Rússia interrompe novamente fluxo de gás para Alemanha

Estatal russa alega trabalhos de manutenção no gasoduto Nord Stream 1 e diz que interrupção deve durar três dias. Governo alemão questiona justificativa, mas diz estar preparado.

A estatal russa Gazprom interrompeu novamente nesta quarta-feira (31/08) o fornecimento de gás para a Europa Ocidental através da Alemanha pelo gasoduto Nord Stream 1, alegando trabalhos de manutenção. O fluxo de combustível, segundo a empresa, deve ser retomado no próximo sábado.

O presidente da Agência Federal de Redes de Energia da Alemanha (Bundesnetzagentur), Klaus Müller, afirmou que a argumentação da Gazprom é “tecnicamente incompreensível”, mas disse que a Alemanha está agora mais bem preparada do que quando o fornecimento pelo gasoduto foi interrompido em julho.

Segundo ele, as instalações de armazenamento de gás estão quase 85% cheias. Além disso, a Alemanha vem reduzindo paulatinamente sua dependência do gás russo, que representou 55% do consumo do país em 2021 – essa parcela foi reduzida para apenas 9,5% em agosto. As importações de gás da Noruega e da Holanda agora têm mais peso no consumo do país.

A Alemanha acusa Moscou de usar a energia como “arma”, enquanto a Rússia insiste que as interrupções se devem às sanções aplicadas após a invasão russa da Ucrânia.

Ao responder uma pergunta a respeito da retomada do fornecimento de gás, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, disse que “há uma garantia de que, com exceção dos problemas técnicos causados pelas sanções, nada interfere no fornecimento”. Ele acrescentou que países ocidentais “impuseram sanções contra a Rússia, que não permitem manutenção e trabalhos de reparo normais”.

O fluxo de gás foi paralisado na manhã desta quarta-feira, mostraram dados da Rede Europeia de Sistemas de Transmissão de Utilidades de Gás (Entsog). Em seguida, a Gazprom anunciou que o trabalho planejado em uma estação de compressão já havia começado.

Fornecimento reduzido

Em julho, a estatal russa já havia interrompido por dez dias o fornecimento de gás para a Alemanha. Na época, a empresa também atribuiu a medida a trabalhos de manutenção.

Entretanto, desta vez o atual trabalho de manutenção foi anunciado com menos de duas semanas de antecedência e está sendo realizado pela Gazprom, não pela Nord Stream AG.

A Gazprom vinha enviando diariamente cerca de 33 milhões de metros cúbicos de gás para a Alemanha via Nord Stream 1, correspondente a 20% da capacidade máxima do duto. A razão informada pela Rússia para a redução do fluxo é a manutenção de uma turbina da Siemens, que segundo Moscou não pode ser entregue à Rússia por causa das sanções ocidentais, o que Berlim refuta.

Na noite de terça-feira, a Gazprom já havia interrompido completamente as entregas ao grupo francês Engie. A razão para isso, segundo a companhia russa, seriam pagamentos pendentes, de acordo com a empresa. Depois que sanções foram impostas à Rússia, Moscou também cortou completamente o fornecimento para a Bulgária, Dinamarca, Finlândia, Holanda e Polônia e reduziu os fluxos através de outros dutos.

Momento de tensão

As interrupções do fluxo via Nord Stream 1 pressionam os países europeus enquanto eles se apressam para encher seus tanques de armazenamento de gás antes do inverno, com receio de que a Rússia possa interromper o fornecimento completamente.

A mais recente interrupção no fluxo de gás ocorre em um momento em que o mercado de energia já está tenso, com reflexos nos preços do gás no atacado. Com os meses de inverno se aproximando, os consumidores na Europa estão cautelosos por causa dos altos preços de energia. Países como a França alertaram que o racionamento é uma possibilidade.

Os líderes da UE apelaram aos cidadãos para reduzirem o uso de energia. Muitos europeus estão cortando voluntariamente seu consumo de energia, limitando o uso de aparelhos elétricos, e empresas europeias também tomaram medidas para reduzir o uso de energia.

Governo alemão diz estar preparado

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou na terça-feira que o país está bem preparado para enfrentar uma possível escassez de energia caso a Rússia reduza ainda mais o fornecimento de gás. “Seremos capazes de lidar muito bem com as ameaças que enfrentamos da Rússia, que está usando o gás como parte de sua estratégia na guerra contra a Ucrânia”, disse.

Espera-se que a Alemanha em breve anuncie uma decisão sobre a ampliação da vida operacional de suas três usinas nucleares restantes.

Existem também planos para reduzir a dependência alemã do gás russo e substituir as importações até meados de 2024. Em Lubmin, onde o Nord Stream 1 chega à costa, estão em andamento preparativos para construção de terminais de gás natural liquefeito (GNL) para receber importações do insumo de outros países, como dos Estados Unidos. 

Fonte: Deutsche Welle