Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Em qualquer feira de artesanato no Paraná pode-se encontrar diversos objetos ilustrados com a araucária, árvore símbolo daquele estado, conhecida popularmente como pinheiro-do-paraná. Um seminário realizado anteontem, na sede da Emater em Curitiba, veio lançar novas luzes sobre a tarefa de manter sustentável a exploração comercial da Floresta Ombrófila Mista, a denominação científica da floresta de araucárias.
Organizado pela Embrapa Florestas e pelo Projeto Paraná Biodiversidade, o evento foi o sexto de uma série de reuniões técnicas, sempre enfocando os desafios da busca de soluções para um convívio harmonioso e perene entre os seres humanos e seu meio ambiente.
No caso das florestas de araucárias, tais estudos são urgentes. Da cobertura original no Paraná, restou apenas um por cento em bom estado. Outros 16% de florestas, apresentam-se fragmentados ou em estágios de conservação entre ruins e medianos.
A criação de Unidades de Conservação, medida tida como prioritária pelo Governo Federal – que propôs oito delas nos estados do Paraná e de Santa Catarina -, não é, por si só, uma solução, segundo o professor Jarbas Shimizu, da Embrapa Florestas, um dos palestrantes no seminário. “As UCs só conservam a biodiversidade naquele local, mas são ineficazes para conservar a variabilidade genética das espécies florestais”, explicou ele.
O pesquisador sugeriu, como estratégia complementar à criação de Unidades de Conservação, a implantação e manejo de “povoamentos florestais mono ou multi-usos específicos para a conservação mediante uso”. Na prática, a proposta com os produtores a responsabilidade pelas florestas de araucárias, o que, para eles, teria a vantagem de valorizar as respectivas propriedades e gerar renda pelo instrumento da reserva legal.
Para a natureza, as principais vantagens seriam o estabelecimento de uma ampla rede de conservação, que preservaria a variedade ecotípica, criando inclusive corredores ecológicos entre grandes fragmentos de florestas remanescentes.
Porém, incorporar as pequenas e médias propriedades à tarefa de recompor e conservar as araucárias tem sido uma missão desestimulada pelo próprio Governo Federal. “Proibir o corte das araucárias na nossa região é uma catástrofe. Os produtores a estão considerando uma árvore maldita, quando trata-se de uma árvore salvadora”, disse no evento o empresário e engenheiro florestal Luciano Pizzatto, responsável por 7.500 hectares de florestas no sul do Paraná, trabalhadas com manejo há 30 anos e utilizadas pela mesma empresa há 75 anos.
“Quando se elimina a sustentabilidade econômica de uma espécie, o que acontece é que perde-se o interesse em plantá-la”, colocou ele. Pizzatto registrou ainda que nem a certificação do FSC (Forest Stewardship Council), atestando o manejo sustentável de suas florestas, foi capaz de sensibilizar o Governo Federal na autorização para o corte, o que já resultou na demissão de mais de 230 trabalhadores de seu quadro funcional.
Disseminar os exemplos bem sucedidos de convivência entre conservação e uso sustentável nas propriedades que contenham Floresta Ombrófila Mista é justamente um dos principais objetivos do ciclo de discussões técnicas. “Temos que fazer uma força para que o pessoal comece a reproduzir essas experiências”, disse a AmbienteBrasil a pesquisadora da Embrapa Florestas, Yeda de Oliveira.
O professor Rudi Arno Seitz, do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná, explicou no seminário que a araucária não está ameaçada de extinção como espécie vegetal. O ecossistema natural de Floresta Ombrófila Mista é que encontra-se praticamente extinto. Segundo ele, como o pinheiro-do-paraná tem grande potencial comercial, deve ser plantado em alta densidade, sobretudo porque a espécie apresenta alta variabilidade genética. “A floresta funcional precisa de manejo silvicultural”, defendeu Seitz.
A conservação foi a tônica de todos os palestrantes, com ênfase à proteção da biodiversidade comentada pelo representante da ONG SPVS, Ricardo Britez. Contrariando a posição normalmente divulgada, a maioria dos pesquisadores mostrou, nos resultados de seus trabalhos e avaliações, que não usar e manejar as araucárias ocasiona mais danos do que seu correto uso, sendo fundamental ainda a política para recuperar as áreas secundárias, que, só no Paraná, representam mais de 3 milhões de hectares de florestas, incluindo as capoeiras.
Esta posição não se confunde com o uso indiscriminado nem com o estímulo ao fomento ou conversão de áreas, mas é um forte indicativo de que as autoridades precisam criar políticas urgentes para uso racional da espécie e para a manutenção de programas de conservação de seu potencial genético.
Saiba mais sobre a Floresta Ombrófila Mista no Ambiente Natural