Temperatura dos oceanos foi estável em boa parte do século 20, diz estudo

Não houve aquecimento significativo entre 1950 e 1990 nas águas oceânicas, mas a partir da última década do século passado as médias começaram a subir

Os efeitos das mudanças climáticas demoraram mais a chegar nos oceanos do que se pensava (Foto: Domínio Público)

Os efeitos do aquecimento global nos oceanos preocupa cientistas há décadas. No entanto, uma nova pesquisa indica que tais consequências demoraram mais a acontecer do que se pensava: na verdade, a temperatura nos mares do planeta permaneceu estável em boa parte do século 20.

O estudo foi publicado em 29 de julho no jornal científico Nature Communications, por Bárbara DeVries e Aaron Bagnell, dois cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Eles apontam que, entre 1950 e 1990, as temperaturas dos oceanos não tiveram aumento significativo. Porém, da última década do século 20 em diante, houve uma subida acentuada — e se essa tendência continuar, os efeitos podem durar séculos.

Para chegarem a essas conclusões, os cientistas utilizaram sistemas de computação do tipo rede neural artificial combinados com métodos de aprendizado de máquina. Assim, eles conseguiram conectar dados antes não explorados e criar uma estimativa nova.

Muitos estudos anteriores não consideraram o oceano profundo, a mais de 2 mil metros de profundidade, já que obter dados dessas regiões é difícil. Ainda assim, existem algumas referências realizadas por cruzeiros de pesquisa e veículos autônomos de mergulho.

Mapa mostra aumento de temperatura nos oceanos em dois períodos: de 1946 a 1990 e de 1990 a 2019; (Foto: A. Bagnell et al.)

Utilizando os recursos disponíveis, os pesquisadores levantaram hipóteses para explicar porque o aquecimento global teria demorado a atingir os oceanos. Eles dizem que é possível que a parte profunda das águas esteja exibindo efeitos de eventos climáticos do passado. Ou, ainda, pode estar ocorrendo uma interferência de aerossóis, que esfriam as regiões oceânicas. 

Essas pequenas partículas suspensas refletem a radiação solar de volta ao espaço, diminuindo a quantidade de energia absorvida. Com isso, há um resfriamento que anula temporariamente o aquecimento provocado pelos gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2).

Apesar disso, vale lembrar que os aerossóis têm material particulado que é nocivo à saúde humana. Sua emissão sem controle está por trás da poluição atmosférica e da queda na qualidade do ar.

Outra constatação da pesquisa é que o efeito de resfriamento acabou em 1990, de modo que “o oceano está esquentando com mais força agora”, alerta Bagnell, em comunicado. A situação atual é mais crítica no Oceano Atlântico e nas águas da Antártida.

Fonte: Galileu