Estudo diz que mudança climática afeta ecossistema no Ártico

As mudanças no clima começaram a ser percebidas no ecossistema do Ártico e poderão ter efeitos irreversíveis em seres humanos e animais da região, alerta um estudo divulgado nesta quinta-feira (9) pela revista Science.

A pesquisa, realizada por cientistas americanos e canadenses, indicou que as mudanças físicas, incluindo a elevação da temperatura do ar e da água marinha, assim como a redução da cobertura sazonal do gelo, parecem ser a causa de uma modificação biológica no ecossistema do Mar de Bering.

Esse mar, que separa a América da Ásia, é o “habitat” de grandes populações de aves marinhas, baleias cinzentas, focas e lobos marinhos. Estes animais se alimentam de criaturas que habitam o fundo do mar, acostumadas à temperatura fria da água e à cobertura de gelo.

“Está ocorrendo uma mudança das condições árticas a subárticas no norte do Mar de Bering”, afirmaram os cientistas no estudo. Eles acrescentaram que a modificação do “habitat” parece favorecer algumas espécies de peixes e outros animais que até agora habitavam zonas mais meridionais, com águas mais quentes.

Como resultado, estas podem se deslocar rumo ao norte e se afastar assim das comunidades pequenas e nativas que habitam as zonas costeiras do Mar de Bering e que dependem desses animais para sobreviver.

“Estamos presenciando uma mudança nas condições físicas que causa uma modificação nos ecossistemas”, observou Jackie Grebmeir, pesquisadora da Universidade do Tennessee e uma das autoras do estudo.

James Overland, oceanógrafo de NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, disse que, embora as mudanças não sejam uniformes no Mar de Bering, estão todas vinculadas à natureza do gelo marinho. “Tanto no norte do Mar de Bering como no sudeste o ecossistema está mudando”, alertou.

O cientista explicou que, no sudeste, as mudanças na população de peixes se relacionam com uma perda total do gelo marinho. No norte, no entanto, as mudanças ecológicas ocorreram devido a modificações na qualidade do gelo. “Ali o gelo se quebrou e é muito mais fino do que costumava ser”, explicou.

O estudo indicou que as mudanças na extensão e na espessura da camada de gelo foram confirmadas por observações de satélites e outras medições. Essas observações assinalaram as mudanças na população de peixes, incluindo a aparição mais ao norte do salmão rosado, em rios que desembocam no Oceano Ártico.

“O que estamos vendo é uma mudança nos limites entre ecossistemas árticos e subárticos. Existe uma possibilidade real de esta mudança dar sinais muito mais ao norte”, opinou Gregmeier.

No entanto, Overland esclareceu que será necessário continuar vigiando a região para determinar o alcance e o potencial das mudanças. “É preciso observar os indicadores tanto físicos como biológicos nos próximos anos para confirmar a persistência destas mudanças no contexto da variabilidade natural”, explicou. (Efe/ Estadão Online)