Para especialista, epidemia de dengue é a mais grave do Rio

O epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Sabroza, disse nesta quinta-feira, 27, em entrevista ao estadao.com.br que a epidemia de dengue vivida pelo Rio de Janeiro este ano é a mais grave de sua história. Entre os motivos enumerados pelo especialista para isto estão, não o número de casos, mas o alarmante número de mortes e a incidência de casos graves em crianças.

Segundo Sabroza, a dengue pode ser transmitida por dois tipos de vírus: 1 ou 2. Ele explica que a maior mortalidade do vírus de tipo 2, responsável por essa epidemia, decorre não da maior força de seu tipo em relação ao 1, mas do fato de ter sido reintroduzido em uma área que já teve uma primeira grande epidemia. “Acreditávamos que a imunidade parcial da população, que já passou por uma epidemia anterior, conteria o avanço da doença, mas mesmo assim temos uma nova epidemia”, disse.

“Há uma preocupação bastante grande com o futuro, para que o Rio não desenvolva o padrão do sudeste asiático”, acrescenta, explicando, como o verificado na Ásia, a cada reintrodução do vírus caem o número de casos (e sua dispersão) e crescem o de mortes.

Sabroza comentou que a gravidade dessa epidemia de 2008 decorre, também, do fato de que “apesar de toda a mobilização e de todo o grande esforço para conter a dengue, identificada pelos técnicos no início do segundo semestre de 2007, ainda assim não se conseguiu conter o avanço da doença.”

Contenção – O epidemiologista questionou, entretanto, a qualidade do trabalho de contenção da dengue em virtude do tipo de contratação adotada pelo governo. “Há um problema de qualidade na mobilização, os são funcionários terceirizados e, portanto, é difícil ter uma equipe treinada adequadamente”, disse.

Outro problema identificado por Sabroza nas ações para barrar a doença é a adoção do que chama de “ação extensiva”. Segundo ele, nesse tipo de abordagem há uma falta de suporte epidemiológico, que leva a uma ineficiência na ação. “Apesar desse tipo de abordagem ser consensualmente considerado correto pela imprensa e pela população em geral, o que acaba acontecendo é que não há um correto direcionamento dos esforços, de maneira que quaisquer que sejam os resultados a mesma ação é sempre empregada”, disse.

Para correção desse problema, Sabroza sugere a mudança do modelo de controle, introduzindo a orientação de especialistas no direcionamento das ações. Como exemplo disso, ele cita a direcionamento da eliminação de focos criadores do mosquito. Os chamados micro-criadores (latas, vasos e pequenos recipientes) foco principal das campanhas até o momento, criam uma ou duas larvas por vez, apenas. Já os macro-criadores (grandes recipientes, como caixas d’água abertas), de difícil acesso, criam grande número de fêmeas do mosquito e podem contaminar um bairro inteiro. Ele explica que para conseguir atingir e eliminar esses macro-criadores é necessária uma busca específica feita por especialistas, que não tem sido feita devido ao tipo de abordagem adotado até o momento.

Futuro – O especialista acrescentou ainda que não acredita que a epidemia possa se agravar no Rio de Janeiro, mas alertou para a grande possibilidade de surtos em outras regiões do estado e de todo país. “Acredito que até meados de abril a doença deva estar se enfraquecendo na cidade, devido à sua sazonalidade (a dengue se prolifera, juntamente com seu vetor, nos meses mais quentes do ano). No entanto, é importante dar atenção a cidades como Manaus e Fortaleza, de clima quente o ano todo, que já começam um processo de reintrodução do vírus de tipo 2.” (Estadão Online)