O Ibama manteve, por exemplo, a exigência da construção de um novo depósito para armazenar os resíduos nucleares que serão produzidos pela usina. Mas tanto os termos do documento quanto o discurso de Messias mostram uma certa flexibilidade com relação à licença prévia, que foi liberada pelo órgão no ano passado. Se naquela época falava-se em uma solução definitiva para os rejeitos, a licença de instalação fala em depósitos de longo prazo.
Messias explicou que, na prática, o Ibama mantém a exigência da solução definitiva, mas disse que, dependendo do andamento da busca por tecnologias para reutilização do lixo atômico, o Ibama poderá aceitar uma solução que não torne o lixo inacessível. Ou seja, que possibilite que ele seja reutilizado no futuro.
Na época da licença prévia, chegou-se a comentar que poderiam ser feitos depósitos subterrâneos em cavernas profundas. Messias ponderou, entretanto, que esse tipo de solução, que tornaria o resíduo inacessível, não seria interessante no caso de uma eventual reutilização do lixo. “É como uma laranja que você já utilizou. Se você pode espremê-la um pouco mais para tirar mais suco, não vale a pena jogá-la fora”, disse.
Messias lembrou ainda que a solução para os resíduos deverá ser apresentada apenas daqui a cinco anos, quando a obra estiver prestes a ser concluída e a Eletronuclear solicitar ao Ibama a licença de operação da usina. “Nesses cinco anos, deveremos ter uma avaliação mais clara sobre o que é uma solução de longo prazo e o que é uma solução definitiva”, disse.
O Ibama solicitou, entretanto, na licença de instalação, que a Eletronuclear apresente, em até seis meses, o cronograma técnico-financeiro e de execução do depósito de longo prazo para os combustíveis, que terá de ser homologado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
A técnica do Ibama responsável pela área nuclear, a física Sandra Cecília Miano, explicou que o esboço desse depósito já foi mostrado ao Ibama. Segundo ela, tratam-se de depósitos formados por tubos secos que receberiam os resíduos depois que eles passarem por um período de resfriamento em piscinas (o que varia de 20 a 30 anos), que é inclusive o estágio que se encontram hoje os dejetos das usinas de Angra 1 e 2.
Segundo ela, a ideia é que esses tubos secos, cujo local de instalação ainda será escolhido e aprovado pela CNEN, recebam tanto os resíduos resfriados de Angra 3 quanto os primeiros dejetos de Angra 1 e 2, que já poderão começar a ser retirados das piscinas.
De acordo com o Ibama, o depósito não necessariamente precisa ficar no mesmo lugar das usinas, mas sua construção exigirá um licenciamento próprio. Sandra explicou que, de acordo com padrões internacionais, esses tubos secos podem armazenar os resíduos por um período que vai de 500 a 1.000 anos.
A licença liberada hoje pelo Ibama tem outras exigências, como as relativas à garantia de melhorias na segurança do tráfego da BR-101, rodovia que passa ao lado do parque nuclear, onde já estão Angra 1 e 2 e onde será feita Angra 3. (Fonte: Leonardo Goy/ Estadão Online)