Lia Kajiki: bióloga investiga comportamento do soldadinho do Cerrado

Exploradora da National Geographic e doutoranda da Universidade de Brasília fala sobre as "extravagâncias" da ave brasileira e a importância de preservar o meio ambiente.

Lia Kajiki: bióloga quer entender comportamento do soldadinho do Cerrado. À direita, um macho da espécie Antilophia galeata (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)

Encantada pelo canto dos pássaros desde pequena, a bióloga Lia Kajiki tem dedicado sua carreira científica à preservação e estudo de aves brasileiras. Com o doutorado em andamento no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), a ornitóloga busca entender a evolução da sociabilidade, das redes sociais e da seleção sexual em pássaros — em especial o soldadinho (Antilophia galeata), espécie comum na região do Cerrado.

“Ela ocorre em qualquer mata de galeria um pouco mais conservada que percorra os rios”, afirma Kajiki. Os primeiros estudos sobre os soldadinhos datam da década de 1980 e ressaltam algumas peculiaridades da espécie, que apresenta uma série de comportamentos e características “extravagantes”. Suas cores vibrantes e o fato de apresentarem dimorfismo sexual, ou seja, machos e fêmeas têm penugens diferentes, são alguns exemplos do porquê essa espécie fascina tanto os cientistas.

Leia também:

Além disso, seu comportamento sexual também é emblemático. Embora a maioria das aves realiza um display de corte — como é chamada a “dança” realizada por machos para atrair parceiras —, os primeiros estudos sobre os soldadinhos não mencionam qualquer ritual de acasalamento. O que Kajiki têm tentado descobrir em sua pesquisa de doutorado é se o pássaro do Cerrado realmente não apresenta um display ou se sua forma de impressionar as fêmeas é tão diferente que, à primeira vista, não seria percebida como uma “dança do acasalamento” por biólogos. Ao que tudo indica, a segunda opção é a mais provável.

“Em campo, já observei muitas vezes os machos fazendo uma espécie de perseguição entre eles. Outros pesquisadores já relataram terem observado o mesmo comportamento ou até mesmo testemunharam um macho matando o outro”, diz Kajiki. Esse comportamento competitivo sugere que a espécie acasale em lek, isto é, com a reunião e disputa de machos pelas fêmeas — e não em um clima de cooperação, como ocorre com outras aves.

Outro ponto incomum no display de corte dos soldadinhos é a grande área em que ele parece ser realizado. Em geral, quando aves machos estão à procura de uma parceira, eles escolhem uma pequena área, de um a dois metros quadrados, onde passam horas exibindo uma dança que atrairá o máximo de fêmeas possível. “Já no caso do soldadinho, parece que o display de corte ocorre em uma área muito maior e a uma altura de 4 a 5 metros, o que dificulta a observação por especialistas”, afirma a bióloga.

Em seu doutorado, Kajiki também analisará a paternidade das ninhadas para descobrir se a espécie é monogâmica ou poligínica, ou seja, se os machos copulam com apenas uma parceira ou com várias.

Em defesa da natureza

Além de pesquisadora, Kajiki é consultora ambiental e exploradora da National Geographic. Como defensora do meio ambiente, ela ressalta a urgência em discutir formas de preservar biomas e combater as mudanças climáticas, tal como ativistas como Greta Thunberg têm feito nos últimos anos. “Eu acho que o fenômeno Greta demorou para aparecer. Além do valor do próprio discurso — que ela faz de forma veemente, verdadeira e autêntica —, é importante que a sociedade veja e ouça alguém como ela, uma jovem, falando sobre isso”, diz. “Acho que isso motiva muito as pessoas a lutarem como ela luta. A preocupação dela é muito autêntica e não há o que a segure.”

Para levar essa discussão à frente, a National Geographic preparou uma programação especial para o Dia Mundial Contra a Mudança Climática, celebrado neste sábado (24). A partir das 21h, o documentário Greta: o futuro é hoje será exibido pelo canal, contando a trajetória da adolescente sueca na luta em prol do meio ambiente. Às 21h45, estreia Mares Intocados: O Poder da Proteção, que mostra a atuação do projeto Pristine Seas, criado em 2008 pelo Explorador da National Geographic Enric Sala com o propósito de proteger os últimos lugares selvagens dos oceanos.

Por fim, o documentário Ártico Ameaçado vai ao ar às 22h30 e revela a luta das comunidades inuítes para proteger o Ártico, seu lar por séculos que agora está desaparecendo rapidamente.

Fonte: Galileu