Ameba ‘comedora de cérebros’: o que levou autoridades do Texas a emitirem alerta

"A Naegleria fowleri então viaja pelo nariz até o cérebro, onde destrói o tecido cerebral", diz a agência.

Ameba Naegleria fowleri foi associada a morte de criança nos EUA – SCIENCE PHOTO LIBRARY

A morte de um menino de seis anos vítima de Naegleria fowleri, uma ameba apelidada de “comedora de cérebros” por provocar uma infecção rara e fatal, desencadeou uma investigação e um alerta das autoridades no Estado americano do Texas.

Análises feitas após o caso indicam que a água que abastece Lake Jackson, cidade de pouco mais de 27 mil habitantes onde o menino Josiah McIntyre morava com a família, está contaminada pela ameba.

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A descoberta levou o governador texano, Greg Abbott, a emitir neste domingo (27/9) uma declaração de desastre no condado de Brazoria, do qual Lake Jackson faz parte.

Autoridades locais e de cidades próximas também emitiram um alerta para que a população ferva a água antes de consumir, enquanto funcionários trabalham para desinfectar o sistema de abastecimento.

“Peço aos texanos em Lake Jackson que sigam as orientações das autoridades locais e tomem as precauções apropriadas para proteger sua saúde e segurança enquanto trabalhamos para restaurar água encanada segura para a comunidade”, disse Abbott.

No fim de semana, autoridades chegaram a emitir uma recomendação para que os residentes de oito cidades no condado não usassem água da torneira para beber ou cozinhar. Essa ordem foi levantada na segunda-feira, mas segue em vigor a orientação de ferver a água antes de consumir.

Água pelo nariz

Equipes da Comissão de Qualidade Ambiental do Texas (TCEQ), a agência ambiental do Estado, estão analisando amostras de água em Lake Jackson – DIVULGAÇÃO/TCEQ

Em entrevista à imprensa local, a mãe de Josiah, Maria Castillo, disse que o filho era um menino ativo e amoroso que adorava beisebol. Ele morreu no último dia 8, vítima de uma doença chamada meningoencefalite amebiana primária (MAP), causada pela Naegleria fowleri.

De acordo com o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde), a Naegleria fowleri costuma ser encontrada em lagos e rios e pode entrar no corpo pelo nariz.

“A Naegleria fowleri então viaja pelo nariz até o cérebro, onde destrói o tecido cerebral”, diz a agência.

Especialistas em saúde ressaltam que não há risco de contaminação ao beber água, mas somente se a água entrar pelo nariz. Segundo autoridades locais, a família de Josiah suspeita que ele tenha sido exposto ao brincar em um chafariz no centro cívico da cidade ou em uma torneira do lado de fora de sua casa.

Resultados preliminares de análises feitas por técnicos locais e estaduais e por agentes do CDC, divulgados na última sexta-feira (25/09), revelaram que, de 11 amostras testadas, três tiveram resultado positivo. Uma delas foi coletada em uma torneira na casa da família.

Com a confirmação da presença da ameba na água da cidade, o chafariz que Josiah havia frequentado foi fechado, crianças foram proibidas de brincar com sprinklers, mangueiras ou qualquer brinquedo que possa esguichar água, e a população foi orientada a evitar que água entre no nariz. Os moradores também foram aconselhados a deixar a água correndo por cinco minutos antes do banho.

Brian McGovern, porta-voz da Comissão de Qualidade Ambiental do Texas (TCEQ, na sigla em inglês), a agência ambiental do Estado, disse à BBC News Brasil que seus técnicos continuam trabalhando para desinfectar o sistema de água.

Autoridades locais distribuíram água em caixas à população e, segundo relatos da imprensa local, os moradores da cidade correram aos supermercados para estocar garrafas d’água.

Doença rara e extremamente fatal

De acordo com o CDC, a Naegleria fowleri gosta de água doce de temperatura alta e costuma estar presente em rios e lagos. A infecção costuma ocorrer quando uma pessoa está nadando ou mergulhando em lagos e rios e a água contaminada entra pelo nariz.

Casos de infecção por água da torneira ou em piscinas contaminadas (em que não houve uso apropriado de cloro) são considerados muito raros. Também há casos em que a infecção ocorre após a irrigação do nariz, usada em algumas práticas religiosas, com água contaminada.

O CDC afirma que, apesar de a ocorrência da Naegleria fowleri ser comum em lagos e rios, a infecção de humanos é rara. Mas, uma vez infectada, uma pessoa tem poucas chances de sobrevivência.

De 145 casos registrados nos Estados Unidos entre 1962 e 2018, somente quatro pessoas sobreviveram. Em julho deste ano, um menino de 13 anos morreu após ser infectado na Flórida.

Segundo o CDC, os sintomas iniciais podem ser parecidos com o de meningite bacteriana e incluem dor de cabeça, febre, náuseas e vômito.

“Após o início dos sintomas, a doença progride rapidamente e geralmente causa a morte em cerca de cinco dias”, diz o CDC.

Fonte: BBC