Da quinta-feira passada até ontem, uma série de atos públicos foi realizada, desde Belo Horizonte (MG) até Juazeiro (BA), em prol da revitalização do rio São Francisco e contra o projeto de transposição de suas águas, alvo de questionamentos e polêmicas desde o nascedouro.
A ação, batizada de “jornada de lutas” e articulada por entidades e movimentos populares, teve início na quinta-feira, com a distribuição de cerca de cinco mil panfletos durante o lançamento da Campanha da Fraternidade, no Parque da Cidade. O material fazia alusão a este movimento nacional da Igreja Católica, existente desde 1963.
“A campanha deste ano gira em torno da Amazônia, mas chama as pessoas a se envolverem nas questões ambientais de suas regiões”, explicou a AmbienteBrasil Clarice Maia, da Articulação Popular São Francisco Vivo, movimento encabeçado pela Comissão Pastoral da Terra e Conselho Pastoral dos Pescadores, com participação de várias outras organizações e entidades da região da bacia do Velho Chico.
“Esperamos que os nossos governadores, especialmente da Bahia e daqui de Minas, possam ter uma posição nesta perspectiva, de fortalecer a necessidade de revitalizar o rio e não transpor. Nós contamos com isso e nessa discussão esperamos deles e de toda a sociedade um posicionamento de preservação para que a gente não se arrependa depois”, declarou na solenidade o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, conforme registrado pelo jornal O Tempo.
Também na quinta, o bispo da Diocese de Barra, Dom Luiz Cappio, protocolou carta dirigida ao presidente Lula. Nela, o franciscano pedia a volta do diálogo e medidas políticas “mais lúcidas”.
Dom Cappio personifica hoje a reação ao projeto. No final de 2005, o religioso ganhou notoriedade nacional ao fazer uma greve de fome, durante onze dias, numa capela de Cabrobó, no semi-árido pernambucano. Essa medida extrema – e, principalmente, a repercussão que conquistou na mídia – levou o presidente Lula a suspender o início das obras.
A concretização do projeto foi sendo inviabilizada por sucessivas liminares na Justiça, mas nem por isso ele deixou de constar como uma das prioridades do recém-lançado Programa de Aceleração do Crescimento – PAC -, do Governo Federal.
Organizadas e previstas para acontecer em seqüência, nas regiões que compõem a Bacia do Rio São Francisco, as manifestações não têm data prevista para terminar. A intenção é pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), para que os ministros analisem a questão, uma vez que apenas o ministro Sepúlveda Pertence deu parecer sobre o caso. Além disso, espera-se preparar organizações e movimentos para o ato que acontecerá no mês de março, em Brasília.
Na sexta-feira, ainda em Belo Horizonte, os professores da rede pública municipal foram envolvidos nas discussões. Em três reuniões ocorridas durante o dia, cada uma com 80 escolas, um dos temas abordados foi o apoio à campanha pela revitalização e contra a transposição. Os professores devem paralisar as atividades no dia 28, quando o tema será novamente debatido.
No domingo, o Médio São Francisco se posicionou contra a transposição, num ato que reuniu pessoas das cidades da região em Ibotirama (BA), em paralelo à celebração de lançamento do Diretório Nacional de Catequese, organizado pelas Dioceses de Barreiras, Barra e Lapa. Dom Cappio participou, conduzindo uma apresentação sobre a atual situação de degradação da Bacia.
Ontem, foi a vez do Sub-médio São Francisco se manifestar. Cerca de duas mil pessoas reuniram-se em Juazeiro (BA), partindo em caminhada pelas ruas do centro da cidade, até a cidade de Petrolina (PE), onde aconteceu outro ato.
A manifestação foi articulada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT); Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP); Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro, Curaçá, Santa Maria da Boa Vista, Orocó e Lagoa Grande; MAB; Sindicato dos Assalariados (Juazeiro); Organizações Não Governamentais; Rede de Mulheres; Povos indígenas (Truká e Tumbalalá) e Pastoral dos reassentados.
* Com informações da Comunicação da Articulação Popular São Francisco Vivo.