Circula pela Inglaterra uma nova variante do Sars-CoV-2 que, segundo informações do próprio governo britânico, pode ser até 70% mais contagiosa.
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A rápida disseminação da nova cepa do coronavírus levou à imposição de rígidas medidas restritivas em partes da Inglaterra, Escócia e no País de Gales, assim como à suspensão de voos provenientes do Reino Unido por uma série de países.
Como surgiu a nova variante do coronavírus?
A nova variante do coronavírus é resultado de uma mutação. Tais mudanças no material genético dos vírus são normais e ocorrem com muita frequência. Até o momento, a ciência já detectou cerca de 300 mil mutações no Sars-CoV-2. Com o aumento do número de infectados, aumenta também a probabilidade e a frequência de mutações aleatórias do novo coronavírus.
A nova variante difere-se das outras mutações especialmente na chamada proteína spike (S) do Sars-CoV-2. É justamente por intermédio dessa estrutura semelhante a um espinho em sua superfície que o vírus se prende e invade as células humanas.
“Os coronavírus sofrem mutações o tempo todo e, portanto, não é surpreendente que novas variantes do Sars-CoV-2 estejam aparecendo”, resumiu o especialista em genética e vírus da Universidade de Liverpool, Julian Hiscox. Agora deve ser esclarecido se a variante do vírus “tem propriedades que afetam a saúde humana, diagnósticos e vacinas”.
O vírus que foi detectado pela primeira vez em Wuhan, na China, não é o mesmo que tem se propagado na maioria dos cantos do mundo. A mutação D614G surgiu na Europa em fevereiro e se tornou a forma globalmente dominante do vírus. Outra, chamada A222V, espalhou-se pela Europa e está ligada às férias de verão de turistas na Espanha.
Uma análise inicial da nova variante identificou 17 alterações potencialmente importantes. A mutação denominada N501Y altera a parte mais importante da proteína spike (S), conhecida por ser essencial para a conexão com o receptor nas células humanas. Qualquer alteração que torne mais fácil a invasão pelo vírus deve acelerar o contágio e a propagação da doença.
O número de mutações presentes na nova variante é especialmente alto. A explicação mais provável é que a nova cepa tenha surgido num paciente com sistema imunológico enfraquecido, incapaz de vencer o vírus, e cujo corpo teria se tornado um terreno fértil para o vírus sofrer mutação.
Onde a variante já foi detectada?
No Reino Unido, a nova cepa foi detectada pela primeira vez em setembro. Em novembro, cerca de um quarto dos casos em Londres eram oriundos desta nova variante. Em dezembro, já eram quase dois terços dos casos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a nova variante já foi detectada uma vez na Austrália, uma vez na Holanda e nove meses na Austrália. A Itália também anunciou que detectou um primeiro caso no domingo. O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) também afirmou que casos da nova variante foram reportados na Islândia.
Segundo o virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, a variante do vírus com a mutação N501Y já havia sido detectada esporadicamente há alguns meses – em abril no Brasil; em junho e julho na Austrália; e em julho nos EUA.
A nova variante do coronavírus ainda não foi identificada na Alemanha, segundo o Instituto Robert Koch (RKI), a agência governamental alemã de controle e prevenção de doenças infecciosas. No entanto, o RKI explicou que a presença da nova cepa na Alemanha não pode ser descartada.
Outra variante, conhecida como 501.V2, circula atualmente na África do Sul e, segundo as autoridades de saúde do país, vem impulsionando o número de casos, hospitalizações e mortes por covid-19.
A eficácia de vacinas pode ser comprometida?
No sábado, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que a nova variante pode ser até 70% mais transmissível. Johnson afirmou que isso pode estar aumentando o chamado valor R – que indica se uma epidemia está crescendo ou diminuindo – em 0,4.
A estimativa de 70% de aumento no poder de contágio apareceu na sexta-feira na apresentação do pesquisador Erik Volz, do Imperial College de Londres. Um indício do aumento da transmissibilidade seria a forte alta de infecções e internações hospitalares em Londres e no Sudeste da Inglaterra em comparação com outras partes do país. Mas o RKI ressaltou que podem haver outras explicações plausíveis para o aumento de infecções no sudeste inglês.
De acordo com especialistas britânicos, a boa notícia é que até o momento não há evidências de que a nova variante do coronavírus apresente maior risco de morte aos infectados. Além disso, não há nada que sugira que a nova cepa afete a eficácia das vacinas – mas os estudos para confirmar a tese ainda estão em andamento.
Ao dar luz verde para a vacina da Pfizer-Biontech contra a covid-19, nesta segunda-feira, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também afirmou que não há evidências que sugiram que o imunizantes não funcionará contra a nova variante do coronavírus.
Fonte: Deutsche Welle