REPORTAGEM ESPECIAL – O que cada um pode fazer, em seu dia-a-dia, para ajudar no enfrentamento do aquecimento global

Mônica Pinto / AmbienteBrasil (*)

A luta contra o aquecimento global implica em muito mais do que políticas públicas de relevo neste sentido, a exemplo da adesão ao Protocolo de Kyoto. Procedimentos simples, adotados rotineiramente por cada cidadão e cidadã, podem impactar positivamente essa trajetória. Essa foi a mensagem básica do curso “Educação, Mudança Cultural, Política e Desenvolvimento Tecnológico para Enfrentamento das Mudanças Climáticas”, realizado na manhã e tarde da quinta-feira passada, no Jardim Botânico de Curitiba, em promoção do Instituto Ecoclima, com sede na capital paranaense.

Os trabalhos foram conduzidos pela jornalista e educadora ambiental Miriam Duailibi, especialista em Sustentabilidade e coordenadora geral do Instituto Ecoar para Cidadania, sediado em São Paulo (SP), com intervenções do educador ambiental Fábio Saraiva, técnico sênior da entidade.

“O grande foco da nossa preocupação enquanto indivíduos brasileiros tem que ser no combate muito sério ao desmatamento”, advertiu ela. “Vamos ter que chegar ao desmatamento zero, não tem mais negociação quanto a isso”, completou, registrando que o Brasil é o quarto maior emissor de gases causadores de efeito estufa justamente por conta dessa prática. Só entre 2002 e 2005, mais de 75 mil quilômetros quadrados de florestas foram destruídos na Amazônia.

No Brasil, o setor de transportes também merece atenções especiais. Ele é responsável por 15% das emissões de gases de efeito estufa, embora na cidade de São Paulo, por exemplo, este percentual ultrapasse os 50%, conforme o inventário de emissões do próprio Município.

A mudança nos padrões de consumo também foi um ponto bastante enfatizado por Miriam, que lembrou uma máxima do meio ambientalista: “a gente precisa consumir simplesmente para que outros possam simplesmente consumir”.

Nesse campo, os “vilões” são os norte-americanos. Cada cidadão nos Estados Unidos consome 17 vezes mais que um brasileiro, na média. Os EUA emitem 5,9 bilhões de toneladas de CO² por ano, o equivalente a 20 toneladas por pessoa naquele país e 10 vezes mais do que toda a região da África Subsaariana, que tem o dobro da população americana.

A continuar esse padrão, cientistas estimam que um terço de todas as espécies existentes poderão estar extintas até o ano de 2050. O Brasil é um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas e, nesse cenário, a floresta amazônica corre o risco de se tornar um grande cerrado.

A especialista mostrou no curso que, com eficiência energética – o que implica basicamente em menos desperdício – pode-se reduzir em até 47% a demanda mundial por energia, mesmo garantindo o consumo a populações que hoje não têm acesso a este bem.

A boa notícia é que os custos de mitigação são muito inferiores aos de adaptação e enfrentamento aos impactos das mudanças climáticas, segundo o Relatório Stern, publicado em outubro do ano passado. O estudo, conduzido pelo economista britânico do Banco Mundial Nicholas Stern, foi encomendado pelo governo britânico e abordou os efeitos sobre a economia mundial das alterações climáticas nos próximos 50 anos.

Uma de suas principais conclusões é que, com um investimento de apenas 1% do PIB mundial, se pode evitar a perda de 20% do mesmo PIB num prazo de estudo de 50 anos. Em termos simples, é muito mais barato fazer alguma coisa para enfrentar o problema do que manter-se na inércia.

A pressão popular é fundamental para que os poderes públicos elaborem e executem políticas que contemplem, portanto, a mitigação dos efeitos do aquecimento global. Entre essas políticas, Miriam Duailibi apontou como prioritárias a busca por fontes alternativas e renováveis de energia e o desenvolvimento de produtos inteligentes, ou seja, não poluentes, de boa durabilidade e recicláveis.

Mas, afora essa pressão, cada pessoa pode também priorizar algumas ações que não só vão auxiliar o planeta nesta grande batalha, como têm ainda o mérito de reduzir gastos.

No curso, foram apresentados perfis de três famílias, divididas por extratos sociais – uma de classe alta; a segunda, de classe média, e a terceira, mais humilde. Simulações mostraram que, em todos os casos, era possível viabilizar procedimentos nessa direção.

No caso das famílias de mais baixa renda, o ataque foi direto ao chuveiro elétrico. Com adoção de aquecedores solares simplificados – muitos dos quais vêm sendo distribuidos por Prefeituras no Brasil -, a conta de energia simplesmente caiu pela metade.

E a família que troca seu chuveiro elétrico por outra forma de aquecimento de água, seja a gás ou solar, contribui ainda barbaramente para a diminuição da demanda brasileira por energia. Estima-se que os chuveiros elétricos consumam no Brasil, anualmente, 16 mil megawatts. Isso equivale a um terço da produção anual da usina de Itaipu, ou toda a capacidade prevista de produção anual das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, cujo licenciamento se deu imerso em polêmicas de toda ordem.

As famílias que passam a separar o lixo orgânico do reciclável também reduzem significativamente suas emissões de CO², assim como aquelas que optam pela compra de veículos mais econômicos, em detrimento dos de tração nas quatro rodas, por exemplo.

Uma pequena redução no consumo de carne bovina também significou redução nas emissões de gases causadores de efeito estufa, conforme as simulações feitas no curso.

Confira as dicas do curso sobre o “Como agir” da sociedade:

– Redução de uso do transporte individual;
– Plantio de árvores e jardins;
– Permeabilização do solo urbano. Isso significa usar menos concreto em calçadas e pátios, por exemplo, dando preferência à grama;
– Redução no consumo de eletricidade;
– Mudança de hábitos de consumo;
– Investir em hortas e pomares agroecológicos;
– Pressão junto aos órgãos públicos para que façam a parte deles;
– Fim da queima do lixo doméstico, ainda muito freqüente sobretudo na zona rural;
– Democratizar o conhecimento sobre aquecimento global.

* Mônica Pinto participou do curso a convite do Instituto Ecoclima.