Medo de gases tóxicos do vulcão em La Palma é justificado

Quando lava vulcânica entra em contato com a água do mar, ocorrem diversos fenômenos potencialmente letais para os seres humanos, entre eles a liberação de gases tóxicos.

Além de vapor inofensivo, nuvem pode conter ácidos e cristais potencialmente letais

O encontro da lava com a água do mar agravou ainda mais a já dramática situação em La Palma, uma das Ilhas Canárias da Espanha, devido à erupção do vulcão Cumbre Vieja. As autoridades de segurança recomendaram aos habitantes da costa oeste da ilha que fiquem em casa e vedem portas e janelas, além de cobrirem a boca e o nariz com panos molhados, a fim de proteger as vias respiratórias.

Nesta quarta-feira (29/09), o governo da ilha afirmou que a erupção não afetou a qualidade do ar, que continua sendo “perfeitamente respirável”.

Mesmo assim, a preocupação da autoridades de segurança é mais do que justificada, pois o contato entre a lava ardente, a cerca de 1.000 ºC, e a água do mar, por volta de 20 ºC, resulta em tremendos choques térmicos. Além das fortes explosões, o magma se solidifica, e são liberadas gigantescas colunas de vapor, contendo ácido clorídrico e minúsculos cristais vulcânicos, potencialmente perigosos para os seres humanos.

Além da formação de vapor inofensivo, ocorrem reações químicas em que as partículas de enxofre ou ácido sulfuroso (H2SO3) da lava se combinam com o cloro natural da água, resultando em grande volume de gases tóxicos.

Ácidos letais no ar

O ácido clorídrico ou muriático (HCl), uma solução aquosa do gás cloreto de hidrogênio, é incolor, corrosivo e venenoso. Em baixas concentrações, os primeiros sintomas são irritação dos olhos ou da garganta. Uma concentração mais forte ou uma exposição mais longa, contudo, resulta no acúmulo de líquido nos pulmões e dificuldades respiratórias que podem acarretar a morte.

Na erupção vulcânica anterior em La Palma, em 1971, um indivíduo morreu devido à inspiração de gases tóxicos, embora estivesse a alguns quilômetros do local onde a lava se encontrava com o mar.

Pode-se formar também ácido fluorídrico (HF), incolor, de odor pungente, altamente tóxico e corrosivo e também capaz de penetrar nos tecidos orgânicos. Em baixa concentração ele causa irritação da faringe, brônquios e pulmões. Em concentrações mais altas, pode danificar o sistema nervoso, bloquear a metabolização de cálcio e magnésio e inibir enzimas importantes. A consequência é falência múltipla de órgãos e morte.

Moradores observam espetáculo do encontro da lava a 1.000 ºC com a água

Cristais perigosos

Além desses gases invisíveis, em parte até inodoros, há ainda o perigo dos minúsculos cristais contidos na lava. Na cinza vulcânica estão partículas minerais que penetram fundo nos pulmões, e também quando a lava se choca com a água do mar podem-se formar cristais, que são lançados no ar pela explosão e ficam flutuando. Inspirados, eles causam danos pulmonares graves.

Geólogos da Universidade de Santiago do Chile detectaram na cinza vulcânica partículas em forma de fibras do mineral cristobalita. Menores do que quatro micrômetros, elas penetram nos pulmões, se não forem filtradas, originando pneumoconiose (doença resultante da cicatrização progressiva do interstício pulmonar) ou mesmo dando origem a câncer pulmonar.

Segundo a classificação pela agência estatal alemã encarregada de seguros contra acidentes, a periculosidade da cristobalita fibrosa é semelhante à do amianto.

Ventos imprevisíveis, delta lávico instável

Um fator decisivo para determinar o grau de risco em La Palma será a direção e intensidade do vento nos próximos dias. Normalmente, nesta época do ano o vento sopra do vulcão para o mar, o que afastaria a nuvem tóxica, diminuindo o perigo para os moradores. De acordo com as autoridades de segurança das Ilhas Canárias, contudo, atualmente o vento sopra do sul, portanto em direção ao interior da ilha.

Incerta é também a situação no local em que a lava encontra o mar, denominado delta lávico pelos vulcanólogos. Esse tipo de formação geológica é relativamente instável e pouco resistente. Se grandes ondas, por exemplo, se chocam contra o delta, ele pode desmoronar.

Nesse caso, gigantescas quantidades de lava entrariam em contato com o mar, gerando fortes explosões freáticas das cavidades cheias de água. O resultado pode ser até o colapso do recife mais antigo circundante, além de uma enorme nuvem de vapor contendo gases tóxicos.

Fonte: Deutsche Welle