Desde 3 de novembro, 89% da população do Amapá sofre com a precariedade no fornecimento de energia elétrica no estado. O apagão tem gerado transtornos no fornecimento de água e na manutenção de alimentos.
O estado restabeleceu parte da distribuição da energia que, no domingo (8), passou a operar em regime de rodízio –em turnos de 6 horas. No entanto, moradores reclamaram que o fornecimento não se deu pelo tempo prometido. A previsão era que, a partir das 15h desta quinta-feira (12), o fornecimento passasse a ocorrer em turnos de 3 em 3 horas e de 4 em 4 horas.
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Protestos diários na capital e no interior e a suspensão das eleições em Macapá, que seriam neste domingo (15), estão entre as consequências mais recentes da crise.
Entenda, abaixo, as causas e consequências do apagão no AP:
O que causou o apagão?
Na noite de terça-feira, enquanto ocorria uma tempestade em Macapá, uma explosão seguida de incêndio comprometeu os três transformadores na mais importante subestação do estado, que fica na Zona Norte de Macapá.
O fogo danificou um transformador e atingiu os outros dois — um deles já estava inoperante por causa de uma manutenção realizada desde dezembro de 2019. Laudo inicial descarta que raio tenha causado incêndio que provocou apagão.
Só os municípios de Oiapoque, no extremo Norte, e Laranjal do Jari e Vitória do Jari, no extremo Sul, têm energia, pois são alimentados por sistemas isolados.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o transformador que estava em manutenção teve condições de ser recuperado e desde o sábado (7) oferta eletricidade para cerca de 70% dos locais atingidos. Na quarta (11), o ministério anunciou que aumentou o fornecimento de energia para 80%, depois que entrou em operação uma unidade geradora na Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes. Os outros dois transformadores precisarão ser trocados.
Foram horas para combater o incêndio, afirmou o ministro da pasta, Bento Albuquerque, em coletiva de imprensa na quinta-feira (5).
Investigação do apagão
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por monitorar o fornecimento de energia em todo o Brasil, abriu uma investigação com prazo de 30 dias para apurar as causas e responsabilidades.
Também estão sendo feitas investigações no âmbito da Polícia Civil, na Polícia Federal e na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Na quarta-feira, o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou a realização de uma auditoria para apurar possíveis irregularidades e omissões que levaram ao apagão.
Para especialistas, o sistema elétrico do Amapá não tem um plano de segurança ou “backup”.
Quais foram os impactos para a população?
A queda de energia afetou também o sistema hidráulico do estado. Falta água encanada, água mineral e gelo.
A falta de energia impactou, consequentemente, os serviços de internet e de telefonia. A maioria parou de funcionar e mesmo com o retorno parcial da eletricidade, a comunicação ainda segue precária.
Caixas eletrônicos e máquinas de cartão, que precisam de carregamento elétrico, também pararam de funcionar, o que faz com que as pessoas não consigam fazer compras.
Bombas de postos de gasolina também pararam de funcionar sem energia. Com o rodízio, eles operam somente nos horários em que o fornecimento está normalizado. Só ficaram operantes os postos que têm gerador próprio (antes com horário reduzido por causa da pandemia, eles agora podem funcionar 24h).
Por causa de todos esses problemas, moradores fazem protestos contra o apagão no estado desde sexta-feira (6). Segundo balanço da polícia, entre sexta-feira (6) e a madrugada de quinta-feira (12), foram mais de 70 atos contra o apagão.
No primeiro dia de protestos, um adolescente de 13 anos foi atingido no olho por uma bala de borracha e corre o risco de perder a visão. Um dos protestos de terça-feira bloqueou por cerca de 8 horas a BR-210, na Zona Norte de Macapá.
O Ministério de Minas e Energia criou um gabinete de crise e enviou uma comitiva ao Amapá. Na quinta-feira (5), a prefeitura da capital decretou calamidade pública por 30 dias
Na sexta-feira (6), o governador Waldez Góes (PDT) assinou decreto que estabelece situação de emergência em todo o estado por 90 dias. A decisão permite a mobilização de ações voluntárias de assistência social e dispensa de licitação para compra de bens e realização de serviços e obras. É possível adquirir, por exemplo, água potável e mineral, além de alimentos para a população.
Eleições adiadas
O plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou nesta quinta-feira (12) a decisão do presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, que adiou as eleições municipais em Macapá, capital do Amapá.
O primeiro turno em todo o país está previsto para este domingo (15) e, o segundo, para o próximo dia 29. As novas datas do pleito em Macapá não foram definidas, mas a decisão desta quinta estabelece que o processo eleitoral na cidade deverá ocorrer ainda em 2020.
Segundo o TSE, 27 de dezembro, último domingo do ano, é a data-limite para que não haja prorrogação de mandatos atuais, o que é vedado pela Constituição.
Quando a energia vai ser restabelecida?
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse no sábado (7) que pretende restabelecer toda a energia no estado do Amapá até o fim desta semana, que termina dia 14.
Com apoio da Força Aérea Brasileira (FAB) para transporte de equipamentos de fora do estado, o plano apresentado pelo governo federal no início da crise prevê a retomada da energia em 3 etapas:
- recuperação de um dos transformadores queimados, com purificação de óleo e que pode restabelecer cerca de 70% da energia do Amapá ainda nesta sexta-feira;
- mobilizar a logística para Macapá de dois transformadores, de quase 100 toneladas cada, um do município de Laranjal do Jari, e outro de Boa Vista, capital de Roraima;
- e o transporte de 4 geradores de energia, originais do Amazonas, para suprir eventuais necessidades de atividades essenciais durante a recuperação da eletricidade no estado.
Fonte: G1