EXCLUSIVO: Sociedade se mobiliza contra devastação da Serra Vermelha, no Piauí

Neide Campos / AmbienteBrasil

A Serra Vermelha é considerada a última floresta do semi-árido, tendo no seu interior vegetação de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Localizada no sul do Piauí, entre os municípios de Bom Jesus, Morro Cabeça no Tempo, Curimatá e Redenção do Gurguéia, a Serra Vermelha vem sendo devastada através de um projeto que tem o apoio do governo do Estado e do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

O Projeto Energia Verde de Manejo Florestal Sustentável, da empresa JB Carbon, tem o objetivo de produzir 221 toneladas/ano de carvão vegetal. O projeto deve consumir 78 mil hectares de floresta. Segundo a empresa, a técnica de exploração utilizada é a de Talhadia Simples, que é corte raso sem destoca e sem fogo, para minimizar os impactos ambientais respeitando as restrições estabelecidas pela legislação ambiental.

“O Projeto é desmatamento disfarçado de Manejo Florestal”, diz o presidente da Fundação Rio Parnaíba, Francisco Soares. Segundo ele, já existem 300 fornos na região queimando a floresta dia e noite.

Para tentar conter o que pode ser o maior desmate do Nordeste, a Fundação Rio Parnaíba juntamente com Fundação Velho Monge, Fundação Cultural Raízes do Piauí, Fetag – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piauí, Fórum do Semi-árido, Sindicato dos Jornalistas do Estado do Piauí, Fumdham – Fundação Museu Homem Americano, Fundação Nogueira Tapety e Fonasc-CBH/PI – Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas criaram a Campanha SOS Serra Vermelha. O objetivo é preservar a floresta, criar o Parque Nacional Serra Vermelha e interromper o projeto Energia Verde.

A campanha, lançada em ato público na sexta-feira (26), reuniu na praça Pedro II, em Teresina (PI), ambientalistas, militantes do movimento sindical e estudantil e representantes da sociedade civil. A Campanha está promovendo um abaixo-assinado que será levado à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e ao presidente do Ibama, Marcus Barros.

“Pretendemos chegar a um milhão de assinaturas. De Teresina, o abaixo-assinado percorrerá outras cidades do Piauí e do Brasil”, diz Francisco Soares.

A campanha também pede que a população ligue (0800 618080) ou mande e-mail (linhaverde.sede@ibama.gov.br) para a Linha Verde do Ibama pedindo a paralisação do Projeto Energia Verde.

“O Projeto, que ironicamente se chama Energia Verde, está a serviço da siderurgia nacional e internacional”, argumenta Francisco. Segundo ele, relatório do Ministério do Meio Ambiente classifica a Serra Vermelha como uma das 900 áreas prioritárias para conservação da biodiversidade brasileira. O lugar ainda abriga fauna e flora desconhecidas pela ciência.

A cobertura vegetal exerce importante papel na recarga dos aqüíferos e do lençol freático do Vale do Gurguéia. Várias nascentes estão na chapada da Serra Vermelha, entre elas a do rio Rangel. “O rio Parnaíba, que há anos vem sendo degradado poderá ser afetado, em breve, por mais esse crime ambiental. Esse processo está fazendo as nascentes morrerem”, adverte o ambientalista.

No começo de 2006, durante uma reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama -, foi aprovada uma moção pedindo que o Ibama enviasse técnicos do órgão a região, para os estudos necessários à criação do Parque Nacional da Serra Vermelha, porém o Ibama preferiu apenas ampliar área do Parque Nacional da Serra das Confusões. A consulta pública para a ampliação da área do Parque foi realizada em dezembro.

O Ministério Público Federal entrou com ação civil pública contra o Ibama, o Condomínio Fazenda Chapada do Gurguéia e a empresa JB Carbon, objetivando a suspensão da implantação do Projeto Energia Verde no município de Curimatá. Segundo os procuradores Tranvanvan Feitosa e Carlos Wagner Barbosa Guimarães, mesmo sendo notória a insustentabilidade ambiental do empreendimento, o Ibama licenciou o desmatamento sem a realização necessária do Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental.