A partir de 2050, chuvas poderão ser mais comuns no Ártico do que neve

Estudo publicado na "Nature Communications" estima que aumento de precipitação na região acontecerá duas décadas antes do previsto, com chuvas recorrentes no outono

Mais chuva do que neve cairá no Ártico antes do previsto (Foto: Lauren Candlish, UM)

Mais chuva cairá no Ártico do que neve daqui a somente algumas décadas. A grave mudança, que deve ocorrer antes mesmo do previsto, é causada pelo aquecimento global e pela perda de gelo marinho, segundo aponta um novo estudo, publicado na última terça-feira (30), na revista Nature Communications.

O maior volume de chuvas na região, segundo a pesquisa, faz parte de um aumento de precipitação generalizado. As projeções alertam para um outono dominado por temporais já entre os anos de 2050 e 2080. Para se ter uma ideia, a estimativa anterior era de que isso ocorreria somente entre 2070 e 2090.

As datas, contudo, ainda podem variar conforme a estação do ano e a área analisada. Mas a tendência ainda não deixa de ser alarmante: enquanto os cientistas preparavam o artigo científico, no último mês de agosto, chuva caiu pela primeira vez na história no ponto mais alto da Groenlândia.

Michelle McCrystall, principal autora da pesquisa, se diz perplexa com as previsões de precipitação. “Quando falamos sobre isso acontecer em 2100, parece que está muito longe, mas são apenas 80 anos. Essa é a próxima geração”, afirma ela, em comunicado. “E se continuarmos a trajetória que estamos seguindo, muitos problemas podem ocorrer ainda mais rápido do que o que projetamos.”

Rena congelada no Ártico após evento de chuva na neve em novembro de 2013 (Foto: Roma Serotetto )

A equipe de cientistas, que inclui especialistas da University College London, na Inglaterra, e da Universidade de Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, adverte que o aumento da chuva no Ártico terá sérias consequências. Poderá, por exemplo, agravar ainda mais o aquecimento do planeta, aumentar o fluxo de CO2 no inverno, gerar derretimento de permafrost, causar inundações e liberar metano preso no solo congelado.

A questão afeta a vida selvagem, levando à fome caribus, renas e bois-almiscarados, que não conseguem buscar alimento nas espessas crostas de gelo que se formam no resfriamento pós-chuva. E o aquecimento da área acaba mudando o ecossistema, ao atrair  populações de pássaros migratórios adaptados a condições mais quentes e úmidas.

O problema prejudica ainda a extração de meios de subsistência por nós, seres humanos. Porém, a humanidade ainda pode atenuar essa situação, instaurando medidas para manter o aumento de temperatura da Terra abaixo dos 1,5 °C. Isso pode evitar que a precipitação ocorra em pelo menos algumas regiões do Ártico.

Contudo, se continuarmos com as atuais políticas globais, o aquecimento poderá atingir os  3ºC até o final do século e, muito provavelmente, a região passará por mudanças catastróficas. “Os novos modelos não poderiam ser mais claros de que, a menos que o aquecimento global seja interrompido, o futuro do Ártico será mais úmido; uma vez que os mares congelados serão águas abertas, a chuva substituirá a neve”, ressalta James Screen, coautor do estudo.

Fonte: Galileu