A barragem de Fundão se rompeu no dia 5 de novembro de 2015, provocando o despejo de mais de 30 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério e água, segundo a Samarco. O rompimento destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, afetando Águas Claras, Ponte do Gama, Paracatu e Pedras, além das cidades de Barra Longa e Rio Doce. Os rejeitos também atingiram mais de 40 cidades na Região Leste de Minas Gerais e no Espírito Santo. O desastre ambiental, considerado o maior e sem precedentes no Brasil, deixou 17 pessoas mortas e duas desaparecidas.
Segundo a Samarco, nas barragens da mineradora são depositados dois tipos de rejeitos, um mais grosso, chamado de rejeito arenoso, e outro mais fino, a lama. Ainda conforme a empresa, ambos os rejeitos são transportados e dispostos em forma de polpa, ou seja, uma mistura de sólidos e água.
Em nota, a mineradora afirma que pode ter havido variação na proporção dos rejeitos na barragem de Fundão e que isso não comprometeu a segurança. “Não obstante a proporção 30% lama e 70% arenoso, licenciada para barragem do Fundão, é possível que, no curso da operação ocorram variações próximas de 35% lama e 65% arenoso. Respeitadas premissas do manual de operação, essa distorção não traz impacto para a segurança da barragem”.
A empresa afirma que o monitoramento de segurança é constante. “A Samarco realizava, e continua realizando, o monitoramento por meio de drones, acompanhamento de piezômetros, indicadores de nível de água, marcos superficiais, inspeções visuais, além das verificações diárias 24 horas por dia, 7 dias por semana”.
Contudo, uma especialista em barragens ouvida pelo G1 diz que a variação é significativa. “A variação de 10% é significativa porque você está falando em milhões de metros cúbicos. Isso pode deixar o projeto vulnerável”, afirma a engenheira civil Rafaela Baldi Fernandes. Ela ressalta que, quando há mudança na composição em relação ao que está no projeto, é necessário uma reavaliação do projeto e das condições de estabilidade da estrutura.
Rafaela explica que um dos pontos mais relevantes na estabilidade de uma barragem é a quantidade de água. “O rejeito arenoso sedimenta, indo para o fundo. A água infiltra no maciço [estrutura de contenção], desestabilizando e levando a uma condição de ruptura”, disse. Em relação à acomodação dos rejeitos no reservatório de uma barragem, a especialista diz que, em termos gerais, deve se preservar 200 metros, que é uma distância aceitável de separação do rejeito fino com água do maciço da barragem para que não haja infiltração.
Indiciamento – No dia 13 de janeiro, a Polícia Federal indiciou o então diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, e Kleber Terra, que ocupava o cargo de diretor de operações, além de outros cinco executivos e técnicos. A empresa, a Vale e a VogBR também foram indiciadas. De acordo com a Polícia Federal, a suspeita é que eles causaram poluição em níveis que “resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora”, como previsto no artigo 54 da Lei de Crimes Ambientais.
Na última quarta-feira (20), Vescovi e Terra se afastaram de suas funções na companhia. Segundo a nota divulgada pela empresa, “os executivos acreditam que o licenciamento temporário é importante para que possam se dedicar às suas defesas”.
Alerta sobre trincas – No último sábado (16), o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila disse à reportagem da TV Globo que alertou à mineradora Samarco sobre um princípio de ruptura na margem esquerda da barragem de Fundão. O aviso, segundo ele, foi dado em 2014 quando ele prestou consultoria para a mineradora. A informação também consta no depoimento do engenheiro na Polícia Federal, em dezembro do ano passado.
O engenheiro afirma que uma trinca apareceu em um recuo feito na barragem e que não estava no projeto feito por ele. A recomendação do especialista na época foi que fosse feito o redimensionamento do reforço na estrutura e a instalação de ao menos nove piezômetros – instrumentos para medir a pressão da água no solo e o acompanhamento diário da posição do nível da água. Mas ele disse à PF que não sabe se as orientações foram seguidas pela mineradora. (Fonte: G1)