Futuras pandemias deverão ser mais frequentes, matar mais pessoas que a covid-19 e causar danos ainda piores à economia global se não houver uma mudança fundamental na forma como os seres humanos tratam a natureza em todo o mundo.
O alerta foi feito pelo painel de biodiversidade das Nações Unidas em um relatório publicado nesta quinta-feira (29/10). Segundo o documento, prevenir a eclosão de uma pandemia pode custar mais de 100 vezes menos do que combater seus efeitos mortais e econômicos.
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No relatório, a chamada Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas em Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES), organização criada pela ONU, defende o fim da destruição de áreas florestais e menos consumo de carne pela população, a fim de reduzir o contato com animais que carregam vírus e bactérias capazes de infectar humanos.
O painel estima que haja na natureza 1,7 milhão de vírus desconhecidos pela ciência, dos quais entre 540 mil e 850 mil existem em animais e têm capacidade potencial de infectar pessoas da mesma forma que o coronavírus Sars-Cov-2. Por conta disso, afirma o documento, pandemias representam uma “ameaça existencial” para a humanidade.
“Não há um grande mistério sobre a causa da pandemia de covid-19 – ou qualquer pandemia moderna”, disse Peter Daszak, presidente da ONG EcoHealth Alliance e um dos especialistas responsáveis pela elaboração do relatório da IPBES.
“As mesmas atividades humanas que impulsionam a mudança climática e a perda da biodiversidade também geram o risco de pandemias, por meio de seus impactos em nossa agricultura.”
O painel observa que a covid-19 foi a sexta pandemia a atingir o mundo desde a gripe espanhola, em 1918. Todas elas foram originadas por micróbios presentes em animais e “inteiramente impulsionadas pela atividade humana”, diz o órgão.
Isso inclui a exploração insustentável do meio ambiente por meio do desmatamento, expansão agrícola, além do comércio e consumo de animais selvagens. Esses fatores colocam os humanos em contato cada vez mais próximo com animais selvagens e animais criados para pecuária, bem como com as doenças que eles carregam.
Cerca de 70% das doenças emergentes, como ebola, zika e aids, são de origem zoonótica, ou seja, circulam em animais antes de chegarem às pessoas. A cada ano, cerca de cinco novas doenças surgem entre os humanos, e qualquer uma delas tem potencial para se tornar uma pandemia, alertou a plataforma das Nações Unidas.
A IPBES afirmou ainda que mais de três quartos das terras do planeta já foram gravemente degradados pela atividade humana. Além disso, um terço da superfície terrestre e três quartos da água doce do mundo são atualmente tomados pela agricultura, enquanto o uso de recursos da humanidade disparou 80% em apenas três décadas, disse o relatório.
O custo da pandemia
O órgão, que reuniu centenas de cientistas para a realização do documento, teve dificuldade em calcular o custo econômico total da covid-19, mas estima que, até julho de 2020, a crise tenha custado entre 8 e 16 trilhões de dólares ao planeta.
Somente nos Estados Unidos, país com os maiores números absolutos de casos e mortes ligadas à doença, o custo da pandemia pode chegar a 16 trilhões de dólares até o fim de 2021 – isso se houver uma vacina eficaz para controlar o vírus até lá.
Segundo os especialistas, o custo de responder a pandemias existentes é provavelmente mais de 100 vezes mais alto do que prevenir futuras pandemias de eclodirem, por meio do fornecimento de “fortes incentivos econômicos para mudanças transformadoras”.
Para reduzir o risco de pandemias recorrentes, a IPBES sugere uma resposta global coordenada, com os países acertando metas para evitar a perda da biodiversidade, como parte de um pacto internacional semelhante ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
Entre as medidas que poderiam ser adotadas pelos governos, está a imposição de impostos ou taxas sobre o consumo de carne, a produção de gado e outras formas de “atividades de alto risco de pandemias”.
O relatório também sugere uma melhor regulamentação do comércio internacional de animais selvagens, bem como o empoderamento das comunidades indígenas para que elas preservem os habitats naturais.
Ao todo, mais de 44 milhões de pessoas já contraíram o coronavírus no mundo, e 1,17 milhão de pacientes morreram em decorrência da doença.
Fonte: Deutsche Welle