De acordo com o banco de dados Emissions Database for Global Atmospheric Research (Edgar), da União Europeia, a China e os Estados Unidos são os maiores emissores de CO2 no mundo. Diante disso, muitas pessoas se perguntam se faz alguma diferença tomar iniciativas individuais para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Quando se trata da contribuição pessoal para a proteção climática, é útil comparar as emissões de CO2 per capita. Neste ranking, os Estados Unidos estavam muito à frente em 2019, com 15,52 toneladas per capita. Na China, esse valor foi de 8,12 toneladas, na Alemanha, de 8,5 toneladas, e no Brasil, 2,25 toneladas. A média global é de pouco menos de 5 toneladas.
Esta tendência também se reflete na chamada pegada ecológica por pessoa. Esta unidade de medida é usada para calcular de quanto terreno uma pessoa precisa para cobrir suas necessidades de recursos.
Os critérios incluem a origem e o tipo de alimento consumido, a mobilidade e as condições de produção dos bens de consumo. Nos EUA, a média é de 8 hectares globais por habitante, na Alemanha 4,7 hectares globais, na China 3,7 hectares globais, e no Brasil, 2,9 hectares globais por habitante.
As comparações entre Alemanha, China e EUA mostram que uma baixa pegada ecológica individual não pode ser argumento para deixar as medidas de proteção climática para os outros. As 11,5 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa da China podem parecer menos drásticas quando convertidas para o número de habitantes. Em termos absolutos, porém, de acordo com o banco de dados Edgar, a China é a maior emissora de gases de efeito estufa do mundo, emitindo mais que o dobro de CO2 na atmosfera que os EUA (5,1 bilhões de toneladas).
Mesmo se a China e os EUA deixassem de emitir uma única tonelada de dióxido de carbono imediatamente, as emissões de CO2 no resto do mundo ainda seriam tão altas que até 2050 seriam produzidas mais emissões do que o permitido para manter o limite de 1,5 ºC de aquecimento global. “Mais da metade das emissões anuais vem de outros países.”
Portanto, todos devem participar da proteção ao clima, aponta o climatologista alemão Stefan Rahmstorf, que contribui para a plataforma informativa klimafakten.de.
Consumo individual
Diante das elevadas emissões de CO2 per capita na Alemanha, a questão do consumo individual de recursos vem ganhando importância política no país.
Cerca de 90 milhões das 740 milhões de toneladas de gases de efeito estufa emitidos na Alemanha em 2020 provêm de residências particulares. Isto inclui, por exemplo, emissões para aquecimento e cozimento, assim como energia consumida por equipamentos eletrônicos.
Este setor desempenha um papel importante para atingir as metas de proteção climática do país, assim como o transporte, que emitiu 146 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (cerca de 20%) no ano passado. O maior emissor continua sendo a indústria energética, com 221 milhões de toneladas.
Uma equipe da Universidade Técnica de Brandemburgo, na Alemanha, calculou que 6% da energia gasta em calefação poderia ser economizada se os prédios reduzissem em um grau o calor do aquecimento no inverno.
Há também um grande potencial de economia no consumo de eletricidade em residências particulares: segundo o Ministério alemão do Meio Ambiente (BMU), poderiam ser economizados cerca de 15 milhões de toneladas de CO2 e 10 bilhões de euros ao ano na Alemanha se o consumo individual de eletricidade fosse reduzido conscientemente.
Carne e viagens aéreas
Outra área na qual cada indivíduo pode contribuir para a proteção climática através de seu comportamento é o setor de transportes, que, na Alemanha, emitiu 146 milhões de toneladas de gases de efeito estufa no ano passado.
Segundo os pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Brandemburgo, por exemplo, um voo de ida e volta de Frankfurt à ilha espanhola de Tenerife é tão prejudicial ao clima quanto andar um ano de carro.
A alimentação também é um fator relevante. Se os alemães reduzissem seu consumo anual de carne de 88 quilos para 46 quilos de carne per capita, as emissões de CO2 diminuiriam de 15 milhões para pouco menos de 8 milhões de toneladas. Este é o resultado dos cálculos da Sociedade Alemã para Alimentação, que foram publicados no Atlas da Carne de 2021.
Importância da contribuição individual
Então, desistir de comer carne e andar de bicicleta ajuda na luta pela sustentabilidade e proteção climática? A conclusão é que a contribuição de cada indivíduo é importante e não pode ser minimizada ao se fazer referência aos maiores emissores de CO2.
Entretanto, ações individuais que podem levar a uma mudança real têm impacto sobre a política apenas em um contexto específico.
“Muitas vezes nem se toma consciência dos produtos que cada pessoa deixa conscientemente de comprar”, observa Robbie Andrew, do instituto de pesquisa climática Cicero, na Noruega. A maneira mais eficaz, diz ele, é comunicar aos líderes políticos que esta é uma questão importante para a sociedade. É por isso que movimentos como”Sextas-Feiras pelo Futuro” (Fridays for Future) são cruciais.
Para Mathis Wackernagel, fundador e presidente da Global Footprint Network, a proteção climática é uma forma de autoproteção: “Esperar pela China ou pelos Estados Unidos não vai ajudar”, disse à DW. “É melhor tornar o próprio barco à prova de mudanças climáticas e assim aumentar as próprias chances para o futuro.”
Fonte: Deutsche Welle