RETROSPECTIVA 2008 – Na fauna, centenas de espécies correm risco de desaparecer do planeta

Neide Campos / AmbienteBrasil

O ano de 2008 foi marcado pelo lançamento do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. São 627 espécies ameaçadas, de anfíbios, aves, mamíferos, invertebrados, peixes e répteis. As mudanças climáticas e as queimadas são grandes fatores da extinção desses animais, não só no Brasil, como em todo o mundo.

Um estudo britânico indica que machos de várias espécies, como peixes, répteis, aves e mamíferos, estão sendo prejudicados por substâncias químicas presentes no meio ambiente. Foram observados que alguns agentes químicos podem “feminilizar” o macho, pois alteram seus hormônios sexuais.

Em outubro, um estudo apresentado na União Internacional para a Conservação da Natureza, pela Wildlife Conservation Society, mostrou uma lista de 12 agentes patógenos, como a peste e o cólera, que um aumento das temperaturas e das precipitações contribuiria para propagar rapidamente entre a fauna selvagem. Doenças que podem ser transmitidas para os homens, como a febre amarela, a tuberculose, o vírus Ebola e o H5N1 – vírus responsável pela gripe aviária -, também podem se propagar mais rapidamente com as mudanças climáticas.

De acordo com um relatório da organização BirdLife International, 1.200 espécies de aves estão ameaçadas de extinção, sendo 190 em situação crítica. Acredita-se que, nos últimos 25 anos do século XX, 18 espécies tenham se extinguido, enquanto outras três desapareceram desde 2000. O documento aponta que os maiores causadores desta situação são a perda de florestas, a agricultura, a superexploração e o desenvolvimento das infra-estruturas, além da poluição.

A pesca predatória é outro vilão para a fauna. Um recente estudo da organização não-governamental WWF mostra que 75% da população de peixes do mundo está ameaçada. Em janeiro, técnicos do Ibama fizeram a maior apreensão de pescado no Estado do Piauí – 3500 quilos de peixes, originários da pesca predatória, estavam sendo transportados de Remanso, na Bahia, com destino ao Maranhão.

Em fevereiro, quase duas toneladas de peixes morreram, no município de Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais, devido a um vazamento de inseticida no cano de irrigação da fazenda Haras Jacuba. Em março, um homem foi preso por transportar ilegalmente 15 mil alevinos em sacos plásticos dentro de uma ambulância em Goiás. Um estudo da Universidade Estadual de Maringá (PR) e da Universidade Federal do Tocantins, em fevereiro, mostrou que as escadas construídas para facilitar a transposição da barragem por peixes que pretendem desovar, nas regiões tropicais, é mais um obstáculo na vida desses animais, como mostrou a matéria Escada para peixe aumenta risco de extinção.

Uma grande polêmica do ano envolvendo animais, no Brasil, foi a disputa entre o Ibama e o circo Le Cirque. Durante fiscalização realizada pelo instituto, em agosto, por constatação de maus-tratos, 17 animais foram apreendidos. Os animais estavam sendo transportados em uma carreta de Campo Grande (MS) para Brasília (DF). Um elefante africano ainda estava nas dependências do circo. Depois de uma batalha judicial, o Ibama conseguiu recuperá-los. Os animais foram redistribuídos para vários parques.

O embate com o Le Cirque foi apenas o início de vários provocados pelo projeto de lei 7291/2006, que pretende proibir o uso de animais em espetáculos circenses. AmbienteBrasil registrou as polêmicas em torno dele na matéria Quatro perguntas sobre o movimento “Circo legal não tem animal”, e na enquete com a pergunta Qual sua opinião sobre o uso de animais em circos?”. no mês julho (clique aqui para ver os resultados).

A ONU declarou, em 1° de dezembro de 2008, o início do Ano do Gorila. O ato tem o objetivo de levantar fundos para os primatas ameaçados de extinção devido a doenças, caça e desmatamento.

Outro imbróglio recorrente no ano deu-se entre o Ibama e os criadores de pássaros silvestres, fato acompanhado por AmbienteBrasil nas matérias EXCLUSIVO: Entidade dos criadores de pássaros nativos aciona judicialmente o Ibama, do mês de maio, e EXCLUSIVO: Criadores amadoristas de pássaros reclamam de “arbitrariedades” do Ibama na operação Sispass Legal, publicada em outubro.

Diversidade

Mas nem tudo é extinção no mundo animal. De acordo com uma pesquisa do British Antartic Survey e da Universidade de Hamburgo, a Antártida possui mais diversidade de espécies animais do que as Ilhas Galápagos com 1.224 espécies de animais marinhos e terrestres, incluindo crustáceos, moluscos, aves e ácaros.

Se em 2007 o astro do mundo animal foi o urso alemão Knut, em 2008, a ursinha Flocke, também abandonada pela mãe, foi a estrela. Ela ainda foi apontada como possível namorada de Knut. Mas o urso, de pouco mais de dois anos, não ficou esquecido. Em março, foi lançado o filme Knut e Seus Amigos, que conta a história do animal, abandonado pela mãe e criado pelo tratador.

Enquanto, na Alemanha, o namoro entre ursos pode ser arranjado, no Brasil, descobriu-se que o boto da Amazônia utiliza galhos, folhas e pedras de argila para cortejar as fêmeas e espantar rivais.

Um estudo da Universidade de Pádua, na Itália, mostra que peixes da espécie ‘Gambusia holbrooki’ conseguem contar até quatro. Em experimentos em laboratórios, foi observado que ao colocar um peixe em um lado de um aquário frente a dois grupos de peixes de número diverso, o peixe solitário reconhece o maior e tende a se juntar a ele. E um estudo suíço mostrou que o peixe espinhoso esgana-gata (Gasterosteus aculeatus) usa um consenso para escolher seu líder. Quanto maior e gordo for o candidato, maior a possibilidade de ser o vencedor.

2008 também foi marcado pelo nascimento do primeiro ‘filhote-neto’ de peixe boi em cativeiro no Estado de Pernambuco. O animal é filho de Carla, uma fêmea nascida no oceanário do Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos (CMA), em 1997, cria de Sereia, também nascida no CMA, e Netuno, peixe-boi que chegou ao lugar em 1991, após ser resgatado de um encalhe.

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã, a 270 km de Manaus (AM), um projeto realizado pelo realizado pelo Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos tem o objetivo de aliar a educação ambiental com a integração das comunidades na proteção dessas espécies. Em sete anos de existência, o programa produziu e soltou em ambiente natural cerca de 70.000 filhotes de quelônios.

As baleias também não tiveram um ano fácil, como AmbienteBrasil expôs em Na desenvolvida Dinamarca, acontece anualmente espetáculo de barbárie contra baleias. O Japão continuou sua “pesca para fins científicos” e gerou protestos de organizações-não-governamentais. E a questão gerou discussão até entre ONGs, conforme matéria publicada em dezembro, Proteção às baleias gera cobrança da Sea Shepherd ao Greenpeace.

Uma boa notícia foi o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que declara o litoral brasileiro como santuário de golfinhos e baleias.