Uma parte maior do que se pensava da Amazônia pode estar prestes a ultrapassar o chamado tipping point, quando a área perdida de um bioma não pode mais ser recuperada. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadores da Suécia, da Holanda e da Alemanha publicado nesta segunda-feira (5) no periódico Nature Communications.
Os autores explicam que florestas tropicais, como a amazônica, são muito sensíveis a mudanças na frequência das chuvas: períodos secos prolongados podem levar esses biomas a se transformarem em uma savana. “Em cerca de 40% da Amazônia, a chuva está num nível em que a floresta poderia existir nos dois estados — floresta tropical ou savana”, comenta Arie Staal, líder da investigação, em nota. E as previsões não são animadoras: as emissões de gases de efeito estufa indicam que a situação das chuvas no território amazônico pode piorar.
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Para conduzir a pesquisa, os cientistas analisaram a estabilidade de florestas tropicais nas Américas, na África, na Ásia e na Oceania. Eles utilizaram dados atmosféricos recentes e modelos de teleconexão para simular o que aconteceria se esses biomas desaparecessem: cresceriam de novo? E se conseguissem se recuperar, qual seria o cenário para o planeta?
“A dinâmica das florestas tropicais é interessante. Enquanto elas crescem e se espalham por uma região isso afeta a chuva — essas florestas criam sua própria chuva porque as folhas evaporam água, que cai como chuva depois. Chuva significa menos fogo, que leva a mais florestas. Nossas simulações captaram essa dinâmica”, relata Staal.
Em um dos cenários, os especialistas investigaram o que aconteceria se essas florestas cobrissem toda as áreas tropicais do planeta. Nesse caso, houve uma instabilidade, porque em muitos lugares não há chuva suficiente para manter o bioma. Nesses locais, a área florestal diminuiria novamente, segundo as análises. “Conforme a floresta encolhe, temos menos chuva e isso causa mais seca, que leva a mais fogo e mais perda do bioma: um ciclo vicioso”, explica o líder do estudo.
Outro cenário analisado foi o que acontecerá se as emissões continuarem aumentando ao longo do século. O resultado: mais áreas da Amazônia perdem sua resiliência natural, tornam-se instáveis e, portanto, propensas a secar e se tornar um ecossistema como a savana.
Outras áreas dos trópicos
Analisando as florestas tropicais no Congo, os pesquisadores observaram que elas estão em risco em todas as áreas do bioma — e não cresceriam de volta se fossem destruídas. “Nós entendemos que as florestas tropicais em todos os continentes são muito sensíveis às mudanças globais e podem perder rapidamente sua habilidade de se adaptar”, diz Ingo Fetzer, do Centro de Resiliência de Estocolmo, na Suécia. “Uma vez perdidas, sua recuperação vai levar muitas décadas para retornar ao estado original. E considerando que as florestas tropicais abrigam a maioria das espécies, elas seriam perdidas para sempre.”
Na Indonésia e na Malásia, as florestas tropicais são mais estáveis, de acordo com o trabalho. Isso porque a chuva nessas regiões é mais dependente do oceano do que da evaporação pelas folhas das árvores.
Fonte: Galileu