Há um grupo de partículas de poluição que, embora sejam menores do que a largura de fio de cabelo humano, conseguem ultrapassar as barreiras respiratórias contra substâncias nocivas. Estamos falando das partículas ultrafinas (UFP), que medem 100 nanômetros ou menos. Segundo um estudo publicado em maio no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, filhos de gestantes altamente expostas às UFP têm maior risco desenvolver asma até os 6 anos de idade.
Conduzida por especialistas do Sistema de Saúde Mount Sinai, rede hospitalar da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, a pesquisa acompanhou 376 mães e seus filhos, desde a gravidez até os primeiros anos de vida das crianças. Negras (37,8%) e hispânicas (52,9%) em sua maioria, as mulheres viviam na região metropolitana de Boston, a cidade mais populosa do estado norte-americano de Massachusetts.
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Ali, muitas das gestantes residiam próximas às estradas com maior densidade de tráfego da região, onde a exposição às partículas ultrafinas costuma ser maior, já que elas são emitidas principalmente por automóveis. Em parceria com a Universidade de Tufts, os pesquisadores conseguiram fornecer estimativas diárias válidas do quanto essas mulheres estavam expostas às UFPs, considerando a área de habitação de cada uma delas.
Os resultados mostraram que, enquanto a taxa geral de crianças nos Estados Unidos com asma é de 7%, cerca de 18% dos filhos das grávidas avaliadas pela pesquisa desenvolveram a doença crônica em seus anos pré-escolares — a maioria logo após os 3 anos de idade. O estudo também revela que, em comparação com os garotos, as meninas se mostraram mais sensíveis aos efeitos da poluição quando expostas às partículas no final da gestação.
Embora análises anteriores já apontassem para o risco de asma associada à exposição pré-natal a outros tipos de poluentes — como as partículas maiores ou gasosas, a exemplo do dióxido de nitrogênio (N2) —, é a primeira vez que uma investigação detecta esse risco no caso das UFPs. A ação da poluição no útero ainda não é plenamente compreendida por cientistas, mas já se sabe que o processo pode alterar sistemas reguladores do bebê, como o neuroendócrino e o imunológico, levando a possíveis distúrbios na saúde respiratória infantil.
De acordo com os pesquisadores, esses resultados alertam para a importância do monitoramento da exposição a partículas ultrafinas nos Estados Unidos, atividade que, devido às dificuldades técnicas de vigilância, ainda não está em vigor no país (e nem na maior parte do mundo). “À medida que avançamos nos métodos de medição dessas partículas minúsculas, esperamos a replicação dessas descobertas tanto em diferentes áreas geográficas dos Estados Unidos quanto globalmente”, prevê Rosalind Wright, líder do estudo, em comunicado.
“A asma infantil continua sendo uma epidemia global que provavelmente aumentará com o crescimento previsto na exposição a partículas de poluição do ar devido aos efeitos das mudanças climáticas“, avalia Wright.
Fonte: Galileu