O próximo relatório global sobre o clima deverá anunciar que somente a influência da ação humana — isto é, a emissão de gases do efeito estufa — pode explicar anomalias climáticas registradas recentemente. De acordo com a rede de TV britânica BBC, que teve acesso a parte do relatório que será enviado em abril a governos de todo o mundo, pesquisadores identificam agora um elo mais evidente entre as emissões humanas e fenômenos extremos, como enchentes, secas e a redução de geleiras e do gelo no Ártico.
Outras alterações observadas nos últimos anos incluem mudanças no nível de acidez dos oceanos e no padrão de migração de animais selvagens.
O relatório foi produzido por cientistas do Painel Integovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que reúne centenas de especialistas de todo o mundo. O relatório anterior do IPCC já dizia que os gases-estufa “provavelmente” eram culpados pelo aquecimento global e por mudanças no clima. No entanto, o novo relatório terá um tom muito mais contundente.
Diferenciar os efeitos da ação humana de fenômenos naturais do clima não é fácil. Por exemplo, faltam séries históricas longas o suficiente para comprovar que determinado período de calor ou frio extremo é realmente uma anomalia e não parte de um ciclo natural mais longo. Além disso, os mecanismos que regulam o clima global ainda não são completamente conhecidos. Outra dificuldade é identificar elos diretos entre a maior concentração de dióxido de carbono e outros gases e, por exemplo, recordes de temperatura máxima.
Ainda assim, os cientistas estão convencidos de que a concentração de gases-estufa na atmosfera é suficiente para romper o equilíbrio climático. Segundo a BBC, um dos autores do relatório disse que observações feitas em várias partes do mundo ao longo da última década mostram anomalias que não poderiam ser explicadas apenas por padrões naturais de mudança.
O novo relatório deve indicar que se a concentração de gases-estufa na atmosfera dobrar em relação ao nível do mundo pré-industrial — o que pode acontecer em meados do século — a temperatura média do planeta poderá subir entre 2 e 4,5 graus Celsius. No fim do século, o aumento poderá chegar a 5,8 graus Celsius.
Até agora, o IPCC previa um aumento de 1,5 grau Celsius. Embora o aumento pareça pequeno, uma elevação de menos de um grau na temperatura média da Terra pode ter efeitos significativos.
Cientistas destacam que já estão detectando anomalias climáticas importantes, embora o nível de CO2 na atmosfera não tenha aumentado mais do que 30%.
Entre as conseqüências mais dramáticas estaria o fim da cobertura de gelo da Groenlândia, o que elevaria significativamente o nível dos mares com conseqüências para todo o planeta. (O Globo/ CarbonoBrasil)