Coronavírus e o meio ambiente: O que podemos aprender com a pandemia?

Isolamento social, proibição de aglomerações, ruas vazias, fluxo de veículos reduzido, restrição de atividades econômicas. Não há dúvidas que este congelamento das atividades humanas, está trazendo um alento a natureza e forçando as pessoas a se reinventarem.

Registros pelo mundo: Natureza e o coronavírus

Desde o início da pandemia tem se noticiado e estudado as mudanças que a redução da poluição – devido as quarentenas no mundo todo – tem repercutido nos habitats naturais.

Na China, imagens de satélite registraram um expressivo declínio na poluição em virtude da redução dos níveis de dióxido de nitrogênio. Recentemente, cidades como Paris, Madri, Milão e Frankfurt tiveram o mesmo registro, em alguns casos com redução dos níveis médios de dióxido de nitrogênio de até 56%, em comparação a semanas anteriores.

Comparação dos níveis de dióxido de nitrogênio na atmosfera na França em março de 2019 (esquerda) e março de 2020 (direita). Crédito: Copernicus Sentinel (2019-20) processados por KNMI/ESA. Fonte: Sapo Notícias

Em locais próximos a praias – com restrições de acesso impostas como medida para conter a transmissão do coronavírus – observou-se uma maior aproximação de animais, agora mais confiantes de aparecerem nas margens devido a menor movimentação.

Em uma das cidades icônicas da Itália, nos famosos canais de Veneza, as fotografias revelam águas cristalinas, sem o tráfego das embarcações e turistas, o que permite que os sedimentos fiquem no fundo e aumentem a visibilidade.

Canais de Veneza, Itália.

No curto prazo, durante a pandemia, as emissões de CO2 de fato estão diminuindo, tendo em vista o grande volume de aviões sendo imobilizados nas pistas dos aeroportos e dos veículos que estão na garagem.

Mas será que após a pandemia terminar, vivenciaremos uma retomada econômica brusca e afoita, com registros pelo mundo de emissões maiores dos que as anteriores ao surto?

Hora do Planeta

No momento, ainda é difícil prever, mas este tema foi debate em um dos eventos internacionais mais simbólicos do mundo, no que diz respeito ao combate às mudanças climáticas – a Hora do Planeta – quando as pessoas são convidadas a apagar as luzes das suas casas e cidades por uma hora. Neste ano, a iniciativa aconteceu no sábado, 28 de março, iniciando às 20h30 (horário de Brasília), em mais de 180 países.

A pandemia do coronavírus também influenciou no cronograma deste evento, com a hashtag #EarthHour (“Hora da Terra”, em inglês), participantes foram convidados a assinar uma petição online que será enviada aos líderes globais com apelos pela conservação do meio ambiente.

O principal tema discutido, é que passada a pandemia e com a economia mundial tendo grandes chances de terminar o ano em recessão, os governos mundo afora desejarão acelerar como nunca a atividade econômica. Por tabela, podem fechar os olhos para ações poluentes e reduzir os esforços ambientais.

Tal fator também foi comentado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), no que tange ao pouco efeito dos impactos positivos no clima, pela possibilidade de que a partir da retomada econômica pós pandemia, os níveis dos poluentes voltem aos cenários anteriores.

Um outro olhar, é que esta experiência que estamos vivendo – uma das mais traumáticas da história moderna – pode ser relevante para sairmos dela mais preparados para os desafios ambientais.

Aprendizados

O principal ponto é que apesar de não sabermos ainda como será o desenrolar das coisas após o término da pandemia, toda a geração que passou por este trauma – em escala mundial – sairá com novas visões sobre o mundo.

Este longo período, que ainda segue em curso, de trabalho em regime de home office, redução de viagens e restrição de eventos com grandes multidões, vem alterando nossos hábitos e, de certo modo, incentivando o mundo todo a refletir sobre este momento.

Esta crise pode nos levar a pensar em formas diferentes de prevenção a novas pandemias e a evitar novas crises – como a das mudanças climáticas, inclusive.

Pensando nisso, descrevemos algumas atitudes e aprendizados que poderão ser reforçados em um mundo pós pandemia:

  • Inovações para trabalhos à distância: Uma coisa é certa, as empresas – e instituições públicas – tiveram que sair obrigatoriamente da zona de conforto e prover soluções efetivas para continuidade do trabalho durante a pandemia. Inovações neste sentido podem se tornar mais comuns, com líderes mais capacitados e ferramentas que estimulem a produtividade e foco nos resultados, mesmo durante épocas de crise.
  • Expansão de eventos online: Antes da pandemia, a utilização de redes sociais e plataformas online para eventos já era comum, mas temos visto esta prática alcançar novos horizontes. Como por exemplo vídeos em tempo real nas redes sociais de aulas, de shows e de teatros. Outro importante uso destas plataformas em época de quarenta está sendo para jogos online com amigos e de happy hour a distância.
  • Maior credibilidade à ciência e sua capacidade de antecipar crises: Isso já está acontecendo, os cientistas haviam avisado no passado que era questão de tempo para que este tipo de pandemia ocorresse. Agora, estes profissionais, assim como tantos outros, estão a frente na batalha em prover soluções para o combate ao coronavírus. Esperamos que isto reforce a voz destes importantes grupos em momentos de decisão no mundo todo.
  • Maior compreensão da conexão do planeta: Conexão tanto em termos de globalização, visto pela evolução da transmissão do vírus entre os países, como também, nas formas de contenções, por meio de fechamento de fronteiras e restrições de fluxos aéreos, terrestres e marítimos. O mundo se tornou mais conectado e estamos conseguindo perceber isso claramente.
  • Críticas a atividades que façam uso de animais, podendo gerar novas doenças: Apesar dos alertas científicos no passado, este é um assunto que provavelmente irá surgir em maior intensidade. Muitos dos processos de produção industrial de animais criam vulnerabilidades para o surgimento de doenças potencialmente catastróficas. Ao que tudo indica, o Covid-19 veio de práticas de armazenar animais selvagens presos em jaulas sem condições de higiene, para consumo humano na China. As condições de criação nestes casos envolvem animais com pouca variedade genética, submetidos a condições de baixa imunidade. Com o trauma do coronavírus as autoridades e consumidores, tendem a ficar mais atentos as medidas de precaução.
  • Maior sensibilidade ao impacto das atividades industriais na natureza: As notícias e fotografias pelo mundo de regiões com o ar mais limpo, redução expressiva de poluentes vistas em imagens de satélite, os animais silvestres caminhando tranquilamente em áreas urbanas vazias. Desde o início da quarentena nos países, a natureza nos deu uma lição de como a impactamos diariamente, dando ao mundo uma oportunidade de refletir sobre isso.
  • Valorização do simples e das conexões humanas: Nestes momentos de angústia e incerteza que estamos vivendo, aliado ao maior tempo em casa com a família, tem gerado um senso de aproximação. É natural do ser humano, estamos vivenciando pessoas do mundo todo sentindo as mesmas emoções e passando pelas mesmas experiências. Um passeio ao sábado pela manhã com a família, sair com os amigos, ir para um happy hour com os colegas de trabalho, o distanciamento social tem nos mostrado o quanto as coisas simples do dia a dia nos fazem falta.

O principal neste momento é a superação deste desafio em comum aos países, mas devemos focar também, em como sair dessa situação melhores do que antes, resilientes frente a crise e mais aptos a nos desenvolver de forma sustentável.

Maria Beatriz Ayello Leite
Redação Ambientebrasil