EXCLUSIVO: Látex alia geração de renda à conservação ambiental em projeto na Amazônia

Neide Campos / AmbienteBrasil

Novo ministro, desmatamento, polêmicas, tráfico de madeira são assuntos que estiveram na mídia nas últimas semanas, porém, infelizmente, temas mais positivos em relação à Amazônia não são apresentados à população com tanta freqüência e nem sempre funcionam como referência para o poder público.

Além da preservação da floresta, com fiscalização efetiva e rigorosa, a Amazônia precisa de políticas que valorizem o morador da região. O desenvolvimento sustentável, como se sabe, é uma das maneiras mais eficazes de se manter a floresta em pé.

Um projeto, desenvolvido pelo Polobrio (Polo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais), chamado Encauchados de Vegetais da Amazônia alia geração de renda e melhorias sociais para comunidades indígenas e seringueiras da região com a conservação da biodiversidade.

Os encauchados são processos e produtos sustentáveis gerados com a utilização do látex nativo combinado com fibras vegetais. O látex é pré-vulcanizado, isto é, aquecido de forma controlada, com a adição de substâncias naturais coagulantes. Para estabilizar o látex, é usada uma mistura de cinzas, recolhidas de fornos, fogão ou roçados, e água.

As fibras vegetais são produzidas a partir da trituração natural de espécies nativas, como embaúba. Os pigmentos e odorantes também são obtidos de forma natural, através da extração de folhas da anilina, das cascas do jatobá, do breu, da semente de urucum, entre outros.

“Os encauchados são técnicas de saber popular combinadas com tecnologias de uso industrial, porém adaptadas e aprimoradas para poderem ser utilizadas no rústico ambiente florestal”, explica a AmbienteBrasil o professor Francisco Samonek, coordenador do projeto e diretor do Poloprobio.

O projeto teve início em 1994, com o tecido emborrachado, também conhecido como couro ecológico. Em 2002, evoluiu com a inserção das fibras vegetais, gerando condições para diversificar a linha de produtos.

O professor Samonek explica que o projeto proporciona condições para o desenvolvimento de uma linha diversificada de produtos elaborados artesanalmente e com o uso de matérias primas locais. “São produzidas mantas, jogos americanos, toalhas de mesa, mouse pad, porta-lápis, embalagens diversas, camisetas pintadas à mão com látex pigmentado, tapetes, telhas para uso local, entre outros”.

Beneficiados

O projeto Encauchados de Vegetais da Amazônia é mantido por intermédio de várias fontes. Inicialmente, os índios foram financiados pelo Projeto PPTAL da Funai. O CNPq financia quatro unidades. O Banco da Amazônia, através do Prêmio Professor Samuel Benchimol conquistado em 2006, está financiando a assistência técnica às unidades implantadas nas comunidades indígenas de Feijó. A Fundação Banco do Brasil, através do Prêmio de Tecnologia Social, financiou um veículo utilitário para o deslocamento dos técnicos até as áreas. A Universidade Federal do Acre (UFAC), através do Centro de Filosofia e Ciências Humanas e do Centro de Antropologia e Arqueologia Indígena e a Funai-Administração Regional de Rio Branco, vêm sistematicamente apoiando a iniciativa com apoio logístico.

Atualmente, cerca de 350 pessoas participam diretamente do projeto. Entre eles, estão técnicos, bolsistas, coordenadores de unidades, coletores de látex e artesãos. O projeto começou em Feijó, no Acre, e atualmente, além do Estado, são beneficiadas comunidades do Pará. Existem 22 unidades de produção: uma na Floresta Nacional do Tapajós, uma em São Francisco do Pará (PA), uma unidade no PAE Santa Quitéria em Brasiléia (AC), oito na Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema em Sena Madureira (AC), e onze nos Povos Indígenas Kaxinawá e Shananawa em Feijó (AC).

São beneficiadas as Comunidade Maguari na Flona Tapajós, Comunidade Zirmão e Núcleo do Cazumbá na Resex do Cazumbá-Iracema, a Comunidade Arraial dos Burros no PAE Santa Quitéria, Unidade Pedagógica de São Francisco do Pará, as aldeias indígenas Kaxinawá e Shanenawa das Terras Indígenas Katukina/Kaxinawá do rio Envira, Kaxinawá do Seringal Curralinho e Kaxinawá de Nova Olinda.

Segundo o professor, a intenção é expandir o projeto para os índios Kaxarari em Vila Extrema (RO), índios Apuriná em Boca do Acre (AM), Seringal Novo Encanto em Lábrea (AM), índios Kaxinawá da TI Humaitá em Tarauacá (AC).

Na última semana, o projeto foi contemplado pelo programa Desenvolvimento e Cidadania da Petrobras. Os recursos serão utilizados na ampliação das atividades, na continuidade da assistência técnica e na abertura de mercado para os produtos gerados.

“O que é mais gratificante no projeto é você trabalhar com pessoas humildes, com culturas diferentes, melhorando a sua qualidade de vida, mas sem interferir nos seus costumes e forma de viver, respeitando a natureza, conservando a biodiversidade e permitindo a redução dos desmatamentos na região”, diz o professor Samonek.