Brasil investe em hidrelétricas e usinas de biomassa

O governo brasileiro planeja realizar em 2006 um processo de licitações para a construção de dez novas hidrelétricas, com custos orçados em 9,4 bilhões de dólares e capacidade para gerar 7846 megawatts de energia.

O anúncio foi feito pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em palestra a 150 empresários alemães e brasileiros, que participaram de uma conferência sobre investimentos em infra-estrutura e logística no Brasil, na segunda-feira (30) em Frankfurt.

Oito desses projetos serão licitados em leilões previstos para maio próximo. As duas maiores usinas – em Santo Antônio e Jirau – no Rio Madeira, em Rondônia, serão licitadas em junho e terão, juntas, capacidade para gerar 6450 MW. “São dois projetos importantes, com significado estratégico, para garantir estabilibidade energética até 2013, mesmo que o consumo aumente em média 5% ao ano“, disse a ministra.

“As energias limpas têm prioridade para nós, mas não vamos prescindir de outras fontes. O Brasil volta a construir hidrelétricas, porque é a forma de energia mais barata”, explicou Rousseff. Segundo ela, inclusive o BID – Banco Mundial teria manifestado interesse em participar desses dois projetos. Os estudos de impactos ambiental já estão sendo analisados desde maio de 2005 pelo Ibama e devem ser concluídos até maio próximo.

A ministra disse que, no setor energético, o Brasil já fez os deveres de casa. “Noventa e cinco por cento da energia necessária até 2010 está contratada pelo sistema de leilões”, disse. Além disso, acrescentou, nos últimos três anos o país ampliou sua linhas de transmissão em 10 mil quilômetros, sendo que os espanhóis investiram mais nesse setor no Brasil do que os alemães.

A ministra disse à DW-World que não teme críticas de ecologistas às duas grandes hidrelédricas, “porque elas ficam fora da área da Floresta Amazônica e, devido à caracterítica do rio, nos locais escolhidos não haverá grandes inundações. Ou é isso, ou teremos de optar pela térmica nuclear, a persistir no exterior a visão distorcida do que é uma hidrelétrica no Brasil”.

Ela explicou que, como o Brasil produz gás insuficiente e o carvão é de baixíssima qualidade, o país precisa recorrer às hidrelétricas garantir a carga básica de energia. “Só aproveitamos 24% do nosso potencial hídrico. Sem hidrelétricas, voltariam à mesa de discussão as térmicas nucleares, como está acontecendo na Europa, e nós não precisamos delas”, argumentou.

Ela ressaltou que 43% da energia consumida no Brasil vem de fontes renováveis, enquanto esse percentual na matriz energética mundial é de 14% e, na OCDE, de apenas 6%. E que o país em 2006 passará a ser exportador de petróleo. As usinas de biomassa são a segunda prioridade da matriz energética brasileira, acrescentou.

“Fizemos bem nosso dever de casa na área da energia, onde temos um estrutura sustentável e estável. Agora queremos atingir o mesmo na área de logística, mas também aqui já começamos a decolar”, disse.

Rodovias, ferrovias, porto e logística – A delegação brasileira em Frankfurt tentou convencer os empresários alemães a investir também em outros projetos de infra-estrutura, como a construção e modernização de estradas, ferrovias e portos.

À semelhança da reestruturação feita na matriz energética, o governo quer reordenar também a infra-estrutura de transportes, investindo mais em ferrovias e cabotagem, para diminuir a dependência das rodovias sobrecarregadas. “Mudar isso vai levar anos, mas é inexorável“, disse Rousseff.

Em Frankfurt foram discutidos ainda nove projetos para a construção de mais de três mil quilômetros de rodovias federais, a serem licitadas ainda no primeiro trimestre de 2006, com investimentos previstos de 3,1 bilhões de dólares. Além disso, estiveram na pauta um trecho de 390 quilômetros da ferrovia Norte-Sul, dois projetos de PPP – Parceria Público Privada do governo federal e quatro propostas de PPPs dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Na abertura do encontro, Uriel Sharef, da diretoria da Siemens, citou dados da Confederação Nacional da Indústria segundo os quais o Brasil precisa realizar investimentos anuais de 38,2 bilhões em infra-estrutura nos próximos anos, dos quais 20 bi em energia, 9 bi em logística, 4,5 bi em estradas, 3 bi em ferrovias.

“Um dos gargalos do crescimento econômico brasileiro é a infra-estrutura”, advertiu o presidente da Abdib – Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base, Paulo Godoy. Ele disse que os alemães já perderam terreno para os espanhóis na construção de linhas de transmissão no Brasil, mas os consolou: “O Brasil é um celeiro de projetos, é um porto seguro para investimentos externos”.

O vice-ministro alemão da Economia e Tecnologia, Bernd Pfaffenbach, no entanto, cobrou do governo brasileiro mais garantias para os investidores: a aprovação de uma lei de fomento e proteção aos investimentos, a assinatura de um novo acordo sobre bitribução e a redução de suas taxas sobre importação de produtos industriais, dentro da Rodada Doha da OMC. “Esperamos que o Brasil faça na economia o que faz no futebol: atacar mais do que se defender.” (DW-World Brasil/ CarbonoBrasil)