Árvores e florestas em todo o mundo estão sob pressão das mudanças climáticas. Elas também são ameaçadas pela exploração madeireira e pelo desenvolvimento. Para resolver esses problemas – e aumentar a captura de dióxido de carbono da atmosfera – existem várias campanhas que ajudam a salvar o mundo plantando árvores.
O fundador da Amazon, Jeff Bezos, prometeu US$ 2 bilhões para restaurar florestas. No ano passado, uma empresa latino-americana de comércio eletrônico levantou US$ 400 milhões em títulos para restauração florestal. Os viajantes estão cada vez mais procurando maneiras de compensar o CO2 emitido por seus voos, pagando pela restauração ou proteção das florestas.
O crescimento das florestas não substitui a redução rápida das emissões de combustíveis fósseis. Porém, mais árvores podem ajudar a longo prazo. Muitos programas de reflorestamento são novos, sem histórico que possam ajudar a julgar sua eficácia. Entre eles, é comum a falta de transparência e prestação de contas. Alguns não passam de greenwashing, outros têm boas intenções, mas enfrentam uma série de problemas – e alguns realmente causam danos.
Onde seu apoio ao plantio de árvores, provavelmente, trará mais benefícios? Dois especialistas em restauração florestal, Karen Holl, ecologista da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e Pedro Brancalion, professor de silvicultura de espécies nativas da Universidade de São Paulo, publicaram recentemente uma série de perguntas para ajudar os consumidores a navegar neste mundo complexo.
Holl e Brancalion não dão nomes aos bois – embora para o próximo projeto eles esperem fazer uma avaliação profunda de quais organizações são mais eficazes. Por enquanto, esperam que suas perguntas ajudem indivíduos e investidores a encontrar respostas, ao mesmo tempo em que incentivam as organizações que cultivam árvores a tornar as informações mais facilmente acessíveis.
O que você espera alcançar e como a organização de cultivo de árvores atinge esses objetivos?
Há muitas razões para cultivar árvores e apoiar o crescimento delas. Mas essas razões podem se contradizer. Por exemplo, um estudo de 2021 com 174 grupos de plantio de árvores, em 74 países, mostrou que a maioria plantou apenas algumas espécies destinadas a ajudar os proprietários de terras a produzir alimentos, madeira ou lenha.
Essas árvores podem ajudar as comunidades rurais no curto prazo, mas esse plantio tem muito menos probabilidade de aumentar a biodiversidade ou maximizar o potencial de armazenar carbono e reduzir as mudanças climáticas.
Outros estudos mostraram dados semelhantes. O Bonn Challenge, patrocinado pelo governo alemão e pela União Internacional para a Conservação da Natureza, quer reflorestar 350 milhões de hectares ao redor do mundo até 2030. Mas uma grande parte dos compromissos, de acordo com um estudo, incluiu planos para cultivar somente uma única espécie de árvore, que servirá de matéria-prima para produtos. Ou seja, pouco será feito para restaurar a vida selvagem ou para absorver CO2.
Na verdade, a maneira mais barata e bem-sucedida de proteger ou aumentar o armazenamento de CO2 e a biodiversidade pode não envolver o plantio de árvores. Muitas vezes, trata-se de proteger as florestas existentes ou permitir que árvores nativas cresçam novamente. “A regeneração natural funciona muito bem em muitos casos, especialmente nos trópicos”, diz Brancalion. No entanto, essa é uma abordagem muito menos comum, em parte porque plantar uma árvore parece mais fácil do que restaurar uma floresta real.
Como a organização resolve fatores iniciais de perda ou degradação florestal?
Plantar árvores de forma eficaz é mais complexo do que muitas pessoas imaginam. Isso só acontece quando o plantio é destinado para reflorestar uma área que antes continha árvores. Mesmo assim, o reflorestamento só funcionará a longo prazo, e se fator que levou à remoção das árvores for compreendido e freado.
O desmatamento tem muitas causas; entre elas estão a demanda por produtos de madeira, limpeza de terrenos para agricultura ou desenvolvimento, e perdas por tempestades, incêndios florestais ou secas. As áreas sujeitas a repetidos incêndios florestais agravados pelas mudanças climáticas podem não ser adequadas para o replantio ou podem exigir árvores diferentes.
Holl e Brancalion já viram florestas restauradas terem árvores danificadas ou retiradas porque os agricultores locais precisavam da terra para pastagem.
As partes interessadas locais estão envolvidas no projeto? Quais benefícios receberão?
Muitas organizações de plantio de árvores estão sediadas nos Estados Unidos ou na Europa, mas estão tentando cultivar árvores em países em desenvolvimento, onde mais pessoas dependem da terra para obter renda e meios de subsistência. Um fator que determina consistentemente o sucesso ou o fracasso do projeto é se a população local está envolvida e vê um benefício no plantio, não apenas no início, mas ao longo da vida útil do projeto.
Se a renda for perdida, ela deve ser substituída. Caso contrário, novas árvores podem ser derrubadas ou proprietários de terras podem desmatar florestas existentes em outros lugares.
Considere o Brasil, onde os programas de reflorestamento são comuns. Em uma das regiões mais pobres do país, que abriga onças-pintadas e tamanduás-bandeira, cientistas e ativistas encontraram sucesso ao interligar partes isoladas da Mata Atlântica, que normalmente são separadas por fazendas. Ao plantar 2,4 milhões de árvores, eles criaram um corredor de vida selvagem, um caminho agora percorrido por espécies ameaçadas de extinção.
Às margens desse corredor, árvores frutíferas, café e mandioca são cultivadas, e a população local está administrando viveiros de árvores, o que aumentou a renda e a segurança alimentar, além de permitir que esses moradores da área se sintam donos da saúde das florestas próximas.
Brancalion também tem experimentado plantar espécies de árvores comerciais não nativas de rápido crescimento ao lado de árvores nativas. As árvores não nativas podem ser cortadas e vendidas para madeira ou papel, ajudando a gerar renda, enquanto os moradores esperam que as florestas nativas adjacentes voltem a crescer.
Como as potenciais consequências negativas do projeto serão minimizadas?
Muita coisa pode dar errado com o plantio de árvores. As operações de cultivo em massa de árvores na Turquia, Sri Lanka e Filipinas resultaram em milhões de mudas mortas porque espécies erradas foram plantadas, ou as árvores estavam em solos pobres, ou havia pouca água ou ninguém cuidou das árvores depois de plantadas.
Uma campanha no Planalto de Loess, na China, reduziu as terras agrícolas em um quarto, e diminuiu a quantidade de água disponível para as pessoas, o que resultou na perda da cobertura florestal nativa próxima.
Ao decidir onde colocar seu apoio, peça às organizações que expliquem como evitarão a morte de mudas e a destruição de ecossistemas existentes. Como garantirão que a produção de água não seja reduzida e como vão evitar consequências sociais negativas.
“Comece com suas páginas da web”, diz Holl. “A maioria desses grupos fornece histórias brilhantes, mas não disponibiliza fatos. E o que você realmente precisa é de dados. Se as organizações não o publicarem, solicite-os”, aconselha.
Por quanto tempo o projeto será monitorado e como a manutenção dele será feita?
Pode ser possível, como prometem algumas campanhas, plantar uma árvore por um dólar – mas raramente é possível mantê-la viva por esse preço. Se as árvores quiserem sequestrar carbono e proteger a biodiversidade, elas devem prosperar por décadas. Isso requer planejamento para manter a saúde das árvores por anos, e trata-se de um planejamento extremamente raro.
Em um estudo de 2019, realizado no Brasil, Brancalion e Holl descobriram que 80% das operações de plantio de árvores tendem a rastrear a sobrevivência das árvores por 30 meses ou menos. Depois que a Etiópia, em 2019, afirmou ter plantado 350 milhões de árvores em um dia, Holl e seus alunos conseguiram encontrar muito pouca informação que mostrasse quantas dessas árvores haviam sobrevivido.
Holl também revisou as propostas de plantio de árvores para o Fórum Econômico Mundial, uma iniciativa de trilhões de árvores, mas descobriu que o resultado foi pouco monitorado em dois anos, bem como os impactos na qualidade da água ou nos meios de subsistência locais.
Em vez de perguntar a uma campanha quantas árvores ela quer plantar, Holl e Brancalion recomendam perguntar quantas árvores cada organização planeja manter vivas em cinco, dez ou, melhor ainda, 20 anos.
Fonte: National Geographic Brasil