Extintas há 20 anos no país, ararinhas-azuis nascem na Bahia

Os pais dos três filhotes estão entre as 52 ararinhas-azuis repatriadas da Alemanha no ano passado. Aves deverão ser reintroduzidas na natureza. Espécie foi declarada extinta no Brasil em 2000.

Antes de serem repatriadas, aves viviam em Rüdersdorf, nos arredores de Berlim

Após a espécie ter sido declarada extinta há 20 anos no Brasil, nasceram três filhotes de ararinhas-azuis na região da caatinga baiana. Eles são filhos de um casal que veio entre 52 espécimes repatriados da Alemanha em março do ano passado. 

O primeiro filhote de ararinha-azul nasceu em 13 de abril, e os outros dois, em 6 e 9 de junho. Os animais devem ser reintroduzidos na natureza. A previsão é que isso aconteça no interior do Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul, em Curaçá (BA).

O local, juntamente com a Área e Proteção Ambiental da Ararinha-Azul, em Juazeiro (BA), foi criado em 2018 especialmente para receber os animais, como parte do Plano de Ação Nacional da Conservação da Ararinha-azul (PAN Ararinha-azul), estabelecido em 2012 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Segundo especialistas, a reintrodução da espécie é um processo de longo prazo, e só daqui a 20 anos será possível saber se foi bem-sucedido.

Espécie descoberta por um alemão

A ararinha-azul foi descoberta pelo zoólogo alemão Johann Baptist von Spix, no início do século 19, no interior da Bahia. Ela é endêmica da caatinga, ou seja, desenvolve-se de forma natural somente naquele território. A espécie foi vista pela última vez na natureza em outubro de 2000, mas não se sabe o que aconteceu com esse exemplar.

Muito valiosa, a ararinha-azul foi alvo do tráfico de animais silvestres e da caça. A degradação de seu habitat impulsionou ainda mais sua extinção na natureza. Em 2011, a espécie ganhou fama mundial depois de protagonizar a animação Rio.

De acordo com o ICMBio, desde a extinção na natureza nos anos 2000, foram registradas cerca de 160 ararinhas em cativeiros privados. Atualmente, existem cerca de 240 animais da espécie no mundo – todos em cativeiro.

Embora tenham nascido alguns espécimes em cativeiro, os três nascimentos recentes são especiais pois são os primeiros ocorridos em duas décadas em sua área de ocorrência histórica, a Bahia.

“Os animais em cativeiro estão na Alemanha, Bélgica e Cingapura. No Brasil, existem dois criadouros: um em Minas Gerais e outro na área de distribuição original, que é o norte da Bahia”, afirma Camile Lugarin, analista ambiental e responsável pela Área Temática de Pesquisa, Monitoramento e Manejo do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) ICMBio Juazeiro.

Programa Brasil-Alemanha

O nascimento dos filhotes foi possível por meio de um programa de reprodução envolvendo Brasil e parceiros internacionais, como a Alemanha, que vem trabalhando para a reintrodução da espécie na natureza.

Dos 52 animais repatriados da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP, na sigla em inglês), da Alemanha, 14 deles estão em pares dispostos em um recinto para reprodução.

O acordo foi estabelecido entre o ICMBio e a ACTP em 2019 para construção de um centro de reprodução no interior do Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul. 

Antes de serem repatriadas, as aves estavam no pequeno município alemão de Rüdersdorf, localizado a 26 quilômetros de Berlim.

“Todos os locais que têm ararinhas-azuis são privados e, por isso, estamos tentando reproduzir o máximo possível de aves para podermos soltá-las na natureza o quanto antes”, explicou o pesquisador Cromwell Purchase, da ACTP, em entrevista à DW em 2018.

O criatório alemão recebeu várias ararinhas-azuis em 2018 da Instituição de Preservação da Vida Selvagem Al Wabra, do Catar. A transferência das aves foi impulsionada pela morte do mantenedor da Al Wabra, o xeque Saud bin Mohammed al-Than, em 2014, e pelo embargo econômico imposto ao Catar por Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Bahrein, em 2017. 

A expectativa de vida de uma ararinha-azul é de entre 20 e 40 anos.

Fonte: Deutsche Welle