“É uma cacofonia em uma colônia de focas”, explica a Dra. Caroline Casey, onde centenas de mães e filhotes chamam ao mesmo tempo.
Agora, uma pesquisa liderada por cientistas da Califórnia revelou que a fêmea de elefante-marinho pode ouvir a voz de seu próprio filhote apenas dois dias após seu nascimento.
Essa habilidade ajuda os filhotes – e as mães – a sobreviverem durante um período precário.
Mas deixou os pesquisadores intrigados sobre por que as focas frequentemente alimentam os filhotes umas das outras.
Os resultados foram publicados na revista Royal Society Biology Letters.
O estudo, liderado pela Dra. Juliette Linossier, exigiu que a equipe internacional de cientistas “infiltrasse” microfones na colônia de focas para evitar perturbar mães e filhotes.
“As fêmeas jejuam durante todo o mês em que estão amamentando”, explica a Dra. Casey, que faz parte da equipe e trabalha na Universidade da Califórnia em Santa Cruz. “Portanto, não faz nenhum sentido [evolucionário] para elas usarem seus recursos no filhote de outra mãe.
“Mas neste local [a colônia na Califórnia] que estudamos, houve muitas observações de fêmeas alimentando filhotes não aparentados com elas.”
Gravação de filhote
A Dra. Casey estudou a comunicação vocal em elefantes-marinhos por uma década. Então, ela e seus colegas criaram um experimento de áudio para descobrir se os animais eram capazes de reconhecer seus próprios bebês em meio ao barulho de uma colônia de reprodução.
Com um microfone na ponta de uma longa vara, os cientistas gravaram chamadas de filhotes e tocaram as gravações para a mãe-foca, usando um pequeno alto-falante.
Os pesquisadores então monitoraram as respostas das mães às gravações de seus próprios filhotes, bem como a uma série de chamadas de um filhote de mesma idade. As mães estavam muito mais atentas – olhando e movendo-se em direção ao pequeno alto-falante para investigar – se ele tocava o som de seus próprios filhotes.
“Foi dramático – vemos o reconhecimento depois de apenas um ou dois dias”, disse a Dra. Casey.
Esse reconhecimento precoce faz sentido, dizem os pesquisadores, porque a relação entre a mãe e o elefante-marinho recém-nascido é extremamente dependente fisicamente.
Quando os filhotes estão amamentando, as mães perdem cerca de metade da massa corporal, enquanto os filhotes aumentam sete vezes o peso corporal, devido ao “teor de gordura excepcional” do leite materno.
No entanto, a Dra. Casey sugere que os humanos podem ter desempenhado um papel inesperado no desejo dos elefantes-marinhos de alimentar outros filhotes de fêmeas aparentadas.
No final dos anos 1800, a espécie foi caçada até quase a extinção. “Portanto, pensamos que todos os indivíduos vivos hoje – cerca de 300.000 animais – estão relacionados a cerca de 20 animais que sobreviveram”, disse a Dra. Casey.
“Portanto, a semelhança genética entre todos os elefantes-marinhos é muito alta.”
Então, eles têm maior probabilidade de alimentar os filhotes de irmãs ou primos? Esse comportamento poderia estar ligado a um gargalo populacional extremo causado por humanos?
“Isso é algo que gostaríamos de investigar”, disse a Dra. Casey.
Fonte: BBC News/ Victoria Gill
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://www.bbc.com/news/science-environment-59744280