Correntes do Atlântico podem estar perto do colapso, alerta estudo

Nova análise indica que os principais fluxos de água desse oceano perderam estabilidade, o que pode afetar temperaturas, nível do mar e meteorologia do planeta

Visualização da Corrente do Golfo que se pelo norte do Oceano Atlântico (Foto: Greg Shirah/NASA Scientific Visualization Studio)

Operando em seu nível mais fraco em mais de 1 mil anos, o conjunto de correntes superficiais e profundas conhecido como Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) pode estar perto do colapso.

O alerta vem de um novo estudo, publicado nesta quinta-feira (5) na revista Nature Climate Change. Se acontecer, isso poderia reduzir as temperaturas na Europa, aumentar o nível do mar na costa leste dos Estados Unidos e afetar o sistema de fornecimento de água doce em grande parte do planeta.

Sinal importante do equilíbrio oceânico, a AMOC é responsável por levar as águas quentes e salgadas dos trópicos em direção ao norte da Europa — um desses fluxos é a chamada Corrente do Golfo. Quando chegam à região da Groenlândia, as águas esfriam e ganham mais densidade; assim, o fluxo da AMOC as envia de volta em direção à Antártida pelo fundo do oceano. Essa circulação entre águas mais e menos densas tem papel fundamental na distribuição de calor nos continentes.

Para entender se o enfraquecimento do sistema tem a ver com uma mudança no estado de circulação média — alteração considerada mais branda — ou com uma perda de estabilidade dinâmica, cientistas liderados pelo Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK), na Alemanha, resolveram olhar para a superfície do Atlântico.

Eles analisaram os padrões de temperatura e salinidade do mar de acordo com oito indicadores relacionados à força de circulação. “Os achados apoiam a avaliação de que o declínio da AMOC não é apenas uma flutuação ou uma resposta linear ao aumento das temperaturas”, explica Niklas Boers, autor do estudo, em comunicado. “Provavelmente significa a aproximação de um limiar crítico além do qual o sistema de circulação poderia entrar em colapso.”

Ou seja, não se trata mais de uma reação espontânea e imediata às mudanças climáticas, e sim uma consequência mais profunda, com sinais de irreversibilidade. Dentre os fatores que prejudicam o funcionamento da AMOC, por exemplo, está o derretimento de geleiras, que gera um fluxo de água doce prejudicial às correntes. Quanto mais água doce, menor é a salinidade das águas, bem como sua densidade; e com menos densidade, a água tem mais dificuldade para afundar, interrompendo o sistema da AMOC.

Segundo a pesquisa, as possíveis consequências disso incluem mais tempestades e menores temperaturas na Europa, o aumento do nível do mar no leste da América do Norte e redução de chuvas na América do Sul e África Ocidental. Em relação aos efeitos dos níveis de CO2 sobre o colapso, Boers afirma é fundamental manter as emissões o mais baixas possíveis. “A probabilidade desse evento de impacto extremamente alto acontecer aumenta a cada grama de CO2 que colocamos na atmosfera”, disse ao jornal britânico The Guardian.

Fonte: Galileu