Coronavírus e o meio ambiente: Será a degradação ambiental propulsora da pandemia?

“Os seres humanos e a natureza fazem parte de um sistema interconectado. A natureza fornece comida, remédios, água, ar e muitos outros benefícios que permitiram às pessoas prosperar”, disse Doreen Robinson, chefe para a Vida Selvagem no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Esta descrição se trata do conceito do ser humano como parte do ecossistema, e por sua vez, que igualmente o influencia, seja positivo ou negativamente.

Fonte: Domtotal

No mesmo período, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que um animal silvestre foi a provável fonte de transmissão do coronavírus (COVID-19), por meio do consumo humano – Transformando uma zoonose (doença que se manifesta sobretudo em animais) para uma doença humana.

O que nos leva a seguinte pergunta – Afinal, a degradação do meio ambiente foi a propulsora da pandemia do coronavírus?

Tudo indica que sim. Isto por que, um dos impactos principais da degradação ambiental é a redução de habitats dos animais silvestres, através do desmatamento e queimadas. Quando este espaço natural é reduzido, eles começam a interagir com animais domésticos e seres humanos, visto que sua fronteira natural já não mais existe.

Floresta e pastagem. Fonte: Ecodebate

Esta aproximação, segundo cientistas, pode estimular e diversificar doenças, visto que os patógenos conseguem se espalhar facilmente em seres humanos e em rebanhos – e além disso, podem sofrer mutações durante este processo.

No caso do coronavírus, ele já existe a muito tempo no meio ambiente, provavelmente alojado em morcegos nativos de cavernas intocadas, sem qualquer interação humana. Entretanto, a partir do momento que esta barreira natural foi rompida, com a comercialização e consumo destes animais selvagens, o vírus quebrou seu ciclo natural e iniciou sua transmissão em outros seres vivos. Neste caso, nos humanos, cujo organismo não está preparado para combatê-lo.

Sopa de morcego, prato comum em alguns países. Fonte: Revista News

E este não é o primeiro caso, recentemente várias doenças emergentes que geraram epidemias ou pandemias foram passadas de animais para seres humanos – como o ebola, a gripe aviária, a febre do Vale do Rift, a febre do Nilo Ocidental e o Zika Vírus.

Estas doenças emergentes, também geram um grande impacto econômico associado, seja nas ações para conter a transmissão, para manter as estruturas de saúde e dos serviços essenciais, além de medidas para reduzir os impactos na economia.

Foi estimado, com base em outros surtos ocorridos no passado, gastos diretos no ordem dos 100 bilhões de dólares, podendo passar para trilhões caso se tornem pandemias humanas, como esta que estamos vivenciando.

Outro importante propulsor no surgimento de novas zoonoses é a poluição de corpos hídricos, seja pelo esgoto sem tratamento, pelo despejo indevido de produtos químicos e pelo descarte incorreto de resíduos. Tal fator é igualmente danoso e reduz a viabilidade da manutenção da vida de uma série de animais mais sensíveis a poluentes.

Ou seja, este sistema altamente interconectado e complexo do planeta, exige que o ser humano o conheça em detalhes, que entenda seus limites, para que sua utilização seja equilibrada e capaz de manter-se a longo prazo.

Diante deste relato, não há dúvidas que o coronavírus trouxe à tona que a humanidade precisa repensar a forma como utiliza os recursos naturais. É necessário uma mudança cultural na forma como consumimos, produzimos e nos relacionamos com a natureza.

Maria Beatriz Ayello Leite
Redação Ambientebrasil