Ao comparar a abundância na Amazônia de 91 espécies silvestres de animais, pesquisadores do Brasil, Peru, Estados Unidos, Inglaterra e Espanha mostram que o método baseado no conhecimento ecológico local (LEK) é mais eficaz para mapear espécies particulares de mamíferos, aves e tartarugas que raramente são observadas por meio de monitoramentos convencionais, como as espécies noturnas, as menos abundantes ou vítimas de caçadas.
Esta é a conclusão de estudo publicado na segunda-feira (6) na revista científica Methods in Ecology and Evolution, com contribuição de pesquisadores das universidades federais da Paraíba (UFPB), do Rio Grande do Norte (UFRN) e Rural da Amazônia (UFRA).
Neste estudo de conhecimento ecológico, o objetivo foi avaliar o potencial do levantamento da abundância da vida silvestre e, para tanto, comparou-se o conhecimento ecológico local com os estudos científicos que tradicionalmente usam métodos que consistem em caminhar repetidamente em trilhas pela mata para contar os animais avistados.
O estudo aponta que o método LEK implica um maior número de horas dedicadas à observação na floresta, mas amplamente distribuídas ao longo do tempo nas suas atividades quotidianas das populações locais. Já os censos de animais feitos em trilhas lineares supõem um esforço consideravelmente menor, mas muito intenso, pois costuma se concentrar em duas ou três semanas de trabalho passando pelas trilhas.
Franciany Braga-Pereira, doutoranda em Zoologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora do Instituto de Ciencia y Tecnología Ambientales de la Universidad Autónoma de Barcelona (ICTA-UAB) e líder do estudo, comenta que “a percepção da população local é multissensorial, envolvendo audição, olfato e outros sinais visuais indiretos, como urina, pegadas, arranhões, que aumentam a capacidade de detectar a presença de um animal”.
Ela explica que os censos de animais por meio de trilhas lineares são feitos durante o dia, o que acaba por não abranger animais noturnos, por exemplo. “O monitoramento convencional por meio desses transectos lineares tem dificuldade em fornecer informações sobre todas as espécies que possuem hábitos noturnos ou que são mais ariscas”.
A conclusão é que a incorporação do LEK nos projetos de monitoramento da vida silvestre de base comunitária, em que os moradores locais registram e interpretam seus próprios dados, pode melhorar significativamente a qualidade da ciência e contribuir para a sustentabilidade das florestas tropicais do mundo.
Esse método empodera as comunidades locais, que são os principais atores e partes interessadas, para melhor administrar seus próprios recursos naturais e desenvolver iniciativas de conservação legítimas e bem-sucedidas.
Os autores explicam que o monitoramento dos animais pelas comunidades tradicionais pode ser realizado mesmo com a interrupção de pesquisas externas por conta de crises internacionais ou nacionais. “Um grande exemplo disto foram as restrições de movimentação durante a recente pandemia [de] Covid-19, na qual muitas áreas protegidas no mundo permaneceram fechadas para pesquisadores externos por um longo período e o único monitoramento da fauna possível foi aquele feito independentemente por moradores locais”, ressalta o autor sênior do estudo, Pedro Mayor, da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), professor visitante da Universidade Federal Rural da Amazônia, pesquisador de Fundamazonia e presidente da Comunidad de Manejo de Fauna Silvestre en la Amazonía y en Latinoamérica.
Na Floresta Amazônica, que detém umas maiores biodiversidades do mundo, esse tipo de monitoramento pode ajudar a mensurar o impacto de diferentes atividades na vida silvestre, trazendo estimativas precisas e atualizadas da abundância das populações animais. Quanto maior a velocidade de obtenção de informações de alta qualidade sobre as tendências populacionais, mais eficazes podem ser as ações de manejo e conservação.
Fonte: Galileu