A vida depois de Kyoto

Antes mesmo da implementação do primeiro período do Protocolo de Kyoto, já iniciaram as conversas para combater as mudanças climáticas no primeiro período do acordo, nos próximos seis anos.

E não é cedo demais para isso. Perguntas suficientes já foram levantadas para questionar a continuação de Kyoto da forma com está em vigor atualmente assim que passar esse primeiro período, que vai de 2008 a 2012.

O protocolo, assinado em Kyoto, no Japão, em dezembro de 1997, é um acordo para que os países industrializados reduzam, no primeiro período, as emissões dos chamados gases causadores do efeito estufa (GEE) em pelo menos 5,2%, em relação aos níveis de 1990.

Os gases do efeito estufa, principalmente dióxido de carbono e metano, são provenientes da queima de combustíveis fósseis como gás, carvão e óleo. Acredita-se que esses gases são responsáveis pelo aquecimento anormal do planeta e, consequentemente pelas mudanças climáticas.

O Protocolo de Kyoto une a participação de países industrializados, listados no Anexo I do acordo. Eles devem cortar as emissões sob o princípio de que produzem a maior quantidade de emissões por meio das indústrias e do setor de transporte, e, portanto, devem aceitar a responsabilidade de reverter o problema.

Mas o maior poluente, os Estados Unidos, permanece às margens do Protocolo de Kyoto. O acordo também não impõe metas de redução a países que estão se industrializando rapidamente como China, Índia, Brasil e México.
O primeiro ministro britânico, Tony Blair, disse que, na cúpula do G8 (grupos dos oito países mais industrializados: EUA, Canadá, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Rússia e Japão), realizada em julho do ano passado, um acordo como Kyoto representa pouco se não contar com o comprometimento de exceções significantes para no controle das emissões.

Isso levou a uma forte diferença entre os países do G8 (menos EUA), de um lado, e os em desenvolvimento de outro. O novo diálogo anunciado em Londres na última semana procura conciliar essas diferenças após 2012.

O novo diálogo de três anos foi anunciado pela COM+: a Aliança de Comunicadores para Desenvolvimento Sustentável e a Organização Global de Legisladores para um Ambiente Equilibrado (Globe) – uma rede de legisladores ao redor do mundo.

A COM+ é uma associação de organizações internacionais e comunicadores profissionais de diversos setores comprometidos em usar a comunicação para promover o desenvolvimento sustentável. Entre os membros da aliança estão a BBC World, o Banco Mundial, IUNC, Reuters e Press Service.

Esse diálogo vai reunir tanto legisladores dos países do G8 quanto da Índia, China, Brasil, México, África do Sul, Espanha e Austrália, além de líderes de negociações internacionais e da sociedade civil “para gerar um entendimento dos cenários além-Kyoto e discutir um acordo de mudanças climáticas para 2012”.

Os EUA foi o mais difícil de se colocar a bordo, mas vários legisladores americanos se entusiasmaram para entrar nesse novo processo. “Houve um interesse considerável dos EUA e um número de legisladores do país irá se juntar a nós em um evento em Washington DC”, comentou o parlamentar britânico Joan Ruddock. “A iniciativa assegurou o financiamento do governo e de organismos internacionais como o Branco Mundial”, disse.

A declaração deixa claro que a iniciativa vai procurar pressionar os EUA e os principais países em desenvolvimento a entrarem em um novo acordo. A redução de emissões pelos países signatários será pouco proveitosa se as emissões dos grandes desenvolvidos “apagar esses ganhos” – comentou Margaret Beckett, secretária de estado britânica para o meio-ambiente, alimento e questões rurais.

O mundo industrializado reconhece as necessidades de países em desenvolvimento e também o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto. Mas um caminho ainda tem de ser criado para “minimizar o impacto do crescimento das mudanças climáticas”, ela diz.

O novo diálogo é necessário porque “nos próximos 20 a 30 anos, as emissões proveniente de países em desenvolvimento excederá as dos países desenvolvidos” – disse o vice-presidente do Banco Mundial, Ian Johnson.

Algumas das opções a serem consideradas incluem transferência de tecnologia e fazem uso de uma nova geração de estoque de energia, conta Johnson. O Branco Mundial já apóia financiamentos de projetos de energias renováveis, mas o desafio adiante é encontrar caminhos para aumentar a escala – completou.

Blair, que era observado por muitos grupos ambientalistas por ter comprado os argumentos dos EUA contra o Protocolo de Kyoto, estava cauteloso em receber a nova iniciativa. O primeiro ministro manteve os compromissos com Kyoto, mas deixou claro que não apoiaria um acordo do mesmo estilo depois de 2012.

Blair reconhece que os países do G8 devem continuar a ter um papel de liderança nos esforços para limitar as mudanças climáticas. “Nossas economias e sociedades são largamente responsáveis pelo acréscimo dos gases do efeito estufa”, diz. “Nós precisamos agir urgentemente para reduzir os danos que estamos provocando. Nós também temos o poder econômico e a capacidade de pesquisa e desenvolvimento para fazer surgir soluções tecnológicas requeridas para fazer as mudanças necessárias sem prejudicar a prosperidade”.

Mas, disse ele, uma “solução efetiva e sustentável também precisa de envolvimento de todos os grandes usuários mundiais de energia”. Enquanto países como China e Índia têm o direito de se desenvolver, “o desafio é ajudá-los a aprender com a nossa experiência. Assim, eles crescerão de forma sustentável e minimizarão o impacto em nosso planeta”.

Blair diz que a boa notícia é que as novas tecnologias estão rapidamente se tornando disponíveis, “seja por energias renováveis, tecnologias limpas de combustível fóssil, veículos híbridos ou eficiência energética, que capacitam o desenvolvimento econômico sem barrar o aumento de emissões ao longo prazo”.

Os temores são de que os custos dessa tecnologia aumentem o preço de se fabricar energia nos países em desenvolvimento. Os governos do G8 fornecem pouco do financiamento necessário até agora para essa transferência de tecnologia. (Sabrina Domingos/ CarbonoBrasil)