Redação AmbienteBrasil
Dois municípios brasileiros – um no Rio de Janeiro; o outro, em São Paulo – estão dando exemplos significativos de que os problemas a afligir a raça humana podem ser enfrentados com criatividade e eficiência.
O primeiro é Nova Iguaçu, em plena Baixada Fluminense, região carioca conhecida por seus altos índices de criminalidade. Na tentativa de transformar esse quadro – e essa fama -, foi inaugurado na cidade, no domingo 19, o segundo Parque dos Brinquedos do país. Nele, gangorras, balanços e escorregador tiveram como matéria-prima ferro reciclado, obtido de armas entregues na Campanha Nacional de Desarmamento que o Ministério da Justiça encerra hoje, 23 de junho.
O processo de transformação de armamentos em brinquedos teve várias etapas e foi integralmente executado por meio de doações, sem ônus para a União. Começou com a entrega das armas recebidas pela Polícia Federal e encaminhadas ao Exército. De lá, seguiram para a Siderúrgica Flanaço, em Osasco (SP), onde foram derretidas e transformadas em lingotes. Esses lingotes foram enviados à Siderúrgica São Joaquim, em São Joaquim da Barra (SP), para serem produzidas as chapas de aço. Estas seguiram para a Siderúrgica Soufer, em Campinas, onde foram cortadas em tiras para a fabricação dos tubos metálicos. O processo de design, fabricação e montagem das peças foi feito pela Lao Engenharia, em Itu. Pintura e instalação dos brinquedos ficaram a cargo da própria comunidade do Conjunto Residencial Grão Pará, onde está funcionando o parque.
A festa de inauguração do Parque, comandada pela cantora Preta Gil, contou com a presença dos ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, da Cultura, Gilberto Gil, e do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que aproveitou o ensejo para lançar mais uma campanha. Esta vai incentivar crianças do Município a se livrarem das armas de brinquedo, trocando-as por um livro e por outro brinquedo, mais saudável. “É a tentativa de mudar uma cultura de violência que existe na Baixada Fluminense”, disse a ambientebrasil Regina Peixoto, assessora de Imprensa da Prefeitura de Nova Iguaçu. A previsão é que, em dois meses, essa campanha esteja em plena operação.
O primeiro Parque dos Brinquedos, igualmente construído com ferro de armas entregues à Campanha do Desarmamento, foi instalado em Sapopemba, na periferia de São Paulo, em novembro do ano passado. Sendo a reciclagem iniciativa reconhecidamente benéfica à preservação dos recursos naturais, nesse caso, ela tornou-se também emblemática de que o poder transformador não se restringe a matérias-primas: pode efetivar também a evolução humana.
A cidade de Guarulhos, em São Paulo, também se esmerou em uma campanha de coleta de lixo reaproveitável. Batizado de “Guarulhos Limpa”, o programa tem por objetivo recolher e reciclar artigos que, de outra forma, acabariam descartados de forma incorreta pela população, a exemplo de entulhos (resíduos de construção, ferro, argamassa e solo), móveis, sobras de poda de árvores, utensílios inaproveitáveis e materiais de coleta seletiva (plástico, papel, vidro e metal).
A população participa ativamente do trabalho. Foram desenvolvidos, no ano de 2003, os PEVs, Pontos de Entrega Voluntária de Entulho e Lixo Seco Reciclável, que já estão em dez unidades espalhadas por Guarulhos. “A previsão é de que a Prefeitura construa mais 14 unidades”, afirma Paulo Gonçalves, diretor do Departamento de Limpeza Urbana da cidade. A administração pública também festeja menores impactos sobre seus cofres. “Deixamos de gastar R$ 360.000 por mès em coleta de lixo”, comenta ele.
E os benefícios não são apenas financeiros. Com a ação da Prefeitura, problemas ambientais como o descarte irregular de lixo terminam se não resolvidos, ao menos minimizados. E do material arrecadado, praticamente tudo se aproveita – e bem. “Passamos itens recicláveis para o Fundo Social de Solidariedade, que vende os artigos e mantém seus projetos. Além disso, as sobras de podas de árvores são encaminhadas ao Horto Municipal, que as mistura com outros compostos para a fabricação de adubo orgânico”, diz Paulo Gonçalves. Os entulhos recebidos pelos PEVs também são de grande valia: depois de triturados, eles substituem a brita que seria utilizada na asfaltamento de ruas de Guarulhos.