileiras para a União Europeia, que recebeu 16% dos embarques de soja e farelo de soja do país em 2019.
Rajão disse que os pesquisadores focaram na UE em parte por causa de um recente acordo comercial do bloco europeu com o Mercosul — que, se ratificado, ampliaria o comércio agrícolas nas duas vias.
Fonte: Exame