Além dos benefícios socioambientais, conservar a natureza também pode ser um negócio rentável. Negócios e investimentos de impacto – termos que têm ganhado espaço no desenvolvimento de novos modelos de geração de renda – trazem essa perspectiva. Eles objetivam garantir retorno socioambiental positivo à sociedade e ganho financeiro ao empreendimento, simultaneamente. Nesse contexto, o projeto Ateliê Bicudinho-do-Brejo, desenvolvido no litoral paranaense, é um exemplo.
A partir de um programa de conservação da espécie, conduzido há mais de 20 anos com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a bióloga e idealizadora da Reserva Bicudinho-do-Brejo, Bianca Reinert, encontrou na arte com cerâmica uma nova forma de homenagear o passarinho e fazer com que as pessoas olhassem e valorizassem o ambiente ao redor dele. “Entendemos que os negócios também podem e devem gerar formas de conservação da natureza. Está mais do que na hora de entendermos que a conservação não deve contar apenas com recursos de caráter filantrópico, mas também com recursos privados. No caso do bicudinho, a reserva tem potencial de captar recursos e o ateliê apoia na sensibilização de atores de outras áreas do conhecimento para a causa”, comenta Thiago Valente, analista de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário.
Legado
Foi em 2016, por conta de um câncer que a impedia de continuar indo a campo, que Bianca Reinert, falecida em setembro de 2018, deixou o seu lado artístico falar mais alto e começou a produção de colares de argila. Nesse momento, a parceria e o apoio do marido – e também biólogo –, Ricardo Lopes, foram essenciais, sendo ele o primeiro a modelar um pequeno passarinho de cerâmica. A partir daí, o projeto desenvolveu uma série de produtos artísticos – entre canecas e outros artigos, acessórios e um livro – que sustenta a ação, sem auxílio financeiro de outros atores. “Iniciamos esse trabalho pensando somente na renda que teríamos para ajudar no projeto da reserva. Do valor arrecadado, uma parte fica para o projeto e outra para as despesas do ateliê. Nessa iniciativa sempre fomos eu e ela, mas contamos com a ajuda de algumas pessoas que embarcaram nessa jornada com a gente”, conta Lopes.
Ao unir arte e conservação, informação e cultura, Ricardo deseja tornar conhecido um mundo tão próximo das pessoas, mas ainda pouco apreciado: o da natureza. O ateliê tem como objetivo gerar recursos para a manutenção do Projeto Bicudinho-do-Brejo na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaratuba, que continua ativa pela conservação da espécie e em memória à Bianca. O estúdio está atualmente montado na residência de Ricardo, mas a intenção é mudar a estrutura para uma chácara em Piraquara (PR). “Hoje, nossa venda é por meio da divulgação que fazemos nas redes sociais e em algumas lojas de aromaterapia, que comercializam nossos produtos, entre eles um colar difusor de óleos essenciais aromáticos na forma do passarinho”, conta o biólogo.
Recentemente, o ateliê participou do Projeto Legado 2018 com o objetivo de refinar seu modelo de negócio para ampliar seu impacto socioambiental. A Fundação Grupo Boticário contribuiu tecnicamente para que o projeto do bicudinho se encaixasse nas normas e seguisse adiante. A iniciativa reuniu 44 organizações em uma jornada que incluiu mentorias e capacitações nas áreas de marketing, gestão de projetos, planejamento e aspectos jurídicos. Após essas ações, uma pré-banca foi realizada e dali selecionadas as doze organizações mais promissoras, entre elas o Ateliê. “O projeto não ficou entre os três selecionados, mas, é importante ressaltar que o Ateliê Bicudinho-do-Brejo é um projeto novo e que tem muito a crescer”, comenta Thiago Valente.
De acordo com Julyanna Costa, coordenadora do Projeto Legado, a participação de iniciativas como a do Ateliê é muito importante porque traz para o debate do ecossistema de empreendedorismo social também o aspecto ambiental. “Para o Ateliê, a maior contribuição do Projeto foi a descoberta de um modelo de negócio sustentável, que permite que o trabalho deles alcance maior escala e faz com que o impacto deles seja ainda maior e mais eficiente. Outra coisa importante foi que despertamos a ideia de envolver a comunidade para aumentar a equipe, e agora eles vão dar empregos na região e criar uma rede de artesãos locais envolvidos com o projeto”, comenta Julyanna.
Sobre a Reserva Bicudinho-do-Brejo
A Reserva Bicudinho-do-Brejo, adquirida em 2009, está localizada na entrada da Lagoa do Parado, no município de Guaratuba (PR). Está em andamento o processo de criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) na região. Atualmente, a reserva tem 43 hectares e conta com uma casa com capacidade para oito pessoas, a qual é usada como base para pesquisa. Na área, além do próprio bicudinho-do-brejo, podem ser encontradas outras espécies de aves ameaçadas, como a maria-da-restinga, a maria-catarinense, o papagaio-da-cara-roxa, o apuim-de-costas-pretas e a saíra-sapucaia, revelando grande potencial para uso público e observação de aves, mecanismos que também podem desenvolver economicamente a região.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
A Fundação Grupo Boticário é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial. A Fundação Grupo Boticário apoia ações de conservação da natureza em todo o Brasil, totalizando mais de 1.500 iniciativas apoiadas financeiramente. Protege 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado, por meio da criação e manutenção de duas reservas naturais. Atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e nas políticas públicas, além de contribuir para que a natureza sirva de inspiração ou seja parte da solução para diversos problemas da sociedade. Também promove ações de mobilização, sensibilização e comunicação inovadoras, que aproximam a natureza do cotidiano das pessoas.
Fonte: Fundação Grupo Boticário