A adição de ultraprocessados à dieta resulta em aumento da pegada hídrica – ou seja, um maior uso de água para a produção e o consumo de alimentos e, portanto, um maior impacto ambiental. Este é o resultado de uma análise feita por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Deakin, na Austrália, publicada na Revista de Saúde Pública nesta sexta-feira (18).
O estudo analisou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2008 e 2009. Esse inquérito reúne informações sobre a alimentação de mais de 30 mil brasileiros com idade igual ou superior a 10 anos. As pegadas ambientais foram calculadas com base nos coeficientes de emissão de gases do efeito estufa e de uso de água para produzir cada alimento e preparação culinária consumidos no Brasil.
A metodologia levou em conta a classificação NOVA de alimentos, que os divide em quatro categorias, de acordo com o seu grau de processamento: alimentos in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. A ideia era verificar os impactos ambientais causados por este último grupo.
“As análises mostraram que o consumo de ultraprocessados na dieta brasileira aumentou significativamente a pegada de carbono e hídrica da dieta dos brasileiro. Esse aumento, no entanto, permaneceu significativo somente para a pegada hídrica depois que os modelos foram ajustados para variáveis como sexo, renda e escolaridade”, diz Josefa Garzillo, uma das autoras do estudo.
A pesquisa indicou, ainda, que os alimentos ultraprocessados elevam a pegada hídrica da dieta por aumentarem, também, a ingestão diária de calorias – ou seja, a quantidade total de alimento consumido ao longo do dia.
“Esta é a primeira vez que um estudo nacional avalia o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados nas pegadas ambientais da dieta”, afirma Carlos Monteiro, autor sênior do estudo. “A pegada hídrica aumentou 10% entre os grupos com menor e maior consumo de alimentos ultraprocessados.”
A evidência traz à tona um impacto antes desconhecido dos alimentos ultraprocessados, registrando consequências ambientais do consumo desse tipo de alimento – que se somam às já conhecidas consequências para a saúde pública, como aumento do risco de desenvolvimento de obesidade e doenças crônicas relacionadas.
O estudo reforça, portanto, a recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira de basear a alimentação e ingredientes in natura ou minimamente processados para compor uma dieta saudável e sustentável, e evitar alimentos ultraprocessados.
Fonte: Galileu