Die Tageszeitung – 59 iniciativas para reduzir a proteção ambiental (12/02)
O governo no Brasil aproveitou a distração causada pela pandemia de covid-19 para facilitar o desmatamento de florestas tropicais e remodelar as agências ambientais
Há um vídeo de uma reunião de gabinete do governo brasileiro em abril passado, na qual o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fala sobre como o foco da mídia no coronavírus poderia ser usado para mudar as leis ambientais sem a aprovação do Congresso. O pedido de Salles para “passar a boiada” na Amazônia tornou-se uma metáfora para a política ambiental do governo.
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Agora, pesquisadores examinaram as consequências reais da distração causada pela covid-19 sobre a proteção ambiental. Conclusão: “Temos que assumir que o governo atual está explorando a pandemia de covid-19 para enfraquecer a proteção ambiental no Brasil”. No estudo, publicado na revista Biological Conservation, os autores identificam um total de 59 iniciativas com as quais o governo enfraqueceu ou pretende enfraquecer as diretrizes de proteção ambiental.
Logo no início, o Ministério do Meio Ambiente tentou afrouxar a proteção da Mata Atlântica. Com isso, o desmatamento ilegal em 20 mil quilômetros quadrados de terra poderiam agora ficar impune. Outros 110 mil quilômetros quadrados de vegetação protegida em ilhas e áreas de mangue estão ameaçados de destruição. Após protestos, a iniciativa foi paralisada por enquanto. Entretanto, o presidente Bolsonaro questiona a constitucionalidade da lei de proteção ambiental no Supremo Tribunal Federal. A decisão está pendente.
Além disso, as agências ambientais foram sistematicamente reestruturadas. Os funcionários com experiência técnica ou em política ambiental tiveram que sair, e em muitas áreas protegidas as autoridades agora estão com falta de pessoal ou sem chefia. Funcionários foram demitidos por agirem contra o desmatamento. Em abril, um dos programas de TV mais populares do país exibiu gravações de agentes de proteção ambiental do Ibama realizando operações contra madeireiros e garimpeiros na terra indígena Ituna-Itatá. Dois dias depois, o diretor de proteção ambiental do Ibama e dois funcionários tiveram que deixar seus cargos. Além disso, o governo federal cortou drasticamente os recursos para as autoridades ambientais e restringiu as oportunidades de participação da sociedade civil.
Tagesschau.de – Carnaval ilegal (15/02)
Pela primeira vez desde 1918, os desfiles de sambistas são cancelados no Rio de Janeiro. As festas de Carnaval são proibidas – mas nos subúrbios a tradição dos bate-bolas é mais viva do que nunca.
No Rio, o prefeito Eduardo Paes, ele próprio fanático pelo Carnaval em tempos normais, cancelou todos os eventos e ameaçou controles rígidos: haveria um “jogo de gato e rato” em que a polícia tentaria impedir a aglomeração de pessoas.
E, como Paes temia, foi também o que aconteceu: não na glamorosa Praia de Copacabana, onde todos os desfiles de rua foram cancelados, mas na periferia do Rio, muitos brasileiros resistiram à proibição, provavelmente também porque após um ano difícil de coronavírus se recusavam a aceitar o cancelamento de sua festa mais importante.
Em Nova Iguaçu, principalmente os jovens fantasiados se reuniam em festas clandestinas de Carnaval. Os ingressos eram vendidos na internet. Uma unidade policial, especialmente destacada para festas ilegais, interrompeu o alvoroço úmido e alegre pouco tempo depois. A polícia chegou a dispersar pessoas com gás lacrimogêneo.
O Rio de Janeiro é a cidade brasileira que registrou mais vítimas do coronavírus. Muitas pessoas perderam seus empregos, as escolas públicas estão fechadas desde março. Para muitos no país, o Carnaval parece uma boa oportunidade de esquecer por um momento as preocupações com a pandemia. Especialmente porque muitos têm anticorpos já que o vírus foi capaz de se espalhar quase sem controle, especialmente nos bairros mais pobres do Rio.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – Vacinar em vez de dançar (17/02)
O cancelamento do Carnaval no Brasil atinge muitas indústrias – e a alma do povo.
Para muitos brasileiros, o Carnaval vai além da diversão. É o propósito da vida – também economicamente. As escolas de samba movimentam milhões todos os anos. Tornaram-se uma indústria sustentada por publicidade e patrocinadores e empregam milhares de brasileiros: fornecedores, artesãos, alfaiates, músicos, dançarinos, coreógrafos. Especialmente as escolas de samba menores não podem simplesmente prescindir do Carnaval e agora enfrentam tempos difíceis.
Um dos setores da economia que mais se beneficia com o espetáculo de massa anual é o turismo, e de duas maneiras: por um lado, as cidades costumam ficar lotadas no Carnaval, mas por outro, também há os lugares remotos para onde vão aqueles que querem escapar da agitação. Em todo lugar, no Carnaval se consome três vezes mais do que em tempos normais. É por isso que fevereiro está marcado no calendário dos fabricantes de bebidas, mas também é importante para fornecedores menores. Em 2020, o Carnaval gerou vendas de 1,2 bilhão de euros em todo o país. À medida que se espalha por outras cidades sem tradição carnavalesca, como São Paulo, o espetáculo fica cada vez maior. De acordo com estimativas de associações do setor, a festa foi responsável pela criação de cerca de 25 mil empregos nos últimos dois anos – sem contar os inúmeros vendedores ambulantes.
A tarefa agora é limitar os danos. Os mais atingidos são os funcionários das escolas de samba e outras instituições culturais que viabilizam a festa e vivem exclusivamente dela. Embora o cancelamento já fosse previsível neste ano, a administração pública estava mal preparada para ele. Agora, no último momento, algumas cidades estão tentando dar um apoio à indústria carnavalesca. O município do Rio de Janeiro planeja a atribuição de prêmios no valor de várias centenas de milhares de euros a trabalhadores culturais do setor carnavalesco. Também é prevista uma assistência social especial para os funcionários das escolas de samba, que será cofinanciada pela associação de turismo local.
Fonte: Deutsche Welle