Quatro perguntas sobre o projeto que luta pelos direitos dos grandes primatas

Mônica Pinto / AmbienteBrasil

O Great Ape Project (GAP) – Projeto dos Grandes Primatas – é um movimento internacional criado em 1994, cujo objetivo maior é lutar pela garantia dos direitos básicos à vida, liberdade e não-tortura dos grandes primatas não humanos – Chimpanzés, Gorilas, Orangotangos e Bonobos, os parentes mais próximos do homem no mundo animal. Para tanto, o projeto criou a Declaração Mundial dos Grandes Primatas, documento que oficializa os direitos creditados a estes animais.

Recentemente, uma decisão do Comitê Diretivo do Projeto GAP Internacional fez com que a entidade passasse a ter no Brasil sua sede central, sendo alçado à presidência um brasileiro – o empresário e microbiologista Pedro A. Ynterian, fundador, em 2000, do primeiro santuário para os animais em Sorocaba, interior de SP.

AmbienteBrasil fez a ele quatro perguntas.

AmbienteBrasil – Como surgiu o projeto GAP e quais são seus objetivos?

Pedro A. Ynterian – O Projeto GAP surgiu em 1994 por uma iniciativa de dois filósofos, Peter Singer e Paola Cavalieri. Nessa época, Singer, filósofo australiano e professor emérito na Universidade de Princeton, EUA, já tinha lançado o movimento “Animal Liberation”. O propósito do GAP Project, que nasceu nos Estados Unidos e se expandiu pelo mundo, era garantir os direitos básicos dos grandes primatas no planeta, o que significava liberá-los dos abusos, das torturas, dos cativeiros degradantes, da exibição ao público e proibir seu uso em entretenimentos e em experiências médicas.

AmbienteBrasil – Recentemente, o projeto GAP Internacional passou a ter sede no Brasil. Por que essa decisão?

Pedro – Dias atrás, o Comitê Diretivo mundial, do qual faço parte, decidiu eleger um novo presidente, após dois anos da presidência estar sediada nos Estados Unidos. Foi também decidido mudar sua sede para o Brasil, já que o presidente seria um brasileiro, assim como o site mundial seria mudado também para o Brasil.

O Brasil deu um exemplo ao mundo nos últimos anos, ao converter-se em um centro muito ativo de defesa dos grandes primatas. Quatro santuários de resgate de primatas foram criados, afiliados ao GAP, e 74 chimpanzés resgatados das mãos daqueles que não os tratavam corretamente. O site do GAP brasileiro já se apresenta em três idiomas, português, espanhol e agora em inglês, que permite uma divulgação muito maior de sua luta.

AmbienteBrasil – Como está a situação dos grandes primatas no mundo?

Pedro – É critica. Naqueles países africanos e asiáticos que têm originalmente algumas das quatro espécies deles – orangotangos, bonobos, chimpanzés e gorilas, a quantidade de indivíduos vai diminuindo rapidamente. Talvez não existirão mais indivíduos em vida livre dos orangotangos e bonobos em menos de 20 anos. A destruição das florestas na Indonésia está acabando com o habitat dos orangotangos e a caça e a mineração, assim como o corte de árvores, estão devastando o sul da bacia do Congo, deixando exposta a última reserva onde os bonobos se refugiam.

Os gorilas da montanha, em quantidade menor que 1000, estão numa área de conflitos de guerras tribais e onde a exploração do coltan – um minério estratégico – está destruindo seu último refúgio. Os gorilas da planície, que ainda têm pouco mais de 50 mil nos países africanos, estão sendo caçados para consumo de sua carne, e as doenças, como o Ebola, estão dizimando populações inteiras dos mesmos. Os chimpanzés ainda um pouco mais numerosos também estão submetidos aos mesmos perigos da caça, tráfico para venda como pets e da destruição do seu habitat.

AmbienteBrasil – No Brasil, a entidade vem resgatando chimpanzés de cativeiros. Qual o maior desafio no país?

Pedro – O maior desafio no país, após ter resgatado quase todos os chimpanzés que tinham em circos, se volta para aqueles que são exibidos em zoológicos precários onde o estresse termina perturbando-os mentalmente. É necessário que os zoológicos e as instituições mantenedoras dos mesmos se conscientizem de que os grandes primatas não existem para serem exibidos, senão para serem respeitados e mantidos em um cativeiro decente e amplo, que lhes permita viver em sua comunidade, sem serem explorados comercialmente. Para nós, exibir grandes primatas é como exibir humanos primitivos, que não têm nenhum direito para rebelar-se ante essa violência e a invasão em sua privacidade.

Nosso principal desafio é que a sociedade brasileira se convença da necessidade de protegê-los, já que são nossos irmãos genéticos, de sangue e de ancestrais comuns.

(Na foto abaixo, Ditty com o filhote, Pedrinho, nascido no santuário de Sorocaba no início deste ano)