“Sem recursos é impossível fazer tratamento de esgoto, mas é preciso pensar como integrar a estrutura já existente a este tipo de limitação de investimento”. A afirmação é defendida pelo engenheiro civil alemão Matthias Worst, que atua há 16 anos na Secretaria de Recursos Hídricos da cidade de Holf, na Alemanha. O especialista esteve em Recife (PE), na semana passada, a convite do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco-PE), para trocar experiências com engenheiros e arquitetos sobre novas tecnologias aplicadas em projetos de esgotamento sanitário naquele país.
Segundo Worst, existe uma gama de tecnologias disponíveis para tratamento de esgoto, mas estes processos precisam ser adaptados à realidade local. “A solução para o problema precisa ser viável economicamente, e, para isso, deve-se utilizar a infra-estrutura existente”, explica. Como exemplo de solução aplicável no Brasil, ele menciona o processo de tratamento de esgoto biológico, adotado na Polônia e conhecido por Wetland: um mecanismo de biofiltração pelo qual a água desprezada (esgoto) é canalizada para um alagado com plantas aquáticas, que agem como filtros naturais.
Para Simone Souza, diretora de gestão ambiental do Sinaenco-PE, as áreas rurais do Nordeste têm condições ambientais favoráveis para a adoção desta tecnologia, tanto que algumas universidades brasileiras já estão pesquisando o processo para tratamento de esgoto doméstico. “Os estados do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco estão estudando o sistema sob parâmetro de dimensionamento diferenciados, já que nossas plantas são diferentes”, explica.
A Alemanha também estuda novas possibilidades na coleta de esgoto e reuso do material. Uma delas é o Projeto Ecosan, que busca a implantação de novas tecnologias para as instalações hidráulicas. Os sanitários estão sendo projetados para separar a parte líquida e sólida dos dejetos ainda na bacia, para só depois serem descartados. “A urina, livre de coliformes fecais, pode ser usada como fertilizante e as fezes, depois de tratadas por compostagem, viram biomassa para gerar biogás”, detalha Matthias Worst.
Ainda segundo ele, na Alemanha já existem 30 áreas residenciais utilizando o sistema. No Brasil, atualmente, o estado do Paraná possui uma área piloto.
A Alemanha é referência na questão ambiental, com destaque para a área de saneamento. Prova disto é que somente no Estado da Bavária, existem 3 mil estações de tratamento de esgoto (ETEs). Segundo Worst, todas com um processo de pós-tratamento biológico para o efluente – um contraste, quando comparado à situação local. Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam que, em Recife, 20% da área é saneada e, deste percentual, apenas 8% recebem algum tipo de tratamento.
Carência de recursos
Simone Souza explica que a Região Metropolitana de Recife só dispõe de três estações de tratamento de grande porte e nenhuma delas possibilita a efetiva redução da matéria orgânica. “Hoje, em torno de 30% da matéria orgânica é reduzida nessas estações, quando o ideal é reduzi-las em torno de 90%”, explica.
Segundo Simone, a legislação ambiental brasileira defende que o esgoto deva ser tratado, mas a falta de recursos impede uma política eficiente neste setor. “A mentalidade dos nossos governantes é equivocada. Se há pouca verba não se faz nada, quando se deveria iniciar o processo gradativamente e, aos poucos, ir melhorando o tratamento”, explica.
Esse gradualismo é defendido pelo engenheiro alemão, que afirma que o processo pode ser feito em etapas. “Partimos da construção de um sistema de coleta de esgoto e, depois, implanta-se um processo mecânico, onde há a separação dos dejetos líquidos e sólidos, reduzindo a carga poluente já em 30%”, justifica. (Fonte: Gazeta Mercantil)