Estudos sugerem que cerca de 90% das aves são monogâmicas, incluindo as espécies marinhas. Mas, como se sabe, a vida de casado nem sempre é fácil, e muitos acabam recorrendo ao divórcio – até mesmo no mundo dos pássaros. E as mudanças climáticas podem ter sua parcela de culpa nessas separações.
Como grande parte das aves marinhas, os albatrozes-de-sobrancelhas-negras formam pares monogâmicos que podem ficar juntos ao longo de seus 70 anos de vida. Segundo estimativas, pouco menos de 4% desses casais se separam a cada ano. No entanto, com as mudanças de temperatura, essa taxa chega a quase 8%.
Ao analisar dados coletados ao longo de 18 anos de extensas observações, uma equipe nas Ilhas Malvinas, um arquipélago remoto do Atlântico Sul pertencente ao Reino Unido, está investigando as razões do divórcio em aves desta espécie que vivem lá.
Segundo a pesquisa, publicada no jornal Proceedings of The Royal Society, as condições ambientais afetam profundamente a sobrevivência dos animais e a capacidade de se reproduzir com sucesso – o que, por sua vez, é fator decisivo para as separações. Os pesquisadores sugerem que, em ambientes mais hostis – o que poderia levar a um menor sucesso reprodutivo – o divórcio poderia ser mais comum.
Quando os oceanos estão mais quentes, os albatrozes precisam trabalhar mais para encontrar comida. Nesse esforço, os animais podem acabar feridos ou com problemas de saúde.
De acordo com o estudo, os pássaros podem culpar equivocadamente seu parceiro por suas próprias dificuldades (como se eles estivessem sofrendo porque seu parceiro não está se esforçando para cuidar de seu filhote, e não porque o ambiente é prejudicial).
Assim como acontece com os seres humanos, no caso das aves, o divórcio pode ser benéfico, mas também traz desvantagens. Em algumas populações de aves marinhas, os casais recém-formados têm menos sucesso na criação de seus filhotes. Se as mudanças climáticas aumentarem as taxas de divórcio, isso poderá impactar no número de novos albatrozes chegando ao mundo, reduzindo todo o tamanho da população ao longo do tempo.
A pesquisa sugere que é preciso examinar mais de perto se esses tipos de padrões climáticos aparecem na vida de outras espécies, nos mostrando as muitas maneiras pelas quais as mudanças climáticas estão afetando os seres com os quais compartilhamos nosso mundo.
Outro ponto percebido pelo novo estudo é que espécimes mais “tímidos” preferem se abster em vez de lutar pela fêmea. “Pela primeira vez, demonstramos a ligação entre personalidade e divórcio em uma espécie de animal selvagem”, disse Ruijiao Sun, principal autor do estudo.
Para atrair as fêmeas, os albatrozes machos têm uma dança bastante peculiar. Em um grupo de 2 mil indivíduos, os cientistas observaram que os mais afoitos podem atrapalhar os mais contidos.
São poucas fêmeas em relação ao número de machos. Logo, elas têm o poder de escolha (e seus critérios). “Se uma fêmea descobre que as chances de reprodução são baixas com um determinado parceiro, procurará outro”, explica Sun, que também aponta as maiores taxas de separação em casais mais jovens.
Fonte: Olhar Digital