A destinação dos rejeitos nucleares e radioativos é apontada como falha, no relatório do grupo de trabalho que investigou a segurança nas instalações nucleares e radiativas no país, pois os depósitos são provisórios. Segundo o levantamento do grupo de trabalho de Segurança Nuclear da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, só existe um depósito definitivo no país, o de Abadia de Goiânia (GO), cidade da região metropolitana da capital goiana.
Nele está depositado o lixo radioativo transportado da Avenida Paranaíba, no Setor Central de Goiânia, onde em 1987 ocorreu o maior acidente radioativo do país. Foi quando catadores de papel encontraram uma bomba de césio 137, usada num equipamento radiológico de uma clínica desativada. Cerca de 300 pessoas foram contaminadas, em diferentes graus, pela fonte radioativa manipulada pelos catadores e por donos de ferros velhos que compraram partes da fonte.
O controle de fontes radioativas também foi considerado falho pelos deputados. “Os profissionais ligados à Associação dos Fiscais em Energia Nuclear, que nos ajudaram voluntariamente com informações valiosas, nos deram conta de que não confiam no banco de dados que a CNEN opera. Eles disseram que o banco de dados é desatualizado e não dá a verdadeira dimensão de quantas fontes são e de onde estão”, disse o relator, deputado Edson Duarte (PV-BA). Sabe-se que no país existem, pelo menos, 50 mil fontes radioativas, empregadas nas áreas de medicina, indústria e pesquisa. “Mas o responsável da CNEN por este serviço não soube precisar se realmente eram 50 mil”, acrescentou.
O deputado aponta em seu relatório, que o Tribunal de Contas da União, ao realizar auditoria de desempenho nas atividades de radioproteção e segurança nuclear da CNEN, em 2000, constatou que as informações do banco de dados estavam desatualizadas e incompletas. Cerca de 20% das instalações não operavam mais fontes radioativas e 10% delas estavam com endereço errado.
Outro problema apontado por Duarte em seu relatório é o fato de não haver planos de emergência para atuar diante de acidentes nucleares ou radioativos. “O Brasil mostrou que não aprendeu a lição com Goiânia”, observou.
O deputado registrou ainda que, no caso das usinas de Angra 1 e 2 foi reduzido há altuns anos o raio de segurança e proteção, de 15 quilômetros para 5 quilômetros, sem que a população recebesse esclarecimentos quanto à decisão. “Não tivemos da Eletronuclear, que opera as usinas, uma explicação convincente. É um contrasenso. No mundo inteiro, principalmente depois de Chernobyl, há uma tendência de aumentar o raio de atuação de planos de emergência”, relatou Duarte, citando o acidente ocorrido na Ucrânia, considerado um dois piores no mundo. (Lana Cristina/ Agência Brasil)