Comissão Europeia sugere a Estados-membros que reduzam voluntariamente o consumo do combustível de agosto a março, a fim de contornar “chantagem” russa. Polônia se opõe a recomendação.
Em meio a uma iminente crise energética, a Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira (20/07) uma meta voluntária aos Estados-membros da União Europeia de reduzir o consumo de gás em 15% de agosto a março, em comparação com a média no mesmo período de 2016 a 2021.
Os países europeus correm para abastecer seus estoques de gás antes do inverno e se precaver, caso Moscou restrinja ainda mais as exportações de combustíveis em retaliação ao apoio do Ocidente à Ucrânia. Uma dúzia de países da UE já está enfrentando entregas reduzidas da Rússia, e a UE considera “provável” um corte total.
“Devemos nos preparar para uma possível interrupção total do fornecimento de gás russo”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em entrevista coletiva em Bruxelas.
“A Rússia está nos chantageando. A Rússia está usando a energia como arma. Portanto, seja um corte parcial e importante do gás russo ou um corte total do gás russo, a Europa precisa estar pronta.”
Segundo a líder, alguns Estados-membros são “mais vulneráveis” à interrupção do fornecimento de gás, e todos os países “precisam estar prontos para compartilhar gás”.
Polônia é contra
Segundo as autoridades europeias, sem cortes profundos agora, pode faltar gás durante o inverno. Inicialmente, a meta é voluntária, mas pode tornar-se obrigatória em caso de emergência de abastecimento.
O regulamento precisa ser aprovado pela maioria dos países do bloco. Diplomatas devem discutir o plano na sexta-feira, com o objetivo de aprová-lo numa reunião de emergência dos ministros de Energia em 26 de julho.
No entanto, o projeto já encontra resistência de alguns países, que afirmam que seus planos de contingência não precisam de um empurrão da UE.
Entre eles está a Polônia, que atualmente está com 98% do estoque de gás preenchido e, portanto, acredita que não seja necessário poupar. O armazenamento de outros países é menor: o da Hungria, por exemplo, está em 47%.
No entanto, as autoridades da UE dizem que é crucial garantir que todos os países ajam agora, em vez de esperar para reagir se a Rússia cortar o fornecimento. “Se esperarmos, será mais caro e nos fará dançar ao som da Rússia”, disse uma autoridade.
Em meados de julho, o Fundo Monetário Internacional alertou que um corte do gás russo poderia levar as economias europeias à recessão. Antes do início da guerra na Ucrânia, a Rússia fornecia 40% do gás da UE, tendo como principais destinos a Alemanha e a Itália. Agora os fluxos caíram para menos de 30% da média de 2016 a 2021.
Famílias protegidas
Para atingir a meta de 15% de redução de gás, Bruxelas sugeriu leilões de compensação para indústrias que cortarem o uso de gás, e limites nas temperaturas de aquecimento e refrigeração de prédios públicos, por exemplo.
Os governos também devem apresentar seus novos planos de contingenciamento até setembro e decidir a ordem em que forçarão as indústrias a fecharem, em caso de uma emergência de abastecimento.
O objetivo é proteger o abastecimento das famílias e de consumidores sensíveis, como os hospitais, mas também das indústrias particularmente importantes para as cadeias de abastecimento e a competitividade na UE. As famílias são classificadas como “consumidores protegidos” sob as regras da UE, e estariam salvas de restrições.
Restabelecimento da exportação
Nesta quinta-feira, após dez dias de manutenção anual, as entregas de gás devem reiniciar através do gasoduto Nord Stream 1, da Rússia para a Alemanha. Havia temores de que o Kremlin aproveitasse o desligamento e suspender o fornecimento por tempo indeterminado.
“A Gazprom [estatal russa de energia] cumpre suas obrigações, sempre as cumpriu e está disposta a continuar cumprindo”, disse o presidente russo, Vladimir Putin, à agência de notícias Interfax.
Ao mesmo tempo, porém, ele alertou contra uma nova redução do volume de entrega, caso a Rússia não receba de volta uma turbina enviada para manutenção no Canadá e que ainda não foi devolvida devido, a sanções de Ottawa a Moscou.
Fonte: Deutsche Welle