Uma investigação feita por pesquisadores da Climate Analytics, organização da Alemanha sem fins lucrativos, com o Imperial College London, na Inglaterra, analisou se quatro empresas de combustíveis fósseis seguiam metas para cumprir as propostas do Acordo de Paris.
Publicados na última terça-feira (16) no periódico Nature Communications, os resultados apontam um atraso para alcançar os níveis que seriam desejáveis até 2050.
Para saberem se as metas do Acordo de Paris, firmado em 2015, poderiam ser atingidas no prazo pelas empresas, os pesquisadores criaram seis cenários baseados em dados institucionais publicados entre 2020 e 2021. Com disso, calcularam a temperatura emitida em cada uma das situações hipotéticas.
A necessidade de criar os cenários vem do fato de que os dados cedidos pelas empresas de combustíveis fósseis para respaldar alegações de consistência do Acordo de Paris nem sempre são claros — o que dificulta a comparação com outros achados da comunidade científica.
As conclusões da pesquisa apontam um futuro com escassez de energia para diferentes setores econômicos e projetam quais fontes de energia seriam necessárias para supri-las. Entre as seis circunstâncias criadas, quatro foram desenvolvidas somente para o gasto energético de empresas petrolíferas.
No caso, dois cenários utilizaram a British Petroleum (BP), um utilizou a multinacional Royal Dutch Shell e outro a norueguesa Equinor. Além disso, os outros dois cenários foram desenvolvidos baseando-se na Agência Internacional de Energia (IEA).
Os cenários servem para mapear se as temperaturas analisadas são condizentes para alcançar o Acordo de Paris e com qual urgência será necessário reduzir as emissões de gases do efeito estufa em setores diferentes para cumprir as metas.
O próximo passo dos pesquisadores foi comparar os dados dos cenários com o Modelo de Avaliação Integrada do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os achados são preocupantes. “A maioria dos cenários que avaliamos seriam classificados como inconsistentes com o Acordo de Paris, pois não limitam o aquecimento a bem abaixo de 2ºC, muito menos 1,5ºC, e excederia o limite de aquecimento de 1,5ºC por uma margem significativa”, comenta o coautor Robert Brecha, em nota.
A análise da Equinor mostra um pico de aquecimento médio de 1,73ºC em 2060 — mesmo valor apresentado para British Petroleum em 2058. No caso da Shell, em 2069, o pico seria de 1,81ºC. A menor média foi do segundo cenário da British Petroleum, com um aquecimento médio de 1,65ºC. Mesmo assim, é um valor alto para os critérios do Acordo de Paris.
Um dos únicos cenários que estão alinhados com os critérios de consistência do Acordo de Paris, para os pesquisadores, é o da IEA em 2050. Entretanto, ele irá aumentar para 1,78ºC após seis anos, em 2056. “Mesmo exceder temporariamente o aquecimento de 1,5°C levaria a impactos catastróficos e enfraqueceria severamente nossa capacidade de adaptação às mudanças climáticas”, comenta Bill Hare, CEO e cientista sênior da Climate Analytics.
Outro tópico avaliado foi o uso de carvão e gás, que também estão descritos no Acordo de Paris. Para compensar as emissões de carvão, em muitos casos o reflorestamento é escolhido. Contudo, as análises mostram que a medida é insuficiente.
“Embora proteger as florestas existentes e reflorestar mais regiões seja bom, em um mundo de terras limitadas e condições de crescimento cada vez mais desafiadoras, não é sensato confiar demais nas florestas para nos salvar do uso contínuo de combustíveis fósseis”, comenta Robin Lambol, que também assina o estudo.
A partir de todas essas informações, a pesquisa consegue fornecer aos formuladores de políticas ferramentas para avaliar criticamente cenários publicados por várias instituições públicas, comerciais e acadêmicas, descrevendo como as metas deverão ser cumpridas.
Fonte: Galileu