O belo espetáculo proporcionado pelo desprendimento de um iceberg esconde detalhes não tão positivos. A cada ano, de acordo com estudos feitos por cientistas de diversos países, aumenta o número dessas grandes massas de gelo flutuantes na Antártica. Além disso, a quantidade de área de oceano que congela no continente está diminuindo.
Um estudo apresentado nesta quarta-feira (29/9), no primeiro dia do 12º Seminário sobre Pesquisa Antártida, na Universidade de São Paulo, apesar de representar uma fração do continente gelado, corrobora a percepção de que as geleiras estão menores.
Segundo o geógrafo Rafael Ribeiro, do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas (Nupac), do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande Sul, tanto a geleira Stenhouse como a Lange, ambas situadas na Ilha Rei George – onde está a base brasileira na Antártida -, perderam tamanho nas últimas cinco décadas. Em área, a diminuição representa 0,35 quilômetros quadrados no primeiro caso e 2,18 quilômetros quadrados no segundo.
“De uma forma geral, essa redução tem sido registrada em toda a Antártida”, disse Jefferson Simões, um dos coordenadores do Nupac. “A quantidade de gelo na região de Larsen, por exemplo, teve uma diminuição de 15 mil quilômetros quadrados nos últimos 50 anos.”
Segundo Simões, as reduções estão associadas ao aumento brutal de temperatura registrado na Antártida também na última década. “A elevação foi da ordem de 2,5 graus celsius, ou seja, dez vezes mais do que o registrado para todo o planeta”, conta.
Uma das perguntas que os pesquisadores fazem a partir de agora é o que essa regressão poderá provocar. A maior velocidade de deslocamento das geleiras, segundo Simões, também já está sendo percebida em conseqüência da menor quantidade de mar congelado. “Ela tem sido de cinco a sete vezes maior”, disse.
Com uma maior quantidade de gelo chegando mais rapidamente ao mar, um outro fenômeno, também com impacto global, passa a existir. “Nós calculamos que essa maior quantidade de gelo poderá aumentar em três milímetros o nível do mar. Pode parecer pouco, mas não é”, conta Simões. (Fapesp)