Roraima terá usina de biocombustível em 2007

Uma planta considerada por muitos agricultores como “praga”, por ser invasora de pastagens, poderá ajudar na geração de energia elétrica para comunidades isoladas da Amazônia. Trata-se da Inajá (Maximiliana maripa), uma palmeira da Amazônia, que terá seu óleo aproveitado para operação em uma usina de biocombustível para geração de energia, que será implantada em Roraima, em março de 2007.

A usina será implantada como resultado de uma parceria entre a Embrapa Roraima, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o IME – Instituto Militar de Engenharia. A ação faz parte de um projeto piloto do IME para geração de energia com oleaginosas da Amazônia em comunidades isoladas de fronteira, que conta com recursos da FINEP e MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia. Inicialmente a usina vai operar com óleo in natura de inajá, mas é possível que se façam testes com óleos de outras plantas.

A princípio, a produção prevista para a usina de biocombustível em Roraima será de quatro mil litros de óleo refinado, por mês, o suficiente para atender uma comunidade de até quarenta famílias. A usina será instalada no Campo Experimental Serra da Prata, da Embrapa Roraima, em Mucajaí (RR) e é composta por dois módulos. Um serve para extração de óleo e está sendo fabricado em São Paulo. O outro , projetado pelo IME, é para o refino do óleo e virá do Rio de Janeiro. Durante os meses de janeiro e fevereiro, serão encaminhadas as providências para transporte e montagem da usina que entra em operação no mês de março, segundo previsão do IME.

O engenheiro químico do IME, Luiz Eduardo Pizarro Borges, assessor do projeto, informou que a usina em Roraima terá capacidade para até 16 mil litros por mês, mas o alcance desse potencial vai depender de vários fatores, como a disponibilidade de matéria-prima e o envolvimento da comunidade no processo. “É fundamental o envolvimento da comunidade para que ela perceba a geração de energia como possibilidade de geração de renda”, afirmou Luiz.

Um dos fatores para Roraima ter sido escolhida como projeto piloto para comunidades de fronteira foi, além da localização geográfica, a atuação da Embrapa na pesquisa com oleaginosas potenciais para biocombustíveis.

Dois pesquisadores da Embrapa Roraima trabalham nessa linha. O pesquisador Oscar José Smiderle estuda características agronômicas de plantas oleaginosas com potencial para biodiesel, enquanto o pesquisador Otoniel Ribeiro Duarte está concluindo o doutorado no Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia com uma pesquisa sobre o uso agroindustrial do Inajá.

De acordo com informações disponíveis na Embrapa Roraima, o Inajá é uma planta que tem suas sementes dispersas por diversos animais, resiste ao fogo e rebrota nos locais onde ocorrem queimadas para preparação de roçados ou plantio de pastos. As sementes de inajá fornecem alto teor de óleo. De acordo com os estudos já realizados, o inajá também apresenta potencial econômico para fabricação de ração animal para peixes, aves e suínos.

A geração de renda é um dos objetivos pretendidos pelo projeto de geração de energia em comunidades isoladas de fronteira. A coordenadora do projeto, Wilma de Araújo Gonzalez, química do Instituto Militar de Engenharia, explicou que o foco do projeto é contribuir para sustentabilidade de comunidades isoladas da Amazônia, a partir da geração de energia elétrica com o biocombustível como suporte para a geração de renda.

A intenção é aproveitar matérias primas disponíveis para a geração de energia usando o biocombustível e, junto com a organização da comunidade beneficiada, viabilizar o aproveitamento dessa oportunidade para melhorar a geração de renda local.

De acordo com a coordenadora, a estratégia é aplicar o conhecimento do IME em biocombustíveis e o conhecimento instalado na região norte em instituições como Embrapa e Fucapi – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica, aproveitando a logística do Exército brasileiro, por meio do Comando Militar da Amazônia, para contribuir com o desenvolvimento sustentável.

Experiência nesse sentido já vem sendo desenvolvida no Amazonas, em outro projeto que envolve a parceria IME e Embrapa e utiliza o dendê como matéria-prima para o biodiesel. Uma usina de produção de biodiesel de dendê foi implantada pelo IME e Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus-AM), no campo experimental Rio Urubu, município de Rio Preto da Eva (AM). Este é um projeto piloto para atendimento a comunidades isoladas e integra o Programa Luz para Todos, do Governo Federal.

A princípio, segundo a coordenadora do projeto e química do IME, Wilma Gonzalez, não há como afirmar se esses projetos serão ampliados para mais comunidades, pois tanto a usina do Amazonas quanto a de Roraima fazem parte de projetos-piloto que servirão para avaliação de uma série de questões sobre a gestão do processo de geração de energia para comunidades isoladas. A expectativa é que após um ano da implantação se alcancem respostas mais concretas sobre os resultados.

Na usina a ser implantada em parceria com a Embrapa Roraima (Boa Vista-RR), para usar o biocombustível a partir do óleo in natura refinado das sementes da palmeira de inajá será necessária a adaptação do motor do gerador de energia. Isso será feito com um kit já disponível no mercado. Nesse processo não será necessária a adição de álcool, que representaria um custo a mais para as comunidades de fronteira, conforme explicou Wilma.

Essa é uma diferença em relação ao projeto instalado no Amazonas, pois para usar o biodiesel do dendê não há necessidade de adaptação do motor. Outra diferença é que o processo de produção do biodiesel é mais complexo e inclui o álcool como insumo. “O IME tem experiência no desenvolvimento de combustíveis para diferentes processos e matérias-primas, resultado de pesquisas durante os últimos vinte anos”, afirmou Wilma Gonzalez. (Síglia Regina Souza/ Embrapa)