Em estudo publicado no último dia 22 de agosto na revista The Cryosphere, pesquisadores reconstruíram a topografia de todas as geleiras suíças em 1931, comparando as reconstruções do passado com dados da década de 2000. Com isso, eles concluíram que o volume de gelo nas localidades caiu em 50% ao longo de 85 anos.
A redução acentuada ocorreu entre os anos de 1931 a 2016, conforme os cientistas. Mas a perda de gelo está agora cada vez pior com o passar dos anos: só entre 2016 a 2021, a taxa de derretimento das geleiras suecas aumentou em mais de 12%.
Para chegarem nessas conclusões, os glaciologistas utilizaram uma técnica de estereofotogrametria com o objetivo de descobrir a forma, posição e natureza das geleiras em imagens. Eles consultaram também o acervo da agência nacional sueca Swisstopo, que reúne dados de 7 mil locais dos Alpes suíços.
Por meio de uma combinação de uma câmera e um dispositivo de medição de ângulo, as imagens da Swisstopo cobrem, além do mais, cerca de 86% da área glacial da Suíça. Os cientistas analisaram assim cerca de 21,7 mil fotografias tiradas entre 1916 e 1947.
“Com base nessas fotos, determinamos a topografia da superfície da geleira. Se conhecermos a topografia da superfície de uma geleira em dois pontos diferentes no tempo, podemos calcular a diferença no volume de gelo”, explica Erik Schytt Mannerfelt, autor principal da pesquisa, em comunicado.
Já que tinham imagens de vários anos diferentes, os pesquisadores escolheram o ano 1931 como referência, construindo a topografia de todas as geleiras daquele ano. No século passado, as mudanças nas geleiras eram detectadas por observações a longo prazo, medições em campo e fotografias áreas, tiradas somente após 1960, o que também foi considerado pelos glaciologistas.
A equipe reconstruiu o balanço de massa de cada uma das geleiras, ou seja, a diferença entre ganho e perda de massa. A pesquisa mostrou, contudo, que nem todos os amontoados de gelo estão perdendo volume na mesma proporção.
A perda de massa depende de três fatores: altitude, quão achatado o topo da geleira e a quantidade de detritos. Isso sugere que as geleiras não recuaram em todos os anos — nas décadas de 1920 e 1980 houve um crescimento esporádico da massa delas. Ainda assim, o clima do século 20 foi extremamente desfavorável aos alpes suecos.
“Embora possa ter havido crescimento em períodos de curto prazo, é importante ter em mente o quadro geral. Nossa comparação entre os anos de 1931 e 2016 mostra claramente que houve um recuo glacial significativo durante esse período”, salienta Daniel Farinotti, professor de Glaciologia na ETH Zurich e WSL, e coautora do estudo.
Outra questão alarmante é que o volume total das geleiras está diminuindo a um ritmo cada vez mais rápido, conforme confirmou a rede de monitoramento GLAMOS, gerenciada pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich). “Observar de perto esse fenômeno e quantificar suas dimensões históricas é importante porque permite inferir as respostas das geleiras a uma mudança climática. Essas informações são necessárias para desenvolver cenários confiáveis para futuras mudanças nas geleiras”, diz Farinotti.
Fonte: Galileu