Uma das primeiras coisas que aprendemos na escola em relação à Terra é que ela realiza dois movimentos principais: a translação, que é o processo por meio do qual o planeta circunda o Sol, e a rotação, que faz com que ele gire em torno de seu próprio eixo, como um pião.
Medições feitas pelo Laboratório Nacional de Física do Reino Unido indicam que esse movimento de rotação está mais acelerado, o que significa que a Terra está girando mais rapidamente, tornando os dias ligeiramente mais curtos.
Cientistas alertam que, se a taxa de velocidade da rotação da Terra continuar aumentando, talvez seja necessário até mesmo “pular um segundo” dos relógios atômicos, decisão que poderia ser crítica para os sistemas de Tecnologia da Informação (TI). De acordo com pesquisadores da Meta, isso geraria repercussões drásticas em infraestruturas de hardware e software que dependem de cronômetros ou agendadores.
Mas, e se acontecesse o contrário? Se a Terra reduzisse tanto seu movimento de rotação a ponto de, simplesmente, parar de girar? O que aconteceria?
Uma coisa, podemos garantir: “simplesmente” não é um bom advérbio para ser empregado quando se fala desse assunto, já que as consequências desse acontecimento hipotético seriam qualquer coisa, menos simples.
Esse é um tema até recorrente entre os estudiosos do espaço. Cada um tem suas teorias, mas todos concordam em um ponto: a interrupção do movimento de rotação da Terra seria catastrófica para o planeta e seus habitantes – ou seja, todos nós.
Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e diretor técnico da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (BRAMON), além de colunista do Olhar Digital, levanta alguns efeitos:
- Aumento da duração dos dias e noites;
- Climas extremos;
- Alteração nas marés;
- Alteração nos ventos e nas correntes marítimas;
- Modificações na sismologia;
- Prováveis perturbações no campo magnético;
- Grandes chances de perda da atmosfera.
“Este é um assunto extremamente complexo, que requer estudos aprofundados”, explica Zurita. “O que podemos dizer, a princípio, é que os dias e noites durariam seis meses, o que seria devastador. Isso leva ao segundo tópico, pois seriam dias extremamente quentes e noites congelantes”.
Uma Terra metade em chamas e metade de gelo
Com o tempo, duas situações antagônicas poderiam se desenrolar: o mundo passaria a ser extremamente quente de um lado e entraria em uma estação glacial do outro. O primeiro cenário seria consequência do fato de que a evaporação intensa da água dos oceanos no lado dia (ou seja, a face iluminada pelo Sol) aumentaria o efeito estufa e a temperatura global, que poderia alcançar níveis exorbitantes.
A segunda hipótese, de que metade do mundo poderia entrar em uma estação glacial, ocorreria em razão do acúmulo de neve no lado noite, formando uma camada de gelo tão espessa que não derreteria nem quando voltasse a amanhecer nessa parte.
De acordo com o portal Mundo Educação, praticamente todos os seres vivos seriam extintos. Talvez alguma espécie abissal pudesse sobreviver, uma vez que essas criaturas têm a vida baseada na quimiossíntese (produção de matéria orgânica através da oxidação de substâncias minerais, sem recorrer à luz solar).
Os animais abissais são seres vivos aquáticos que vivem abaixo da zona eufótica do oceano, nas áreas conhecidas como zonas abissais, geralmente a mais de 2 km de profundidade, com temperaturas muito baixas e sem luz.
Com a perda do movimento de rotação, a água dos mares voltaria aos polos. De acordo com o site Brasil Escola, funciona como um balde de água girando: se ele parar, a água em seu interior cairá. A inércia da água é o que a mantém na região do Equador, por isso, nessa situação hipotética, alguns oceanos virariam grandes desertos, enquanto os países localizados acima dos trópicos seriam quase completamente submersos, dando existência a dois grandes oceanos ao sul e ao norte do globo terrestre.
Terremotos de escalas inimagináveis
“Se a Terra parasse de girar, nosso núcleo de ferro derretido também pararia. Só que essa rotação do núcleo funciona como dínamo, gerando nosso campo magnético. Ou seja, se a Terra parar de girar, perdemos nosso campo magnético”, explica Zurita. “Sem o campo magnético, ficaríamos sem proteção contra os ventos solares e seríamos constantemente atingidos por ele. A radiação seria enorme e os gases da nossa atmosfera seriam levados por esses ventos, assim como ocorre em Marte”.
Sobre a sismologia, as placas tectônicas – blocos sólidos que se encontram sobre o magma e formam a litosfera (camada rochosa mais externa da Terra) – continuariam em movimento e, ao colidirem umas contra as outras, produziriam terremotos de escalas inimagináveis.
Segundo Zurita, a interferência na gravidade ocorre principalmente na linha do equador, onde a força centrífuga diminui os efeitos da gravidade. “Sem a rotação, a gravidade no equador seria maior e isso forçaria a crosta terrestre para baixo nessas regiões, o que também provocaria terremotos e acomodações sísmicas”.
Se a freada fosse brusca, então, seria ainda mais desastroso. O globo sairia subitamente de uma velocidade de aproximadamente 1.675 km/h (em uma latitude de 45°) para zero. No entanto, todas as edificações, as árvores, os meios de transporte e os animais, por inércia, tenderiam a manter sua trajetória com a mesma velocidade. Resultado: tudo iria desabar.
No entanto, diferentemente do que muitos podem pensar, ninguém sairia flutuando pelo espaço, pois a velocidade adquirida não é suficiente para vencer a atração gravitacional. Para escapar da Terra, um corpo precisa estar a aproximadamente 11 km/s.
Parecem cenários dos mais assustadores filmes de Hollywood, não? Ainda bem que tudo não passa de suposições baseadas em uma situação impossível de acontecer. Ou não?
Fonte: Olhar Digital