Os líderes do G7 se comprometeram neste domingo (13/06) a ajudar o mundo a enfrentar a pandemia do coronavírus, desacelerar as mudanças climáticas e enfrentar os desafios colocados pela China e pela Rússia, no encerramento de uma cúpula que buscou mostrar a unidade renovada entre os sete países considerados os mais industrializados do globo.
No final de sua primeira reunião presencial em quase dois anos, realizada em uma praia idílica no sudoeste da Inglaterra, os chefes de Estado e de governo de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Estados Unidos e Reino Unido divulgaram uma ambiciosa declaração de intenções.
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Foi uma cúpula “extraordinariamente colaborativa e produtiva”, nas palavras do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Após três dias de discussões, as sete principais economias se comprometeram a proteger 30% da terra e dos oceanos até 2030, buscando conter a perda de biodiversidade e cortar suas emissões de carbono pela metade em relação a 2010.
Clima como prioridade
O anfitrião, o premiê britânico, Boris Johnson, declarou o aquecimento global como uma prioridade da cúpula, antes da conferência do clima da ONU em Glasgow, agendada para novembro. “Há uma relação direta entre redução de emissões, restauração da natureza, criação de empregos e garantia de crescimento econômico de longo prazo”, afirmou.
No entanto, os ambientalistas criticaram as promessas, considerando-as insuficientes. “Sem um acordo para acabar com todos os novos projetos de combustíveis fósseis – algo que deve ser feito este ano, se quisermos limitar o perigoso aumento da temperatura global – esse plano deixa muito a desejar”, denunciou o diretor do Greenpeace no Reino Unido, John Sauven.
Prevenção a pandemias
A cúpula também abordou a resposta à pandemia com uma declaração para ajudar a prevenir futuras crises de saúde e uma promessa de doar um bilhão de vacinas contra covid-19 para países menos favorecidos, começando em agosto deste ano e terminando em 2022.
Os Estados Unidos anunciaram nos últimos dias a doação de 500 milhões de doses da vacina Pfizer a 92 países desfavorecidos, 200 milhões das quais até ao final do ano, e o Reino Unido 100 milhões de vacinas, das quais 30 milhões até ao final de 2021.
Sobre a suspensão de patentes, que alguns países e organizações humanitárias defendem para aumentar e acelerar a produção de vacinas a nível mundial, o G7 apoia o estabelecimento de unidades em países de baixo rendimento.
O comunicado cita “a importância da propriedade intelectual a esse respeito” e “o impacto positivo que o licenciamento voluntário e a transferência de tecnologia em termos mutuamente acordados já causaram no aumento da oferta global”.
Mas críticos lembraram ser preciso 11 vezes mais para inocular o mundo contra um vírus que já matou 3,7 milhões de pessoas. “Acho que esta cúpula ficará para a história como uma oportunidade perdida quando precisávamos de 11 bilhões de vacinas, e eles apenas nos ofereceram um plano para um bilhão”, criticou o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown.
Contraponto à China
O G7 anunciou também um plano de investimento em infraestrutura proposto pelos Estados Unidos para ajudar “países de baixa e média renda”, da América Latina ao Pacífico, a se recuperarem da pandemia.
Intitulada Reconstruindo o mundo para melhor e estimada em centenas de bilhões de dólares, a iniciativa tem como objetivo claro rivalizar com um projeto chinês semelhante, chamado Nova Rota da Seda.
Acesso escolar para meninas
Os líderes também concordaram em cooperar para tentar colocar mais de 40 milhões de meninas em escolas em todo o mundo. Para isso, devem financiar uma iniciativa chamada Parceria Global para a Educação.
Segundo o premiê britânico, Boris Johnson, é uma “desgraça internacional” que crianças não consigam atingir seu pleno potencial por causa de dificuldade de acesso à educação. “Educar todas as crianças, especialmente as meninas, é uma das maneiras mais fáceis de tirar os países da pobreza e ajudá-los a se recuperar da crise do coronavírus”, acrescentou.
Origens da covid-19
O G7 também solicitou um estudo mais aprofundado da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as “origens da covid-19”, com a participação da China.
O grupo das sete maiores economias também instou Pequim a “respeitar os direitos humanos” na região de Xinjiang, lar da minoria uigur muçulmana, e de Hong Kong, onde vem reprimindo os defensores da democracia.
Rússia
O comunicado final da cúpula também apelou à Rússia para pôr fim às suas “atividades desestabilizadoras”, incluindo interferências nos sistemas democráticos de outros países e ciberataques atribuídos a grupos vinculados à Rússia.
O texto exortou Moscou a cumprir suas obrigações internacionais em termos de direitos humanos, colaborar “com urgência” para investigação sobre o uso de armas químicas em seu território e colocar fim à “repressão sistemática da sociedade civil e da mídia independente”.
Novo capítulo
A primeira viagem internacional de Biden como presidente culminará na quarta-feira com uma reunião em Genebra com seu homólogo russo Vladimir Putin. O presidente americano prometeu expressar “muito claramente” suas divergências com o governante russo.
Os membros do G7 aproveitaram pessoalmente este tão esperado encontro para renovar os laços com os EUA após quatro anos de discórdia com Donald Trump.
Biden esforçou-se por abrir um novo capítulo na aliança ocidental, reafirmando, ao contrário do seu antecessor, o seu compromisso com a Otan, em cuja cúpula em Bruxelas voltará a reunir-se nesta segunda-feira com aliados satisfeitos com esta mudança de atitude.
“Não é que o mundo tenha deixado de ter problemas por causa da eleição de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos. Mas estamos trabalhando em soluções para esses problemas com um novo impulso. E acho ser muito bom termos obtido planos concretos neste G7”, disse a chanceler federal alemã, Angela Merkel.
Fonte: Deutsche Welle